Blog do Pedro Hauck: De Copiapó à Puna de Atacama

15 de junho de 2015

De Copiapó à Puna de Atacama


Depois de dirigir cerca de 1500 km de Mendoza, na Argentina, até Copiapó no Chile, mal tivemos tempo de descansar. Logo na primeira noite fazer a compra gigantesca para o grupo. Comida e outras coisas mais. Eu odeio ir ao supermercado e fazer compras para expedição é ainda pior, pois você tem a missão de não esquecer nada, já que a falta de algo lá em cima pode ter consequências inesperadas. 

Fomos os primeiros a chegar, seguidos do Diego Calabro, o "Coco", nosso guia importado de Córdoba, super escalador, super animado, um figuraça. O cara local era o Daniel Alfaro e para completar tínhamos além do Edu Tonetti, o super guia Javier Callupan da Patagônia, que chegou no Atacama a bordo de sua super caminhonete "Pantera Negra".  No total 4 veículos 4x4.

Os clientes eram quase todos brasileiros, com exceção de Gustavo Uria da Argentina e Petru Rares Voda da Hungria. O resto era de vários estados do Brasil, alguns deles velhos conhecidos e já amigos nossos, como Alexandre Sanfurgo , Manolo Svicero, Ricardo Cordeiro e Emiliano Araújo, que já fizeram vários roteiros e cursos conosco e que são de São Paulo. Paulinha Kapp, gaúcha que mora no Rio e um pessoal muito animado de Santa Catarina, o Joair Bertola e Alexandre Danioti, além de Bruno Audi Carrara e Márcio Pelloso de Marília, no interior de SP que estavam pela primeira vez indo em uma expedição nossa, uma super expedição.

Após a primeira noite em Copiapó, uma cidade que praticamente vive da mineração e que ainda não despertou para a beleza da paisagem desértica da Puna, nos dirigimos em comboio para a altitude, admirando a paisagem, bebendo muita água e vez ou outra parando para regar alguma moita. Nesta forma, sem muita pressa e curtindo bastante o caminho por uma estrada secundária mais preservada que a estrada internacional, fomos parar no Parque Nacional dos Três Cruces, ao lado de um lago salgado chamado de Laguna Santa Rosa onde há um pequeno refúgio que serviu de cozinha para servirmos jantar para todo este batalhão de montanhistas.

Nem todos, no entanto, ficaram muito à vontade. O Bruno Audi não conseguiu curtir o jantar e as estrelas cintilantes que pintavam o céu negro dos Andes, e acabou botando tudo pra fora. Altitude é fogo! Aclimatar exige paciência e também observação.

Apesar da boa estrutura, aquele lugar é quase selvagem. Avisamos todos sobre os animais que costumam visitar as barracas a noite. Dentre eles as raposas, chamadas de "zorros" no Chile. Animais muito inteligentes e ladrõezinhos. Nunca deixe nada fácil para eles e você perderá. Ricardo Cordeiro que o diga. Ele deixou um chocolate no bolso da barrigueira da mochila e a raposa roeu o tecido e levou a guloseima, deixando o preju e a história. Cuidado! Mas nem tudo é ruim. Os flamingos, graciosos, se exibiam para as câmeras e foi uma questão de tempo até aparecer um condor.

No dia seguinte, enquanto o grupo foi fazer uma caminhada de aclimatação no Vulcão Siete Hermanos, fiquei incumbido de levar nosso guia Edu Tonetti na base dos Vulcões Três Cruces, que dão nome àquele parque nacional. Trata-se somente da quinta e da décima primeira montanha mais alta dos Andes, o cume Sul e o Central. A missão dele era ajudar a gente na guiada do Ojos, mas também fazer vários cumes de 6 mil metros para poder realizar um módulo avançado da escola de guias de montanha de Mendoza, onde ele é formado numa espécie de curso universitário de montanhismo.

Como eu conhecia o caminho, pois fiz o cume Sul com o Waldemar Niclevicz em 2013, acabei assumindo a missão de fazer essa movida 4x4. Mas a possibilidade de fazer mais um 6 mil ainda inédito pra mim falou mais forte e pedi permissão para o Maximo para acompanha-lo no cume Central.

Como estava aclimatado, tive a licença de me ausentar da expedição e com isso fui junto com Edu até a base da montanha. Se eu fizesse este cume, seria meu 31 cume de 6 mil metros, seria o desempate com meu amigo Waldemar Niclevicz, com quem dividia o privilégio de ser o brasileiro com maior numero de montanha de 6 mil metros andinas no curriculum. Digo andinas, pois o Waldemar tem muito mais experiência do que eu, pois ele já subiu muitas outras montanhas mais altas em outros locais do mundo. De qualquer forma era uma realização pessoal bastante importante para mim. E lá fomos nós...

Grupo do Ojos del Salado 2015.
Avistando a Laguna Santa Rosa e os Três Cruces.

Jipe carregado.
Acampamento na Lagunda Santa Rosa e o Vulcão Siete Hermanos ao fundo.

Laguna Santa Rosa e os flamingos (bem pequenos).

Três Cruces Central (no centro) e Sul, direita.
:: Continua

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