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Saindo de San Pedro, pegamos a estrada internacional que sobre os Andes em direção a Jujuy na Argentina. É mais um caso daquelas estradas chilenas que sobem pedimentos dos desertos em retas intermináveis de dezenas de quilômetros onde os carros quase morrem sem oxigênio e de tanto andar em alta rotação. Ali, com Luiz Antoniutii fervemos uma Pajero Sport em janeiro.
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Saindo de San Pedro, pegamos a estrada internacional que sobre os Andes em direção a Jujuy na Argentina. É mais um caso daquelas estradas chilenas que sobem pedimentos dos desertos em retas intermináveis de dezenas de quilômetros onde os carros quase morrem sem oxigênio e de tanto andar em alta rotação. Ali, com Luiz Antoniutii fervemos uma Pajero Sport em janeiro.
Nosso jipinho sobe lentamente e com muita dificuldade até chegarmos no altiplano, onde uma discreta estrada de terra aparece na esquerda da estrada internacional. Para ela havia uma placa indicando “Bolívia”.
Deixamos a confortável estrada asfaltada para entrar nesta estradinha poeirenta que descreve bem a Bolívia e dali a 5 quilômetros chegamos numa casinha de adobe pequena, circulado de algumas placas que dizia “migraciones”. Ali chegamos na fronteira...
Fomos muito bem recebidos pelos policiais bolivianos, que nos avisou que ali fazia apenas a migração, ou seja, apenas carimbava o passaporte. O carro teria que passar pela aduana que ficava uns 150 km dali, em um lugar chamado “Apacheta”. E lá vamos nós entrar na Bolívia e ir a caminho desta apacheta incaica.
Uma vez atravessando a fronteira, chegamos num parque nacional boliviano chamado Eduardo Avaroa, que é famoso por suas lagoas coloridas cheia de flamingos e pelo vulcão Licancabur. Escalei ele este ano com o Antoniutti e seu filho Luca de 15 anos, que talvez tenha sido o mais jovem a escalar esta montanha, mas não fui até Apacheta, fiquei na pousada localizada na laguna Verde descansando e não sabia dos caminhos que cruzam esta região bonita e desolada chamada de Sud Lipez.
Pagamos a taxa de 150 bolivianos que estrangeiros pagam ao entrar ao parque e tomamos a estrada rumo ao norte, por onde passam inúmeros jipes 4x4 que levam turistas de San Pedro de Atacama até o salar de Uyuni. A estrada é larga, mas é de terra. No começo é boa, mas logo aparecem as chamadas “costelas de vaca” que são ondulações na pista que fazem o carro tremer todo. Estas costelas de vacas vão ficando maiores e maiores até o ponto que sou obrigando a andar na primeira, pois o carro sacolejava tanto que nos pulos perdia a traseira e corria o risco de tombar, isso sem falar nas pancadas destruindo a suspensão.
Assim, de costela em costela, andando a menos de 20 km por hora tudo ficava monótono e lento. Uma pena só existir este tipo de costela na Bolívia e a gente com fome...
Passamos por vários locais bonitos no caminho, mas estávamos focados em escalar o Uturunco. Depois de várias horas chegamos em Apacheta e quase que o oficial da aduana não deixou entrarmos no país, pois eu não estava com a minha apólice que dizia que meu seguro valia na Bolívia. O que nos salvou foi eu ter a cópia da minha ultima declaração jurada quando entrei no país por Villazón.
Dali seria mais 80 km até uma cidadezinha chamada Quetena Chico, que fica aos pés do Uturuncu. Foram os 80 km mais longos da minha vida, pois a estrada era terrível! Os bolivianos por sua vez não respeitam em nada o meio ambiente. A estrada ruim cheia de costelas de vaca faz que eles saiam de seu leito e façam outros caminhos paralelos na lateral para evitar aquela desgraça e a estrada vai se alargando de detonando o contorno. Pura negligencia do governo, pois custa caro a entrada do parque e eles tem motoniveladora para fazer manutenção e evitar estes abusos. Entretanto parece que a motoniveladora (eu vi, novinha), não é usada.
