_Hola es de Carabineros de Chile?
_Si
_ Bueno, me gustaria saber si el Paso San Franscisco está abierto?
_ No
_ No?! Y poderian decir me cuando se vá abrir?
_ No sé.
_ Hay algun prognostico de cuando poderá estar abierto? Hace 2 semanas que el tiempo está perfecto, no hay viento y hay sol? No es posible que se tarde tanto para abrir la ruta.
_ No huevon! El Paso está cerrado y no hay prognostico de cuando se va abrir.
Foi mais ou menos essa a conversa que Maximo teve com a autoridade policial chilena na fronteira com a Argentina. Gastamos crédito do telefone satelital apenas para passar raiva.
O Paso San Francisco, uma das poucas fronteiras no norte da Argentina e Chile estava fechado de novo e por nossa experiência anterior sabíamos que para fechar é rápido, mas para abrir demora muito tempo, mesmo que não tenha neve na estrada, a mesma fica fechada por total desinteresse das autoridades em habilitar o passo. Como seria possível que durante o tempo de espera para abertura desta fronteira a gente tinha escalado 3 montanhas acima dos 6 mil metros e na parte mais baixa, numa estrada de asfalto a gente não podia passar? Mais um paradoxo desta fronteira.
O fato é que há alguns anos, tanto no lado argentino quanto chileno cada vez mais há restrições para a prática do montanhismo. Isso porque a estrada internacional é chamada de “Ruta de los 6 mil” pois há umas 20 montanhas acima desta altitude ao longo dela. E pior é que estas proibições são veladas. Elas ocorrem porque as regras são absurdas e impossibilitam ou dificultam nosso acesso. Regras como por exemplo a proibição de atravessar a fronteira com combustível extra, sendo que as montanhas ficam 300 km longe de qualquer posto de gasolina. Entre outras coisas. Ainda nesta expedição já havíamos sofrido com estas regras absurdas e agora, de novo?
O que nos restava fazer?
Como estávamos com pouco combustível, talvez pudêssemos descer até Copiapó, carregar o carro e procurar outra montanha para escalar. No entanto estávamos sem dinheiro chileno e estávamos com plano de escalar uma montanha na Argentina que havíamos descoberto ser a montanha mais alta dos Andes ainda sem ascensões e sem nome. Também já estava fazendo quase 2 meses que estava viajando e não podia mais perder tempo esperando. O tempo estava perfeito há duas semanas. O que as autoridades esperavam? O tempo fechar?
Tudo o que podíamos fazer para esperar era escalar algo no caminho, algo que não desviasse do caminho e assim não gastasse combustível. Eis que surgiu a idéia de escalar outra montanha virgem do outro lado da Laguna Bayo em frente ao Sierra Nevada. Esta montanha ficava no meio do caminho de volta, não tinha nome e quando conversamos com nossos amigos dos clubes de montanha de Copiapó, eles também nos informaram que não havia ascensões.
Juntamos todas nossas tralhas e jogamos dentro dos carros. Como era de manhã, tivemos dificuldade em fazer o carro pegar, Diesel no frio é complicado. No entanto foi esquentar o motor para começar a descer, costear o lago salgado e em pouco tempo chegar em um local para estacionar novamente na encosta do vulcão sem nome. Pelo GPS dava para ver que estávamos somente 700 metros de desnível do cume.
Nem foi preciso bota dupla e nem muita roupa. Por sorte estávamos na face protegida do vento, mas por azar a encosta do vulcão era coalhada de “acarreo”, rochas vulcânicas soltas. Cada passo para cima eram dois para baixo, mas como a altitude não era muito elevada e estávamos bem aclimatados, o esforço físico não foi tão forte e fomos progredindo rapidamente, apesar do meu cansaço acumulado de 2 meses de expedição.
Jovani e Maximo foram na frente e eu fui atrás envolto em pensamentos. Será que vão abrir a fronteira? Será que teremos que voltar a Copiapó e dar uma volta de 2 mil quilômetros para voltar para casa? Será que por conta do fechamento da fronteira vamos perder a oportunidade de escalar a montanha virgem mais alta dos Andes? Muitas dúvidas e muita raiva das autoridades que não conseguiam, ou nem tentavam tirar a neve da estrada.
Num determinado momento chegamos a um falso cume. Lá ficamos expostos a um vento que quase me derrubou ao chão. Entre um rochedo e outro havia um canal que concentrava o vento e ele ficava fortíssimo. Uma pena que não dá para tirar foto de vento, pois foi impressionante a força do mesmo.
Dali subimos uma rampa de neve e chegamos num cume, 5079 metros de altitude, onde obviamente ventava muito. No entanto dali pudemos ver que no norte havia um cume maior. Caminhamos por uma crista e chegamos neste cume mais alto, onde achamos uma “pirca” que não sei dizer se seria inca ou não. O visual era incrível. Todas as montanhas que escalamos nas ultimas semanas em nossa frente, algumas delas inclusive que nós demos nomes e a maioria com uma história incerta de ascensões. Talvez seja a ultima vez na minha vida que eu olhe para elas, pois é tão perigoso este local, tão difícil de chegar, que não tenho planos de retornar mais ali, por mais que o Tridente e o León Muerto sejam montanhas que despertam meu interesse em escala-las.
Descemos mais rápido do que subimos e apenas 3 horas depois que deixamos os carros para trás já estávamos ali de novo. Escalamos uma montanha sem nome com 700 metros de desnivel e descemos em apenas 3 horas. Aliás, qual o nome da montanha? Uhm, vamos pensar.
_ Já sei! Que tal “Paso Cerrado”?
Todos riram e concordaram com a “homenagem” ao Paso San Francisco e sua condição de estar sempre inabilitado.
Retornamos boa parte do caminho o qual tivemos grande dificuldade de percorrer na ida. Em dois dias a neve tinha derretido bastante e ficou mais fácil. No entanto, ao invés de retornar à civilização, subimos o vale do rio Juncalito e fomos parar na nascente deste rio, onde tivemos a surpresa de ver que ele nasce quente. Ali há algumas construções e era um local aconchegante para passar uma noite.
Tomamos banho nas águas termais, o que foi ótimo. A gente até tinha uma peça de carne de porco na geladeira do carro e fizemos um churrasquinho regado do resto de vinho Gato Cabernet Sauvignon. Aquela choupana que diziam ser a terma se tornou o local mais confortável em semanas e fomos felizes por algum tempo, esquecendo o “Paso Cerrado”, achando que ele pudesse abrir no dia seguinte, o que não aconteceu...
:: Continua...
:: Continua...
Vulcão Paso Cerrado visto da aproximação do Sierra Nevada |
Local onde deixamos os carros para subir o Paso Cerrado |
Sierra Nevada vista do Paso Cerrado |
Olhando para o falso cume do Paso Cerrado |
Maximo e Jovani perto da canaleta de vento do Paso Cerrado |
Vista para o cume mais alto desde o falso cume. |
Vista para Lagunas Bravas, vulcão de mesmo nome (esquerda) Lomas Coloradas (centro) e na direita parte do León Muerto. |
Esquerda, montanha sem nome, centro, vulcão Lagunas Bravas |
Vulcão sem nome que escalamos anteriormente. |
Jovani e Maximo no cume do Paso Cerrado. |
Jovani e Maximo no cume do Paso Cerrado. |
Jovani e Maximo no cume do Paso Cerrado. |
Jovani e Maximo no cume do Paso Cerrado. |
Eu e Maximo no cume do Paso Cerrado com Apacheta |
Termas do Juncalito. Um luxo. |