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A sierra nevada de Cachi é um cordão montanhoso com diversos cumes e três montanhas de 6 mil metros, sendo que o Cume Libertador San Martin é o mais alto de todos. Estas montanhas são diferentes das demais da Provincia de Salta, pois enquanto as outras (de seis mil) são coesões que despontam ao meio do altiplano da Puna, a Sierra de Cachi é um sistema montanhoso não vulcânico, formado por dobras e falhas de rochas que se elevaram até estas grandes alturas, que é um bloqueio natural que barra a pouca umidade do ar do Chaco e dá condições para que nesta região haja alguma vegetação.
Da mesma forma que estas montanhas são
distintas em suas formas, ela é distinta em sua escalada. Enquanto nas
montanhas da Puna o acesso é facilitado pelo relevo aplainado, aqui ele é mais
complicado, com aproximação feita à pé e um desnível topográfico maior (3 mil
metros).
Nosso primeiro dia na montanha foi uma
caminhada de 14 km, entre o local onde deixamos a Andina, há 3300 metros e
nosso primeiro acampamento, a 4750, num local chamado de “Isla de Piedra”. A
caminhada foi tranquila, sem grandes problemas, apesar do desnível e a
distância, fizemos o percurso em 7 horas.
No caminho pudemos perceber como esta
região é especial. A montanha é belíssima, com muita vida selvagem. Vimos em
quantidade diversos Condores planando pelo céu (sim, condores imperiais, com
colarinho branco e crista vermelha na cabeça, impressionante!), bandos de
Guanacos e Vizcachas.
No dia seguinte caminhamos os 5 km
restantes para o anfiteatro Khun, um acampamento localizado há 5250 m e
circulado por montanhas. Ali seria nosso acampamento mais avançado. Neste dia,
pegamos um tempo bom pela manhã e como está ocorrendo aqui todos os dias,
pegamos uma nevágua no fim da tarde.
À noite, quando já estávamos nos retirando
para dormir, ocorreu uma grande tormenta elétrica e se desarmou uma enorme
tempestade que precipitou mais de 5 cm de neve no acampamento, deixando a
paisagem toda branca.
Ficamos preocupados, pois nosso plano era
acordar cedo para atacar o cume. À 1 da madrugada despertamos para nosso
ataque, mas havia muita nuvem ainda. Esperamos até as 2 horas, quando algumas
estrelas apareceram e o Waldemar achou que valeria a pena fazer o ataque.
Saímos da barraca às 3 da madrugada,
caminhando rápido em direção à uma grande parede de rochas soltas que dá acesso
à um mundo totalmente diferente do vale, o mundo da altitude.
O Waldemar foi achando o caminho no meio
dos “acarreos” e em 1 hora e meia chegamos ao topo do anfiteatro. Dali em
diante eu fui na frente navegando às cegas (por conta da escuridão) com o GPS e
o tracklog que o Maximo nos forneceu.
Foi neste momento que o dia clareou e
pudemos ver a Sierra de Cachi inteira nevada, uma paisagem que até os locais
devem ter visto poucas vezes na vida. O visual era maravilhoso, a neve da
tormenta do dia anterior havia deixado todos os cumes brancos e a montanha mais
“montanha”.
Abrindo caminho na neve, costeamos o cume
do monte Hoygaard e chegamos numa grande crista, cheia de pequenos cumes, que
liga aquele monte ao cume Libertador San Martin, looooge dali.
Sem desanimar e perder tempo, fomos
buscando os melhores locais para chegar ao San Martin, subindo e descendo
diversos topinhos, que foram muito cansativos, dado que tal crista fica a mais
de 6 mil metros de altitude. Calculo que caminhamos 5 km acima desta altitude.
Cada vez que a gente chegava em um destes
topinhos, percebíamos que haviam mais e mais topinhos. Para piorar, a maior
subida era a final, que dava acesso ao cume do Libertador.
Chegamos no cume por volta das 10:45 e lá
encontramos a caixa com o livro, onde a ultima assinatura era de nosso amigo
Maximo Kausch, que sozinho passou por ali para fazer uma travessia incluindo
outras 2 montanhas. Encontramos um busto do General San Martin, e uma cruz
marcando o cume. Comemoramos bastante!
Apesar de rápidos, nos cansamos bastante na
ascensão. O próprio Waldemar disse que não esperava tanto desta montanha. Não
foi uma ascensão técnica, mas foi bastante difícil em termos físicos,
principalmente por conta da nevasca.
Na descida eu fiquei pra trás, mas às 15:
30 já estávamos de volta ao acampamento, onde a Sílvia nos esperava. Foram 13
km de caminhada ida e volta.
Esta montanha foi bem especial, não se
trata de um cume fácil e acessível, como foi o Tuzgle. Esta foi uma escalada
muito bela e desafiadora e acho que mandamos muito bem, fazendo este cume
apenas 8 dias depois de quando saímos de Curitiba.
Sem dúvida foi um grande presente de natal.
Tanto eu quanto o Waldemar fomos bons meninos neste ano e ganhar este cume de
presente (no dia 24 de Dezembro) foi uma compensação.
Estrada em Las Pailas, acesso ao Nevado Cachi
A Andina com o Nevado Cachi ao fundo.
Comeco da Caminhada em Las Pailas
Mochila cheia de equipos na aproximacao
Subindo para o primeiro acampamento.
Silvia e Waldemar na trilha
Jantar do primeiro dia.
Mocó onde dormi na primeira noite.
Primeiro acampamento a 4700 mts de altitude.
Mochila com tudo.
Vista do vale para cima, onde ja aparece no centro da imagem o Nevado Hoygaard
Acampamento a 5250 mts com o tempo comecando a piorar.
Grande nevasca na vespera do ataque ao cume.
O amanhecer durante o ataque ao cume.
Nevado del Quemado todo branco de neve ao fundo.
Waldemar costeando o Hoygaard
Waldemar abrindo caminho.
Eu apontando para onde é o cume do Libertador San Martin
Muita neve no caminho, cena rara.
Trilha que abrimos na neve.
Rumo ao esporao final.
Tem ateh cornija nesta neve!
Cume!!!
Cume!!!
Vista para o Quemado ao norte.
Eu no cume
San Martin é corinthiano!!!
Waldemar Niclevicz e eu no cume da montanha!
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::Veja o tracklog do Nevado Cachi no Rumos: Navegação em Montanhas!
Waldemar Niclevicz e eu no cume da montanha!
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