Blog do Pedro Hauck: O Montanhismo no Қазақстан (Cazaquistão)

16 de dezembro de 2008

O Montanhismo no Қазақстан (Cazaquistão)

Recentemente escrevi este artigo para o site Altamontanha.com. Vou reproduzi-lo aqui.

Cazaquistão é um dos maiores países do mundo, mas é pouco conhecido. Ele se desmembrou da União Soviética em 1991 e herdou deste desconfigurado país muito mais do que ogivas nucleares e instalações militares, herdou também o gosto pelo montanhismo.

A República do Cazaquistão (Қазақстан Республикасы) é um país imenso, mas pouco populoso, localizado na Ásia Central. Seu território estende-se, de oeste para leste, do mar Cáspio às montanhas Altai, e, de norte a sul, das planícies da Sibéria Ocidental aos oásis e desertos da Ásia Central. A estepe cazaque, com uma área de cerca de 804.500 quilômetros quadrados, ocupa um terço do país e é a maior região seca de estepe do mundo.

Apesar de ser um país onde o relevo é predominantemente plano, sua população se concentra nas proximidades da cordilheira de Tian Shan, onde fica a maior cidade, Almaty, com mais de 1 milhão de habitantes, onde nasceu o montanhismo no país.

O montanhismo no Cazaquistão nasceu em 17 de Julho de 1930. Neste dia, G. Beloglazov e V. Gorbunov de Almaty e A. Misovskiy de Moscou fizeram a ascensão do Pico Maloalmatinskiy de 4376 metros. Mais tarde esta montanha foi renomeada, como Pico Komsomol, algo normal na época soviética mudar o nome dos lugares para alegrar as elites russas.

As expedição casaques de grande peso iniciaram tarde, somente em 1982, com a bandeira soviética. Neste ano, cinco montanhistas do Cazaquistão, K. Valiyev, V. Hrischatiy, Y. Golodov, E. Ilyinskiy e S. Chepchev participaram de uma expedição ao Everest. Com grande dificuldades metereológicas, K. Valiyev e V. Hrischatiy chegaram ao ponto mais alto do planeta. Mais tarde, Y. Golodov, E. Ilyinskiy e S. Chepchev tentaram cume sem sucesso, tendo atingido uma altitude de 8550 metros. Foi o triunfo do montanhismo cazaque. Todos os participantes foram premiados pelo governo soviético.

A segunda expedição cazaque ao Himalaia foi no ano de 1989 no Kanchenjunga, a terceira montanha mais alta do mundo localizada entre a Índia e o Nepal. Nesta expedição participaram nove cazaques que não fizeram cume na montanha, que é considerada uma das mais difíceis do mundo.

Na primavera de 1991, montanhistas cazaques realizaram a terceira expedição do país ao Himalaia. Eles escalaram o Dhaulagiri de 8167 metros pelo lado Oeste, foi a primeira ascensão por esta face da montanha. Nesta oportunidade, o experiente montanhista E. Ilyinskiy foi o lider da equipe composta por 13 montanhistas, dentre ele Anatoli Bukreev, talvez o mais famoso alpinista cazaque até hoje.

Mais tarde, em 1995, com o país já independente da extinta União Soviética, montanhistas cazaques liderados por K. Valiyev, o primeiro cazaque a escalar o Everest, escalaram o Manaslu no inverno sem oxigênio. Fizeram cume na montanha M. Mikhalkov e D. Grekov.

Em 1996 o montanhista cazaque Anatoli Bukreev se tornou mundialmente conhecido por ter sido herói/vilão no acidente no Everest que matou 12 pessoas e que foi reportado no Best seller de autoria do americano Jon Krakauer: No ar Rarefeito.

Bukreev fez o cume do Everest sem oxigênio e também foi resgatar as vitimas desta maneira para não atrapalhar seu plano em escalar todas as montanhas acima de 8 mil metros com este estilo. Por conta disso, Krakauer diz que ele poderia ter ajudado mais pessoas e o numero de vítimas teria sido menor.

Bukreev escreveu o livro: A escalada em co-autoria com W. Dewalt rebatendo as criticas de Krakauer. Bukreev morreu um ano depois quando tentava escalar no inverno a face sul do Anapurnna com o italiano Simone Moro. Ele foi pego por uma avalanche. Seria a oitava montanha acima de 8 mil metros para Bukreev, todas sem oxigênio.

Em 2001 foi inaugurado um programa governamental no Cazaquistão para formar um time de montanhistas para escalar as montanhas mais altas do mundo. Foram estas expedições e montanhistas que participaram desta equipe:

  • Expedição ao Hidden Peak (8068m), 2001: E. Ilyinskiy - o lider, Vasily Litvinov, Damir Molgachev, Vasily Pivtsov, Denis Urubko, Sergey Lavrov, Alexey Raspopov, Maxut Zhumayev.
  • Expedição ao Gasherbrum (8035m), 2001: E. Ilyinskiy - the leader, Vasily Litvinov, Damir Molgachev, Vasily Pivtsov, Denis Urubko, Sergey Lavrov, Alexey Raspopov, Maxut Zhumayev.
  • Expedição ao Kangchenjunga (8586 m), 2002: E. Ilyinskiy, Denis Urubko, Sergey Brodsky, Damir Molgachev, Vasily Pivtsov, Sergey Lavrov, Alexey Raspopov, Maxut Zhumayev
  • Expedição ao Shisha Pangma (8046m), 2002: E. Ilyinskiy - o lider, Maxut Zhumayev, Denis Urubko, Alexey Raspopov, Vassily Pivtsov
  • Expedição ao Nanga Parbat em 2003: B. Zhunusov - o lider, E. Ilyinskiy, M. Zhumaev, D. Urubko, A. Raspopov, V. Pivtsov, S. Lavrov, V. Litvinov, D. Molgachev, D. Chumakov
  • Expedição ao Broad Peak em 2003: B. Zhunusov - líder, E. Ilyinskiy, M. Zhumaev, D. Urubko, A. Raspopov, V. Pivtsov, S. Lavrov, V. Litvinov, D. Molgachev, D. Chumakov


De todos estes nomes, talvez o montanhista que mais tenha se destacado e hoje é reconhecido internacionalmente é Denis Urubko, quem irá neste inverno desafiar a última montanha de 8 mil ainda não escalada nesta época do ano, o Makalu.

Urubko terá a companhia de ninguém mais, ninguém menos que Simone Moro, alpinista italiano que era companheiro de Bukreev há 11 anos atrás, quando também em um inverno, o cazaque mais famoso do mundo veio a falecer. Tomare que o destino seja diferente com ele desta vez.

Mapa do Cazaquistão

Panorâma da Cordilheira de Tian Shian.

Khan Tengri, montanha mais alta do Cazaquistão com 7010 metros.

Anatoli Bukreev, na esquerda, com a bandeira do Cazaquistão no cume de uma montanha no Himalaia.

Denis Urubko


Escaladora treinando em ginásio em Almaty

Escaladores na rocha no Cazaquistão.

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