O Sierra Nevada é um vulcão gigante com uma dezenas de cumes acima dos 6 mil metros e uma das montanhas mais remotas de toda a cordilheira. Em 2014, Maximo descobriu que o cume que era tido como o mais alto e que inclusive era que havia recebido as poucas ascensões nesta montanha não era na verdade o mais alto. Em dezembro daquele ano, o argentino Guillermo Almaraz organizou uma expedição e pelo lado argentino escalou este cume que devido aos fatos explicados foi o ultimo 6 mil andino escalado.
Menos de um ano depois, estávamos na região e esta montanha era nosso objetivo. Pelo Google Earth Maximo havia planejado uma aproximação pelo lado chileno, atravessando o mesmo vale onde havíamos escalado várias montanhas virgens nesta viagem. Um lugar remoto e perigoso. Seria nossa chance, pois estávamos com dois carros e entrar ali sozinho é altamente desaconselhável.
No dia posterior ao que escalamos o Vulcão Patos, acordamos sem pressa e gastamos a manhã toda organizando nossos equipamentos no Refúgio Santa Rosa e assim somente à tarde pudemos partir rumo à montanha. Passamos pela aduana chilena do Paso San Francisco, Maricunga, e fomos nos informar se a mesma se encontrava aberta. O tempo estava perfeito e os chilenos que encontramos no refúgio nos dissera que por conta disso, o passo que havia fechado devido à tempestade de semanas antes iria abrir naquele dia, porém a resposta oficial foi outra. Sem previsão.
Saímos de Maricunga um pouco desorientados. Por um lado estávamos focados em escalar o Sierra Nevada, realizando ainda naquele dia sua difícil aproximação 4x4, mas por outro lado era difícil não pensar no "depois disso". Ficamos com medo de ao térmico desta montanha não conseguir atravessar a fronteira e assim começar nosso regresso ao Brasil.
Com este sentimento dirigimos pela estrada de terra que dá acesso à montanha. 40 km depois de Maricunga um desvio à direita leva até uma barragem e de lá começa um canyon por onde teríamos que dirigir por mais uns 20, num percurso cheio de travessias de rios que já estávamos craques de fazer. Andamos por este trecho sem problemas e no fim do vale ao invés de começar a subida até a Puna, decidimos, depois de 3 vezes lá, ir até uma terma no final do vale para conferir o local e fomos surpreendidos pela qualidade da construção no meio daquele local tão ermo.
Ali haviam duas casas, sendo que uma era um vestiário que tinha uma rampa até o lago de água quente e outra um refugio semi acabado. Ainda havia um casebre que funcionava uma cozinha. Achamos um ótimo local para descansar no retorno da escalada, mas não naquele dia. Deixamos a terma para trás e reiniciamos a longa aproximação 4x4 ao Sierra Nevada.
Subimos a rampa que saia do vale e logo ali enfrentamos a primeira mancha de neve, que foi facilmente desviada. Depois dali começa um trecho plano de deserto, que fizemos sem problemas. Este trecho termina numa estrada mineira abandonada que até então foi o local mais fácil de nossas odisseias por aquele local. Desta vez foi diferente.
Como esta estrada foi feita por uma moto niveladora, formou-se uma vala onde a neve se acumula e esta era a realidade. Em uma semana, não houve tempo suficiente da neve derreter e o local que era para ser o mais fácil se tornou o mais difícil de trafegar. Sem poder andar na estrada propriamente dita, tive que sair dela e andar no meio do nada desviando de todas as manchas de neve, o que nem sempre era fácil, pois a neve se acumula em baixadas e muitas vezes não enxergamos ela de longe. Diversas vezes tivemos que chegar até o limite de uma depressão para checar se poderíamos ou não atravessar.
Essa caça ao caminho, buscando maneiras de nos aproximar da montanha no meio do nada, nos deixou bastante irritados, pois um erro e nos levava a atolar o carro, exigindo perícia ao sair da neve.
Após passar por este trecho, começamos uma descida rumos ao fundo do salar Piedra Parada, onde começava o pior trecho em boas condições. Eu já estava tenso por ter passado tanto perrengue na melhor parte e entrei ali apreensivo. No entanto, como já havia passado ali outras vezes, a experiência em dirigir naquele terreno arenoso e cheio de pedras me fez achar os melhores caminhos de maneira mais fácil que nas vezes anteriores e isso adiantou nosso itinerário. No entanto, ao descer na beirada da Laguna Jilgero, me descuido um segundo e acabo atolando o carro numa areia movediça.
Você pode acreditar que areia movediça é coisa de desenho animado e seja um mito. Não é! Essa areia é na verdade um local onde ela nunca se comprime e fica sempre fofa, fazendo que o carro se afunde o tempo todo. Percebendo que esta areia era assim, eu nem tentei tirar o carro, pedi ao Jovani que me puxasse com o guincho, mas mesmo assim o carro afundava cada vez mais.
Calçando o carro com o tapete de borracha e usando o guincho, após muito esforço conseguimos tirar ele dali e recomeçar nosso caminho, claro que ainda mais tensos que o começo. E tensos como estávamos subimos o divisor de águas entre a laguna Jilgero e a Laguna Bayo, num lugar que além de ter areia e pedra, também tinha neve e era inclinado. Ou seja, se estava ruim, ficou pior.
Mas foi apenas passar por este local para começar a descida e nos aproximarmos do lado, que deveríamos bordejar e a partir da margem oposta a que estávamos iniciar uma ascensão rumo ao desconhecido lado chileno do Sierra Nevada. Apesar deste ser o único trecho inédito nesta aproximação, ele se mostrou mais amigável que o anterior, o que não significa fácil.
Ali entramos num vale formado por uma depressão entre duas dunas. O chão era encoberto de pedrinhas na superfície, mas abaixo delas havia a areia movediça molhada pelo derretimento da neve em ambos lados do vale. O carro afundava bastante, mas na reduzida prosseguia sem percalços. Ainda tivemos que cortar um manchão de neve e chegar no fim da linha, a apenas 4500 metros de altitude, baixo considerando que o cume está a 6137 metros.
:: Continua...
:: Continua...
Carro afundado na areia movediça |
Atolado |
Saindo com guincho |
Novamente no meio do nada |
Até onde conseguimos chegar |