Chegamos tarde à base do Sierra Nevada, que foi o local onde conseguimos chegar de carro nos 4500 metros de altitude. A ideia inicial seria acampar ali, porém o terreno irregular e o vento nos motivou a seguir adiante na esperança de achar algo melhor mais alto, mesmo que fosse 5 da tarde. Assim, como diz o Jorge Soto, nos “pirulitamos” montanha acima.
Com mochilas nas costas tivemos a dificuldade de andar sobre um terreno arenoso que estava molhado em sua subsuperfície por conta do derretimento da neve, o mesmo terreno que tivemos dificuldade de cruzar com os carros agora também gerava dificuldade à pé.
A caminhada pelo terreno inédito era íngreme. Havia muita subida e em alguns lugares ainda tinha manchas de neve. Apesar das dificuldades, o progresso foi rápido e quando a luz do sol estava se apaziguando, chegamos a um anfiteatro com chão plano bastante protegido pelo vento que se mostrou perfeito para um acampamento, numa altitude de 5200 metros.
A noite fria surgiu bela e não tardou para que a lua cheia iluminasse aquela paisagem marciana. Sem vento e com um jantar farto preparado pelo Maximo fomos dormir despreocupados, ainda mais que o vento desapareceu deixando seus ruivos apenas na memória e na paisagem o som do silêncio.
Acordamos com o clarear do dia e ainda no frio das sombras adentramos um vale cheio de neve ainda congelada da madrugada. Caminhamos juntos por um tempo, mas logo o melhor preparo do Maximo apareceu e ele foi abrindo caminho à frente. Fui com o Jovani num ritmo mais lento, mas sem percalços.
A rocha vulcânica local quando erodida formavam placas que dispostas nas ladeiras formavam vertentes mais sólidas e fáceis que os famigerados acarreos. Assim, mesmo com a altitude elevada, progredíamos sem muita dificuldade.
Pelo GPS descobrimos que o cume que se descortinava em nossa frente não era o mais alto, sendo mais um dos 14 acima dos 6 mil metros que existem neste complexo vulcânico. Chegamos até uma certa altura nele e o contornamos por sua vertente leste, protegidos do vento em uma ombreira que conformava um corredor recoberto por neve num ambiente melhor impossível, mesmo acima dos 5800 metros.
Contornando o cume secundário, saímos num platô elevado bastante nevado, onde ficamos desprotegidos de ventos brancos. Ali, Maximo me avisou qual era o cume verdadeiro pelo rádio. Não entendi direito, mas cerca de uma hora depois nos encontramos e tirei a dúvida. Subimos o pouco que faltava até o ponto culminante do Sierra Nevada e ali pude ver uma pequena pilha de pedras deixada pela única expedição que já esteve ali, cerca de 10 meses antes que nós.
De fato do cume mais alto é difícil perceber a diferença com o cume onde está o livro deixado pela expedição patrocinada pelo Banco do Chile na década passada, apenas 10 metros a menos, mas cerca de 2 km em linha reta dali.
No entanto não foi difícil reconhecer outros cumes ali perto. Primeiramente o Cume do Laudo, uma cratera vulcânica secundária do Sierra Nevada. Depois no horizonte vi o Cerro Colorados e Vallecitos, que foram primeiramente escaladas em 2006. No Leste, o Peinado, que junto com Waldemar Niclevicz fizemos a quarta ascensão absoluta em 2013. Ao lado dele o Condor, que teve sua primeira ascensão no não distante ano de 2003. Perto estavam o San Francisco e Incahuasi, Muerto, Ojos Del Salado e Três Cruces com o Vulcão Copiapó se destacando no horizonte.
Comemoramos esta escalada tão inusitada. Deixamos cinzas do Parofes, fizemos fotos e vídeos e começamos a descer sem pressa, chegando cedo no acampamento onde tivemos que fazer uma decisão. Maximo, ao chegar lá antes de nós, ligou para a aduana na fronteira para que pudéssemos planejar nosso futuro e ele foi informado que ela permaneça fechada. Ficamos muito putos com as autoridades chilenas que não conseguem em 2 semanas tirar neve da estrada e ficamos sem saber o que fazer.
Acabamos descendo até o carro, até por que estávamos com pouca comida. Tivemos que aplainar plataformas para armar as barracas, pois o terreno era irregular, e passar a noite ali sem muito o que fazer. Não tínhamos muito combustível, de forma que voltar à Copiapó seria arriscado. Pior que isso, voltar para a civilização e dar volta por outra fronteira seria mais caro e perderíamos a chance de escalar mais.