Blog do Pedro Hauck: Escaladas em Imbituba - SC

12 de março de 2014

Escaladas em Imbituba - SC

Atenção: Neste relato descrevo a ascensão de diversas linhas no litoral de SC que não há relatos de terem sido escaladas. Isso não significa que fiz a conquista. Seria interessante que escaladores locais reconhecessem as linhas para a gente saber qual delas já foi ascendida e divulgar os croquis dos setores. Os nomes que dei às vias são sugestões, e servem para reconhecer as linhas. Qq coisa estou disponível em email pessoal.

ps1: As vias que chamei de Kell 27 e Diagrama de Riedel já tinham sido escaladas e se chamam Vida Mediocre e Vai que um dia sai.
ps2: Após contato com escaladores locais, obtive a resposta que grande maioria das fendas da região já foram escaladas. Contate os escaladores locais para saber mais informações. No link abaixo pode-se baixar o catálogo de vias de Itapirubá, feito por Tony Provesano. Use sempre equipamentos móveis, inclusive em paradas.
ps3: A Via "Aranha" na praia do Porto é um Higball boulder chamado Lagartixa Psico, aberta por Fernando Henrique.

:: Veja onde ficam as escaladas de Imbituba no Rumos: Roteiros para sua aventura!


Recebi o convite da Raquel, minha ex aluna do curso de escalada, para passar o carnaval e o aniversário dela na Barra do Ibiraquera em Imbituba, Santa Catarina. Iria um monte de gente, só pessoal que faz trilha e montanha e por isso pensei que seria uma boa levar equipo de escalada e ver se um dia ou outro desse para escalar.

Encontrei algumas informações no site do Fernando "Grilo", escalador da região que já escreveu diversas vezes pro AltaMontanha. Vi que nos costões havia muita fenda e possibilidade de escalada e abertura de vias tradicionais. Escrevi pra ele e obtive umas dicas e com elas, falei pro Rafael Wojcik, meu amigo e sócio na loja do AltaMontanha, levar sua furadeira, pois quem sabe poderíamos subir uma linha inescalada e precisar de bater uma cabeça de via para rapelar?

Saímos de Curitiba em 3 carros de madrugada para não pegar transito. A estrada estava movimentada, mas conseguimos chegar lá sem muitos problemas pela manhã. Ficamos hospedados na casa da Gisele Grando que nos alugou por um preço camarada. 

No primeiro dia, ainda cansados da viagem, ficamos por Ibiraquera na praia jogando frescoball, tentando descer umas dunas de sandboard e dando um tchibum na água gelada. No segundo dia pegamos o carro e fomos parar na praia de Itapirubá. Lá, caminhando pelo costão Sul, chegamos num pontão com muita rocha exposta e demos de cara com uma parede maravilhosa e sem nenhuma grampo.

A trilha que chega nesta parede percorre uma colina com vegetação campestre esverdeada e por ela chegamos no pontão, que havia uma falésia abrupta e uma plataforma plana que dá acesso à parede e nos protege das ondas do mar, local paradisíaco.

Costão Sul da praia de Itapirubá
Maria dando segue pra Raquel na via Kell 27. Na direita a fenda da Diagrama de Riedel. Nomes sugerimos. Não sei se ambas fendas já haviam sido escaladas antes.
Vista para a plataforma que dá acesso à base das vias
Maria Tereza na Kell 27

Abrindo a Kell 27 guiando

Conquistando a fenda da "Diagrama de Riedel".

Joguinho de móveis

Conquistando(?) a Kell 27

Raquel provando sua via
A parede e o mar!

Ali escalamos duas fendas, uma delas, na esquerda dá um sexto grau, com crux, e a da direita é uma fenda mais inclinada com saída difícil, 7a. Chamamos a via da esquerda de Kell 27, em homenagem à Raquel que fazia 27 anos e a da direita de Diagrama de Riedel, em homenagem às fendas daquele local que na verdade são falha geológicas transcorrentes que formam uma zona de cisalhamento muito bem representada pelo tal "diagrama" do Riedel, que é um geólogo estruturalista alemão. Digno de nota, as rochas de Imbituba são Gnaisses e Migmatitos, que são rochas metamórficas. Em diversos locais há a presença de uma rocha negra que são diques de diabásio.

