Blog do Pedro Hauck: Ditadura e liberdade

31 de março de 2014

Ditadura e liberdade

Hoje, dia 31/03/2014, fez 50 anos do golpe militar. Pela internet tenho visto muitas declarações exaltadas. Geralmente não fico discutindo muito este tipo de assunto por lá, mas são tantos os pontos que discordo que venho aqui no meu espaço dizer o que penso. Muitas pessoas não entendem o que é democracia e não entendem que apoiar o regime que destituiu o presidente João Goulart é ir contra sua própria liberdade. Neste artigo vou discutir os erros comuns que as pessoas tendem a cometer e inclusive discutir a relação do golpe com a liberdade e corrupção.

A primeira coisa que as pessoas pensam sobre o regime militar que governou o país entre 1964 e 1985 é que a linha dura do exército reprimia o crime, dando segurança aos cidadãos. Isso não é verdade, a criminalidade nada tem a ver com a repressão política e muito menos com a liberdade democrática. A violência evoluiu com o tempo, muito devido com a evolução do tráfico e do crime organizado, coisa que não existia antes de 1964. A ditadura não impediu o crescimento da criminalidade.

No campo econômico, as décadas de 1960 e 1970 foram décadas de crescimento e prosperidade. Porém, o crescimento industrial e econômico no país nesta época foi um reflexo do que aconteceu no mundo. Assim como hoje se fala mal do governo federal, dizendo que o governo no PT poderia ter levado o Brasil a um crescimento maior, o mesmo ocorreu com os militares que aproveitaram o milagre econômico, mas deixar o país quebrado na década de 1980.

E não fui eu quem disse isso, foi o próprio ministro da economia da época Delfim Neto, numa entrevista para a TV Câmara, que afirma que em 1979 o Brasil quebrou nas mãos dos militares. No fim da ditadura herdamos um país mergulhado em dívidas e uma inflação insustentável que foi estabilizada somente na democracia. Diga-se de passagem, Delfim defendeu em sua tese de doutorado na USP a concentração de renda (propensão marginal para a poupança) seria a fonte de financiamento para obras de infraestrutura básica para amparar a economia brasileira. Política adotada por Castelo Branco que culminou nas enormes diferenças que até hoje assombram a sociedade. Antes da ditadura existiam tantas favelas em nossas cidades? O bolo cresceu, mas ele nunca foi dividido.



E a liberdade? Muitos acham que a gente tem menos liberdade hoje por conta da violência do que naquela época. Isso também não é verdade. Ontem publiquei no AltaMontanha uma notícia onde nosso amigo Vitamina conta que quem fazia montanhismo já era considerado suspeito de subversão.

Aliás eu defendo a tese de que foi por conta da opressão do regime que surgiu no país a famosa figura do farofeiro chapado. Imagine só, uma época repressiva onde havia muito rock and roll e a revolução sexual correndo solta. Os locais mais distantes, como as montanhas, se tornaram sinônimo de um local para se libertar, daí a associação até hoje de que você vai para a montanha para ficar chapado e muito louco.

Será que havia liberdade? Era permitido se reunir? Constituir uma associação civil? Poder legislar sobre assuntos econômicos e sociais? Não!

Vejo grupos de pessoas protestando a favor da ditadura e da velha moral TFP. Eles se contradizem, pois defendem um regime onde não teriam esta liberdade. Eles não entendem o que é uma democracia, acham que só é válido as suas reivindicações e não as dos outros, ou seja querem um regime em que eles sejam privilegiados, pois as suas liberdades valem, não a dos outros. Como podem dizer que são contra a atual corrupção da democracia se o que eles querem é o privilégio político. Isso não seria uma forma de corrupção?

 A violência, a corrupção e a depressão econômico não é culpa da democracia. O combate a tudo isso é que se faz através do fortalecimento da democracia. Temos apenas 29 anos de democracia e muito o que evoluir. Na ditadura não podíamos debater, na democracia podemos e debatendo podemos corrigir e melhorar a sociedade.

João Goulart ao lado de sua gatíssima esposa Maria Thereza Cruz em seu ultimo discurso no Rio de Janeiro em 1964.

Um comentário:

Miriam Chaudon disse...

Democracia sempre! Mesmo que seja difícil a sua construção...