Chegamos em Quetena Chico à noite. A cidade parece fantasma, pois como muitas cidades bolivianas não tem eletricidade e apenas algumas luzes de casas com gerador são visíveis. Queríamos passar despercebidos, pois conhecemos bem a Bolívia e as comunidades indígenas. Eles sempre inventam alguma dificuldade para você escalar montanhas, cobrando ou exigindo algo, mas damos de cara com uma bandinha da policia tocando na frente da comissaria local. Como pode um local tão pequeno ter tanta polícia? A Bolívia é um país extremamente militarizado.
Passamos batido pela polícia e depois encontramos uma dificuldade para encontrar o começo da estrada que vai para o Uturunco. Atravessamos um rio sem ponte e do outro lado encontramos o caminho, que é tão ou mais precário que o caminho de Apacheta.
Neste novo caminho vamos devagar, atravessando rios e desertos de pedra, até que começamos a ganhar altura. A noite está maravilhosamente estrelada e vamos batendo papo ao ponto que lentamente vamos subindo as encostas do vulcão. Passamos por locais bem difíceis com muita pedra, que tenho que desviar com perícia, até encontrar um local para acampar a 5400 metros. Fazia muuuuito frio!
Dormi muito mal por conta do frio, mesmo com um saco de pluma de ganso para -26 graus e acordei somente às 7, sacudindo o Maximo que também não teve uma noite boa. Fazemos algo para comer e desmontamos o acampamento, tendo dificuldade para fazer o jipe pegar devido ao frio intenso.
Uma vez com o carro em ordem e já com algum sol aquecendo, vamos novamente na reduzida até o local onde a estrada é interrompida à 5560 metros, onde começamos a subir à pé um acarreo mais um menos bom (depois do Capurata, tudo é bom!).
Vamos ganhando altura com facilidade e em apenas 1:45 horas já estamos no topo, onde observamos uma pirca de pedra com uma bandeirinha boliviana balançando num pequeno mastro improvisado de madeira. Escalar a montanha foi muito mais fácil que chegar nela.
Vamos filmando nossos últimos passos, finalmente finalizávamos o projeto depois de 13 anos de escaladas na Bolívia! Ao longo deste tempo em 5 expedições que realizei pelo país, fui de pouco em pouco escalando todas suas grandes montanhas até que neste ano, em cerca de 40 dias eu e o Maximo fizemos um grande esforço para fechar as 7 que me faltava, ou seja, de 13 anos, metade destas montanhas foram escaladas em um pouco mais de um mês.
Escalar todos os 6 mil da Bolívia é um projeto interessante, mas apenas uma amostra do que é escalada em alta montanha. Uma amostra bem completa, pois se escalada montanhas difíceis e técnicas, como o Illampu e o Chearoko. Montanhas longas e escondidas, como o Chachacomani e o Ancohuma, montanhas populares, como o Huayna Potosi. Montanhas bonitas e chamativas, como o Illimani, montanhas altas e secas, como o Parinacota e o Sajama, montanhas fáceis, como o Acotango e remotas como o Uturuncu e o Chaupi Orko, ou novas (com a confirmação de altitude) como o Kapurata.
Muitas destas montanhas são pouco ou nada conhecidas, onde tenho certeza que ficará muito tempo sem outra ascensão. Este tempo tive muitas histórias e considero este projeto o mais interessante projeto pessoal que eu realizei.
A estrada principal de Sud Lipez. |
Atravessando o deserto rumo ao Uturuncu. |
Deixando o jipe descansar. |
Caminhos laterais devido ao excesso de costelas de vacas. Um absurdo! |
Avistando o Uturuncu. |
Começo da subida do Uturuncu pela manhã. |
Fumarolas vulcânicas. |
Subida fácil. |
Ultimo dos cumes de 6 mil da Bolívia. |
Relato no livro do cume. |
No cume do Uturuncu. |
Parofito no cume do Uturuncu. |
Uturuncu visto de longe. |