No topo destas vias batemos um grampo de 1/2 polegada que pode ser equalizado com um camalot n.2 que se encaixa perfeitamente numa fenda. Desta forma é possível fazer um top e até mesmo um rapel para alcançar a base das vias com mais segurança.

Um pouco mais para o norte, sentido praia de Itapirubá, encontramos uma fenda patagônica perfeita, onde tb instalamos um grampo de 1/2 e deixamos um furo para, na próxima vez, instalar mais um grampo e deixar uma parada. Esta via tinha umas agarrinhas e casquinhas frágeis, que por estarem ali possivelmente nunca tinham sido escaladas antes. Na sequência achamos um diedro muito bonito com uma fenda e uma saída de tetinho com as mesmas casquinhas. Ali abrimos a via Leite de Morcega, um 7a técnico com entalamento para mãos pequenas. 

À esquerda deste diedro, usando a mesma saída, há uma aresta linda de 6 grau que escalei em top, pois nela é necessário instalar pelo menos duas chapas, tendo em vista que a fenda que há nela é muito rasa e nenhuma peça móvel aguentaria uma queda. Não instalamos chapas, mas na cabeça de ambas as vias instalamos novamente um grampo de 1/2 com furo para mais um grampo futuro. Assim esta parada serve duas vias.

Na base destas duas vias, no local onde há uma pequena caverninha, há também a saída de mais outra via, um quinto grau que chamamos de Maria Maria, em homenagem à Maria Tereza, que também fez o curso em Dezembro e já está escalando super bem, entrando em sexta grau e guiando vias no Anhangava. Essa via segue um sistema de fendas e no topo tem uma parada com um grampo único e um furo adicional para um segundo.

O motivo para o qual batemos apenas um grampo nas paradas é deixar a parede o mais limpa possível, podendo inclusive equalizar as paradas com móveis.

Diele Nara chegando na parada da Maria Maria. Rafael no segue.

FA do diedro da Leite de Morcega.

Fenda Patagônica

Maria tentando vencer o teto do via Leite de Morcega.

Maria provando sua via: Maria Maria.

O saldo do segundo dia de carnaval foi este: 6 vias escaladas. Não sei das quais foram conquistas, uma vez que não sei ainda se houve gente escalando por ali.

No terceiro dia aproveitamos as dicas do Grilo e fomos para a praia do Porto, costão Norte. Estacionamos o carro perto do salva vidas e fomos caminhando pela praia para depois caminhar pelo costão. O local tem muita parede, mas elas são bem menores que em Itapirubá. Como estávamos meio preguiçosos, não fomos muito adiante, de onde dava pra ver umas paredes grandes onde aparentemente havia vias. Encontramos umas chapas em algumas paredes que davam vias bem difíceis, mas resolvemos subir uma paredinha pequena usando um sistema de fendas onde no final deu pra equalizar uns camalots e montar ainda uma via em top reta. 

Neste local entre uma escalada e outra, apareceu uma aranha enorme e super nervosa. Ela ficou bem embaixo da via e ficamos cagando de medo. Acabei tendo que matar ela. Por isso chamamos as duas vias, que também não sei se já haviam sido escaladas de vias da aranha: 6sup e 5 (top rope). Mais tarde descobri que estas linhas eram escaladas como highball boulder e se chama Lagartixa Psico.

Depois do susto da aranha, decidimos fazer qualquer coisa. O Rafael acabou saindo antes e pouco depois vimos ele voando com seu parapente. A falésia da praia do porto tem uma excelente rampa de voo livre onde é possível fazer prazerosos voos lift com vista para o mar, a cidade e o porto.

Aranha nervosa!!!

Aranha medonha!!!

Maria na segue na via da Aranha.

Crux de 6 sup da via da Aranha.

Rafael dando uma olhada no setor de frente do costão norte da praia do Porto de Imbituba.

Falésia onde há rampa de voo. Ótimo lugar para lift.

Rafael inflando o parapente na rampa do mirante da praia do Porto.

Rafael pousando na praia.
Fim do dia na praia da Vila, Diele, Carol, Raquel e Maria.

No terceiro dia decidimos ficar em Ibiraquera e explorar a falésia localizada entre a praia da luz e a praia do Rosa, o que não havíamos feito antes por que o acesso até ali se dá ou pela BR101 (de carro) ou caminhando à pé. Optamos pela segunda opção, o que da Barra de Ibiraquera deu cerca de 30 minutos, atravessando a foz da lagoa com água na cintura.

