Blog do Pedro Hauck: Montanhismo científico no Marumbi

6 de junho de 2011

Montanhismo científico no Marumbi

Existem várias motivações para fazer montanhismo. O eng. Florestal, pesquisador e montanhista Edson “Du Bois” Struminski, certa vez classificou três tipos de “montanhismo”: O Montanhismo recreativo, montanhismo esportivo e científico. Acho que dentre esta classificação, pratico todos.

Neste final de semana tive uma oportunidade de fazer montanhismo científico que não pude desperdiçar. Meu amigo Marcelo Brotto, ex presidente do CPM, mestre em botânica e montanhista me convidou para que eu o ajudasse a fazer uma coleta de plantas na Serra do Marumbi. A pesquisa do Marcelo foi muito importante para que eu obtivesse dados para realizar a minha, sobre a evolução fitogeográfica do Paraná, que é um estudo sobre os capítulos finais da história geológica do estado.

Com a autorização para pesquisar nas UC´s do IAP, fiz minha quinta visita como pesquisador à um parque estadual paranaense, mas a primeira em um parque de montanha, onde eu tenho maior intimidade. Assim, nos dirigimos para uma região pouco freqüentada do parque do Marumbi, o morro da Boa Vista.

O Marumbi é um local especial tanto para a minha quanto para a pesquisa do Brotto. O grande desnível altimétrico somado com as diversas morfologias do relevo cria micro climas específicos onde há uma grande diversidade de paisagens, ecossistemas e espécies vegetais.

A pesquisa do Brotto, que é sobre a Família das Lauráceas, que contém algumas das espécies de árvores mais especializadas que geralmente ocupam o dossel das grandes florestas primárias em estágios avançados de sucessão.

O que ele tem notado, no entanto, é que há Lauráceas em outros ecossistemas, como nas Florestas Ombrófilas Densas Altomontanas, Florestas Ombrófilas Mistas, campos de altitude e cerrado. Ou seja, as Lauráceas (das quais as mais conhecidas são as Imbuias, Perobas, Sassafrás, Canelas) não são só arvores grandes que dominam a Mata Atlântica, são também arbustos, arboretas em outros ambientes e também competem com as Araucárias nas Florestas subtropicais. Brotto está em sua coleta número 700 e já descreveu duas novas espécies do gênero Ocotea.

Em nossa caminhada até o Boa Vista e na seqüência até o Morro do Leão e Angelo (que estão na área intangível do Parque do Marumbi, onde somente pesquisadores têm acesso) passamos por 3 ecossistemas: Floresta Ombrófila Densa Montana (FODM), Floresta Ombrófila Densa Altomontana (FODA) e Campos de Altitude. Todos eles ecossistema (fácies) de paisagem pertencentes ao mosaico de paisagens da Mata Atlântica, bioma do domínio morfoclimático dos Mares de Morros Florestados (de acordo com a terminologia proposta por Ab´Sáber).

Caminhando e coletando, pudemos notar que as Lauráceas dominam a floresta mais alta e desenvolvida a FODM. Com o ganhar de altitude, as árvores perdem altura e ganham a fisionomia de arbustos e arboretos. Há uma grande perda genética, enquanto na FODM há mais de 600 espécies de árvores, na FODA há cerca de 10% disto. Com condições de clima mais restritivos, como geadas, vento, solos menos evoluídos, são poucas as espécies que são capazes de sobreviver neste ambiente, porém há muitas Lauráceas que estão presentes, como a própria Imbuia (Ocotea porosa), que em altitudes menores chegam a ter mais de 50 metros, ali ficam retraídas com menos de 7.

Fisionomia x Genética

Muito se fala em paisagens por sua fisionomia e também por sua composição genética. Enquanto a primeira é mais uma descrição da morfologia das espécies vegetais, a segunda fala sobre suas origens.

A matinha nebular, ou Floresta Ombrófila Densa Altomontana (FODA) ocorre sempre em altitudes maiores há 1200 metros em várias montanhas da Serra do Mar. Em termos genéticos, há tanto a presença de plantas mais comuns da Mata Atlântica quanto dos campos de altitude, que junto com as FODA conformam mosaicos nos topos das serras, estando em muitos locais em competição ecológica.

Em registros paleopalinológicos fica evidente que os topos das serras eram, no passado, habitado exclusivamente pelos campos, mas que nas condições climáticas vigentes, de mais calor e chuvas, as matinhas nebulares estão tomando conta dos topos e suprimindo os campos, causando uma extinção em massa de diversas espécies de Poaceas que vivem nos campos, numa grande redução natural de biodiversidade.

Algumas espécies arbustivas dos campos, no entanto, ao invés de serem eliminadas, conseguem competir ecologicamente e sobreviver no ambiente das matinhas nebulares. O que chama atenção sobre a ocorrência destes arbustos, no entanto, é que eles ocorrem com grande tipicidade em regiões de cerrado! É o caso da Persea alba e Ocotea tristis.

Tais conclusões realizadas pelo Marcelo Brotto vêm de encontro com as hipóteses aventadas em minha dissertação de mestrado sobre as origens dos Campos Gerais e mostram que os campos da Serra do Mar tinham uma extensão natural até o segundo planalto no passado.

Estas pesquisas são muito importantes para termos resposta sobre a vegetação no Brasil. Com ela podemos concluir que a Mata atlântica do Marumbi é uma vegetação se topicalizou nos últimos 2 mil anos e que antes disso, a região tinha uma vegetação menos exuberante e influência da vegetação de cerrado. Outra coisa é saber sobre a dinâmica da paisagem, onde podemos prever que se o clima continuar como está, provavelmente não teremos mais campos de altitude e nossa serra será inteiramente florestada.

 Marcelo e um Amarilis

 Morro do Leão, um local esquecido onde só pesquisadores podem visitar

 Paisagem da região mais alta da Serra do Marumbi, onde está preservado os campos de altitude 


 Ao fundo, o Morro do Pelado. Por que razões há locais onde predomina campos e em outros matinha nebular?



 Morro do Boa Vista

 Caminhando pelos campos

 Lixo do passado

 Morro do Angelo e Leão

 Olimpo visto do Boa Vista


 Olimpo

 Eu e Marcelo Brotto


Floresta Ombrófila Densa Montana

Floresta Ombrófila Densa Altomontana

2 comentários:

Beatriz disse...

legal esse artigo, pedro!!

Manoa disse...

Bom site! trabalho de qualidade!