Blog do Pedro Hauck: Escalando o Três Cruces Central - 11a montanha mais alta dos Andes

19 de junho de 2015

Escalando o Três Cruces Central - 11a montanha mais alta dos Andes

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Na escola de guias de Mendoza há exigências curriculares para se ingressar no módulo mais avançado de guias de montanha e por isso estávamos ajudando no guia Edu Tonetti com estas exigências. Como já estávamos aclimatados de expedições anteriores, fomos fazer uma "rapidinha" no maciço dos Três Cruces, onde ficam o cume Central (décimo primeiro mais alto dos Andes) e o Sul (o quinto)!

O acesso se dá por um caminho 4x4 que chega até os 5500 metros, que vencemos com muita perícia em meu jipe. Foi só quando colocamos a mochila nas costas que percebo um saco de dormir sobressalente no porta malas na cor exata do meu que peguei por engano.... oops.

Assim, com a mochila leve, começamos a caminhada de aproximação rumo ao acampamento alto da montanha que fica a quase 6 mil metros de altitude, numa pernada cansativa de cerca de 5 horas que há havia feito anteriormente com Waldemar Niclevicz em 2013 quando fizemos o cume Sul.

Naquela ocasião a montanha estava muito nevada e havia o mistério do desaparecimento do montanhista argentino Ricardo Córdoba. Havíamos acampado ao lado de sua barraca abandonada e fomos os primeiros a fazer cume na montanha e verificar que não havia sua assinatura no livro deixado pela expedição patrocinada pelo Banco do Chile. Ou seja, Ricardo Córboda não fez cume. Nunca acharam seu corpo...

Chegamos meio cansados ao campo alto da montanha, que fica no meio entre o cume Sul e Central num local plano ao lado de um lago. Deu tempo de montar a barraca, que diga-se de passagem é um protótipo que está sendo testado para vendermos na nossa loja, pegar agua, comer e dormir.

Foi uma noite gelada. Saímos de madrugada com a barraca toda congelada e não demorou para que parte de nossas roupas também ficasse naquele estado.

Estava muito escuro e confuso, me guiava somente pelo tracklog de GPS obtido pela ascensão solitário do Maximo realizada no ano de 2011. Mesmo com estes percalços, avançávamos bem, pois parar resultava em passar muito frio. Aliás era o que acontecia nas poucas paradas que fazíamos para nos hidratar. Que noite fria!!

O amanhecer não finalizou nosso sofrimento com a temperatura, pelo menos até o sol se firmar no horizonte. Quando isso aconteceu já estávamos num local bem alto, na base de uma parede de gelo com inclinação médiana. Não haveria problema algum, a não ser pelo fato de que não estávamos levando crampons!

Fiquei desanimado na hora, mas não baixei a cabeça e comecei a desenhar um caminho no gelo por locais mais ondulados. Chutava o gelo e construía plataformas  para ficar em pé e quando esboçava um escorregão meu coração parava na boca, que se secava no exato momento produzindo uma situação extremamente desagradável. Porque não trouxe o crampon?? Mania maldita de ser minimalista....

O Edu no começo ficou só olhando. Nitidamente reprovando minha atitude, mas depois, vendo meu progresso veio seguindo minhas pegadas. No fim da rampa, parei numa pedra para esperar meu parceiro, eis que neste momento percebo que o GPS que carregava, emprestado do Maximo, não estava mais comigo. Ele havia caído!!!

Foi uma sensação péssima. Você se mata para trabalhar e perde um equipamento que pode custar um bom valor de seus ganhos. Que raiva!!!

Comuniquei a perda ao Edu assim que ele chegou, mas ele estava cansado demais para solidarizar com meu azar. Sem lamentar continuamos subindo uma rampa que foi o trecho final da ascensão, muito mais fácil que anterior, chegamos até que rápido ao cume, que é uma crista meio circular de pedras onde é difícil saber qual é o ponto mais alto.
Demos uma caminhada pela crista, procurando a caixa de cume do Banco do Chile, existente em todos os 6 mil chilenos, mas não encontramos. Joguei as cinzas do Parofes, fiz fotos e começamos a descida.

Na base da rampa de gelo comecei a procurar o GPS do Maximo ,fazendo uma operação pente fino com o Edu. Para minha felicidade acabamos encontrando o aparelho!

Na volta ao acampamento, tive tempo apenas de comer qq porcaria, pegar as coisas e vazar, sozinho. É que o Edu ainda ia fazer o cume Sul do dia seguinte e eu tinha voltar para ajudar o grupo.

A descida foi rápida e logo pude ir até o refúgio Laguna Verde me reunir com o resto do grupo e comemorar, afinal foi minha trigésima primeira montanha de 6 mil metros e com ela acabei de tornando o brasileiro com mais montanhas desta altitude nos Andes no curriculum.

:: Continua.

Começo da caminhada no Três Cruces, 5500 metros, até onde o jipe vai.

Acampamento avaçado, mais alto que o Cerro Plata e com um laguinho ao fundo.

Vista para o 3 Cruces Central do Acampamento alto.

Tres Cruces Sul ao fundo visto da subida do Central pela manhã. 

Rampa de gelo perto do cume.

Edu subindo a rampa de gelo.

Edu no último trecho antes do cume e o cume Sul ao fundo.

Vista para outro cume do Maciço do Três Cruces com lago no cume.

Eu comemorando a subida ao Três Cruces com o Cume Sul ao fundo.

Edu Tonetti no cume do Três Cruces Central.

O Cume estreito e rochoso do Nevado Três Cruces Central.

Deixando as cinzas do Parofes

Parofito no cume.

Parofito no cume do Três Cruces Central.

Vista do cume do Três Cruces Central para o Norte.

Pedro Hauck e Edu Tonetti.

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