Poucas pessoas já ouviram falar do Quewar e confesso que só fiquei sabendo que esta montanha de 6154 metros de altitude existe há poucos anos atrás. A primeira vez que vi esta montanha foi em 2012 durante a
expedição Mundo Andino com o Waldemar Niclevicz em 2012. Depois em
2013 eu cogitei escalar ela com o Luiz Antoniutti, mas devido ao mal tempo, mal pudemos ver a montanha entre as nuvens. Finalmente agora em 2015 conseguimos tentar.
O acesso ao Quewar se dá do povoado de Santa Rosa de los Pastos Grandes, no meio da Puna. Dali há uma estradinha que penetra num vale que tem suas nascentes na base da montanha. É por este vale que se dá o acesso, um vale com muita água e vegetação que é um oásis no meio do deserto e que por isso é também um local com muita vida selvagem. Por conta destas característica, a aproximação e a escalada do Quewar foi muito prazerosa.
Saindo de Santa Rosa, o jipe consegue nos poupar uns sete quilômetros de caminhada, nos deixando num local onde o vale é todo ocupado pelas Vegas, uma vegetação campestre que floresce em vales úmidos nos Andes. Dali começamos à pé, pedindo licença às lhamas que pastavam livremente.
No primeiro dia caminhamos cerca de 6 quilômetros, até um vale protegido do vento. Sabíamos que aquele dia iria nevar à noite e de fato o tempo piorou à tarde. No dia seguinte, pudemos observar que o cume da montanha havia ficado branco, mas devido ao calor, a neve acabou derretendo rápido.
No segundo dia caminhamos mais uns 7 quilômetros. Apesar de amanhecer com tempo bom, ao logo do dia as nuvens foram fechando até que pegamos uma forte nevasca. No itinerário decidimos ir até mais próximo do cume, indo acampar num local há 5100 metros, aplainando uma plataforma para a barraca. O problema foi que ali já não havia água e tivemos que levar o precioso liquido na mochila por uns 3 ou 4 quilômetros.
Ao montar a barraca neste acampamento avançado, o tempo que já não estava bom piorou e nevou bastante à noite. Por sorte, a nevasca não avançou pela madrugada e quando acordamos às 4 da manhã para sair para o cume, o tempo estava limpo e não ventava, embora a paisagem estivesse pintada de branco.
Caminhamos cerca de uma hora com a luz da lua cheia, até que o sol pela manhã apareceu para aquecer o caminho e nos mostrar como a puna estava bonita de branco, espetáculo que não durou todo o dia.
Com o ganhar da altitude, a Maria foi perdendo o ritmo e fiquei incentivando-a a continuar. Acabamos indo mais devagar que o planejado e depois das 10 da manhã nuvens surgiram do leste e começaram a fechar o topo da montanha.
Já na parte final, entramos nas nuvens e continuamos nossa progressão. Como o tempo ali não é tão implacável, acabamos chegando num falso cume fora das nuvens que impediam nossa visão. Sorte por um lado, azar por outro, pois não tem nada mais chato numa montanha longa depositarmos nossas esperanças e forças para chegar num cume e descobrir que o cume verdadeiro fica mais adiante.
Surpresa, no entanto, foi encontrar ruínas incas quase no topo do cume verdadeiro, uma construção de pedras bastante arruinada pelo tempo que até escadas tinha. No cume do Quewar, não sei exatamente se nesta ruína, havia uma múmia inca. Profanadores de tumbas à busca de tesouros acabaram explodindo o local onde estava esta múmia a procura de ouro, e terminaram por destruir o patrimônio arqueológico.
No cume ainda pudemos ver as montanhas da região nevadas, como o Tuzgle, Acay, Cachi e outros, mas foi um fenômeno que durou pouco e no regresso ao acampamento toda aquela neve já havia derretido pelo calor do verão.
O Quewar foi uma grata surpresa, uma montanha bela, acessível, com história e riqueza arqueológica e paisagística, não sei por que tão pouco escalada e conhecida.
:: Continua...
|
Pedindo licença para as Lhamas |
|
Vale que dá acesso ao Quewar |
|
Belo vale do Quewar |
|
Flores da Vega |
|
Aproximação ao Quewar |
|
O cume do Quewar sobressai ao vale que dá acesso à montanha |
|
Primeira acampamento à 4500 metros
|
|
De olho em você.... |
|
Nevasca na aproximação. |
|
Acampamento alto a 5100 metros |
|
Vista para o Quewar nevado durante a madrugada |
|
Primeiras horas da manhã. |
|
Vista para o Acay (no fundo) todo nevado. |
|
Rumos ao cume |
|
Indo ao cume |
|
Campo de penitentes |
|
Parofito no cume. |
|
Vista do cume para a Puna, onde se enxerga ao fundo o Cerro Macón |
|
Grande cume do Quewar |
|
Jogando as cinzas do Parofes |
|
Maria e seu primeiro 6 mil. |
|
Eu e Maria no cume. |
|
Ruínas incas. |