A caminhada pela praia e depois subindo o costão onde há um pasto com vacas e uma estradinha calçada com pedras valeu a pena. O local é muito bonito, com um mirante sensacional e pedras grandes com um grande dique de diabásio cortando o Gnaisse. De cara pude reconhecer uma pedra com uma fenda incrível escalada pelo Fernando Grilo e seu parceiro Geferson Cavete batizada por ele de Vagina Cósmica (6sup 25m).

Decidimos explorar melhor o local e encontramos uma trilha que descia até quase o mar, onde havia uma plataforma que dava acesso a uma parede enorme, com mais de 25 metros de altura, muitas fendas e possibilidades de vias. Neste local, inclusive, havia um grampo solitário e enferrujado batido no topo de uma via sem fendas. Era o único local que era acessível por cima, os demais locais só escalando pelas fendas incríveis.

Atravessando a barra do Ibiraquera para chegar na praia do Rosa.
Mirante onde fica o setor

Pedra onde ficam as vias abertas por Fernando Grilo e Geferson Calvete.

Vista geral do setor com a plataforma na base, a parede e as fendas.
Começamos a arrumar as tralhas para escalar uma das fendas, mas neste exato momento começou a chover. Ficamos um tempo sem saber o que fazer, nisso a chuva deu uma amenizada e parti para a escalada, com o Rafael no segue. 

Subi uma linha linda de 5 grau, toda em móvel com boas colocações. A rocha ali era bastante cataclasada e por isso tinha que tomar cuidado para não ficar com as agarras na mão, subi cuidadosamente ao ponto em que a chuva ia engrossando. 

Cheguei no topo, após 25 metros de escalada e montei uma parada equalizando um camalot n. 4 e lançando uma fita num buraco de pedra e fazendo um nó focinho de porco. Aparentemente tudo ok, mas a rocha local era tão fraturada que dava medo de quebrar e ir tudo falésia abaixo. O Rafael escalou cuidadosamente, mesmo debaixo de chuva, e levou a furadeira pra cima. Escolhemos um platô confortável, onde a rocha era mais sólida e lá batemos uma parada dupla usando nossos últimos grampos de 1/2 polegada.Na descida, contei outras 3 linhas obvias por sistemas de fendas que podem terminar naquela parada. 

Por conta da chuva, chamamos a via de: "Se está na chuva é para se molhar" (5 graus, 25m).

Na conquista da Se está na chuva é para se molhar

Primeiros lances da Se está na chuva é para se molhar

Escalando na chuva

Rafael indo de segundo

Subindo de segundo com a furadeira.

Se está na chuva é para se molhar vista de baixo pra cima.
Gostaria desde já deixar claro que o que falo neste relato de conquista, pode não ser de fato uma conquista, pois é possível que tais linhas já tenham sido escaladas antes, mas não há informações, pelo menos na internet a respeito disso. Os nomes que dei às linhas escaladas são sugestões, gostaria de mantê-los, caso ninguém conteste já ter escalado tais linhas.

Gostaria que este relato fosse lido e divulgado entre o pessoal do Sul de SC, para que eu não cometa nenhuma injustiça. Sobre os grampos instalados, 6 no total, eles foram colocados somente nas paradas de vias que não apresentavam fendas boas. 

Achei Imbituba um ótimo local para escalada tradicional e estou disposto a viajar mais vezes para abrir mais vias, divulgar o local, fazendo croquis e tudo mais. Coloco meus sites (AltaMontanha e Rumos) à disposição para isso.

Gostaria também de agradecer ao pessoal que esteve na viagem comigo e pela ótima companhia. Maria Tereza Ulbrich, Raquel Canale, Rafael Wojcik, Carolini Vieira, Maicon Kaéber, Gisele Moro, Diele Nara, Ellen Sedemac, Délio Oliveira e Pri Accioly. 

Toda a galera comemorando o aniversário da Raquel.

2 comentários:

Felipe "Avatar" Arruda disse...

Chamem um biólogo, pois se ele não disser o contrário juro que essa aranha era uma Armadeira!
Ela não partiu pra cima de vocês?

HardBoot disse...

Foi abertura de via que você fez Pedro?