Recentemente pude caminhar à companhia de uma pessoa que há muito tempo conhecia, mas que nunca havia tido a oportunidade de dividir um perrengue, trata-se do Jurandir Constantino.
O Jurandir é um cara muito bacana, que tem muita história pra contar. A primeira coisa é por que ele é o
marumbinista 82? Bem, essa história ele me contou agora! Ele é uma das poucas pessoas que pode ser chamada de marumbinista de verdade, isso porque ele morou na estação do Marumbi por 11 anos, de 1982 até 1993, daí o 82.
Jurandir caminhando na Serra do Mar
O pai do Jurandir trabalhava na RFFSA e ele morou onde hoje é a sede do Parque Estadual do Marumbi. Ele me contou suas histórias de criança. Escaladas em árvores, e aventuras no Rochedinho, numa época em que subir o Olimpo era inalcansável. Seus idolos eram os montanhistas que frequentavam a vila e contavam as histórias de montanhismo.
Era uma época diferente, cheia de liberdade. O Marumbi era para todos e apesar disso ser bom, haviam problemas, como o lixo. Porém até este defeito se tornava diversão, pois todos os anos era realizado gincanas de limpeza organizada pelo CPM e patrocinada pela Acampar, que doava mochilas e equipamentos para os mais empenhados. Haviam uns que até trapaceavam, colocando no meio do lixo folhas e terra, pra pesar mais. No final, quem trazia pra estação mais resíduos, ganhava o premio maior, uma mochila. Por várias vezes o Feijoada, que também venceu duas vezes o Marumby Trophy, levou a melhor.
Certa vez, o pai do Jurandir ganhou dois porcos. Ele pegou uns dormentes de trem e com eles fez um chiqueiro. Hoje ele me conta esta história rindo:
_ Imagine, uma chiqueiro no Marumbi?
Pobre dos porquinhos, foram mortos por uma das maiores tragédias da história da montanha, as avalanches de março de 1989.
Nesta ocasião, começou a chover demais num final de tarde. O pai do Jurandir chegou mais cedo em casa e viu a água invadir aos poucos a vila. Rapidamente o rio Itapava começou a transbordar e passar suas águas sobre a ponte do trilho de trem. Primeiro vieram arbustos, depois árvores inteiras e a casa do Jurandir ficou meio metro abaixo de água. Diversos moradores tiveram que ser socorridos. É dificil imaginar a estação debaixo d´água, mas foi isso que aconteceu.
Os porcos foram levados com água e o corpo de somente um foi achado, há mais de um quilometro de distância. Pedras se moveram e neste evento climático anormal, quase repetido neste ano, boa parte do leito do rio foi destruida, aflorando rocha onde antes tinha solo, mas deixando cachoeiras maiores e mais bonitas.
Hoje quando vamos para o Olimpo e passamos pela cachoeira dos marumbinistas, não imaginamos que não havia tanta rocha exposta quanto hoje e que aquele vale inteiro foi arrasado.
Os tempos mudaram e o Jurandir também. Mas mesmo assim ele não deixou de frequentar a montanha. Depois disso ele foi morar em Alexandra, e nos finais de semana ia de bicicleta até a estação para depois fazer o conjunto. Quem conhece sabe que isso é uma grande pernada!
Jurandir bivacando na chuva. Não tem tempo ruim pra ele!
Hoje o Jurandir mora em Paranaguá e trabalha na secretaria de meio ambiente. Com uma história dessas, tinha mesmo que gostar de mato e natureza. Este é o Jurandir, um grande montanhista e companheiro, um verdadeiro marumbinista. Tão dedicado ao montanhismo que dizem que tem até uma montanha na Serra do Mar foi batizada em sua homenagem.
Um grande abraço pro Jurandir!
Jurandir antes e depois de devorar uma Tainha em Paranaguá.