Paisagem em Catamarca |
Depois de deixar a montanha no paso de San Francisco, voltamos ao piemonte andino e pegamos a estrada em direção ao sul para chegar na cidade de Chilecito em La Rioja.
No caminho nos deparamos com as consequência da tempestade que tivemos na parte alta dos Andes.
Anteriormente tentei descrever a paisagem da região noroeste da argentina, citando todas as dificuldades ambientais que o escasso povo daqui sofre... Acho que esqueci de dizer um detalhe.
Apesar do noroeste argentino estar situado na diagoal arréica da América do Sul, numa das três regiões áridas e semi-áridas do continente, aqui a escassez de água eh rompida uma vez ao ano quando a neve dos cumes andinos eh derretida no verão.
Como as montanhas da Puna são desérticas e não possuem uma vegetação que segure as vertentes. As águas do degelo escorrem superficialmente com muita energia, carregando todo tipo de material existente, inclusive de tamanho de matacões, diga-se, do tamanho de Corsa como o meu.
Esta água e seu material transportado desce com violência pelos vales e vai ganhando muita forca ao ponto de se tornarem grandes trombas de água e lama, formando grandes fluxos de lama pelos vales encaixados da cordilheira.
Ao chegar no piemonte, este fluxo de lama perde energia e deposita os materiais mais grosseiros primeiro e depois, quando perde energia, depositar areia e argila. Este caminho da água atinge dezenas de centenas de quilômetros e eh tao periódico que não chegar a definir um canal fluvial, de forma que estes rios lamacentos tem uma característica difusa, podendo ocorrer em qualquer local, dependendo da forca que possuem em cada ano.
Desta maneira, por toda região aos pés das montanhas andinas eh muito difícil manter uma habitação permanente e atividades econômicas sem antes fazer grandes obras para controlar a forca destrutiva destes fluxos de lama... A Engenharia desta região deve sempre pensar que uma hora ou outra haverá um fluxo de lama para destruir tudo pela frente.
Encontramos em nosso caminho para o sul, mostras de como eh a vida por esta região desolada. As estradas que cortam o noroeste argentino indo perpendicular a cordilheira são todas à prova de fluxos de lama. Elas são construídas em aterros e dependendo da ocorrência dos fluxos elas tem depressões periódicas, chamadas de badenes construídas para dar passagem aos fluxos sem destruir a estrada.
O problema eh que na época do degelo, estas estradas ficam cortadas ao trafego e dão mostra de que esta não eh uma região muito dinâmica para a produção de qualquer coisa que seja, e isso, aliado com o clima árido e a deficiência hídrica eh um grande empecilho para o desenvolvimento.
Por onde quer que estejamos, sempre que passamos por uma cidade ou um povoado, sempre a aparência que temos eh de que o local esta morto. Não vemos ninguém nas ruas, não vemos nenhum sinal de atividades econômicas, tudo eh muito pobre e sem esperança, parece que todos os dias nestas cidades são domingo ou feriado.
Paisagem na estrada em La Rioja |
A cidade de Chilecito eh prospera no noroeste da Argentina pois fica em um vale entre duas cordilheiras, a serra de Famatina e a serra de Velasca. uma com cumes de mais de 6 mil metros e outra com pelo menos uns 4500 mts.... ou seja, pelo vale de Chilecito, se drenado, tem-se a agua para o desenvovolvimento.
A região eh muito seca, e com a agua drenada no vale cria-se em Chilecito um clima artificial imitando o clima mediterrano e la e produz muita uva e vinhos e muita Oliva e azeite, por isso Chilecito eh um Oásis no meio do deserto.
Assim mesmo Chilecito não deixa de ser morta, apesar de turística, a cidade ainda mantem aquele velho habito argentino de se realizar a siesta, ou seja de para com tudo depois do almoço. Chegamos na cidade às 15:00 de uma terça feira e encontramos uma cidade tao morta que nem parecia o dia que era, mas sim um domingo. Não havia nem sequer um cachorro na rua para pedir informação, parecia uma madrugada em plena tarde.
Fiquei com tanta raiva deste costume folgado que adicionei a siesta como um dos motivos para o subdesenvolvimento da região, alias quem quer investir numa região em que todo mundo só trabalha de manha. Ainda bem que não existe siesta no Brasil, não há nem se quer uma palavra para isto em português, o que mais se aproxima eh folga, isso sim...
Bom, voltando ao relato, acabamos por encontrar um camping na periferia da cidade. e Dormimos lá por apenas 3 pesos. De noite apareceu dois viajantes franceses que vinham do sul de bicicleta e se juntou a nos dois e mais um canadense que também, viajava de bike. Conversamos ate altas horas e depois fomos dormir.
No dia seguinte acordamos cedo e nem tivemos tempo de despedir dos amigos e logo estávamos na estrada novamente, com o Maximo se lembrando sempre de sua odisseia por aquela região 5 anos atrás.
Atravessamos La Rioja e logo adentramos San Juan, indo parar no Parque nacional de Ischigualasto, que na linguagem indígena significa terra sem vida, um bom nome para o lugar.
Em Ischigualasto aflora-se à superfície formações geológicas das três eras, o paleozoico, mesozoico e cenozoico. Lá há fosseis de varias idades e eh uma referencia mundial para a paleontologia, tendo sido encontrados os dinossauros mais antigos do mundo, datados do Triássico.
O parque nacional eh tb chamado de vale da lua para atrair os turistas, que vem do mundo inteiro para ver os dinos, entretanto a região para mim tem grande interesse geomorfológico, pois durante a historia geofísica do local, passou por diversos clima e ambientes e podemos ver aflorados lateritas quando na região imperou um ambiente do tipo do cerrado que inclusive foi responsável por mantem a vida dos grandes dinos que ali habitaram.
De volta a estrada, passamos pela região frutífera mais importante talvez da América do Sul, de onde vem as azeitonas que consumimos no brasil, e também os pêssegos, vinhos e outras frutas.... passamos a noite num posto de gasolina e chegamos ontem a Mendoza, que desde de 2000 tem sido uma referencia em nossas viagens.
Estamos descansando um pouco e nos preparando para escalar nossa próxima montanha. Entretanto ainda não sabemos o que vamos fazer.
Uma das opcoes seria escalar o Cerro Mercedário, que com 6770 mts eh uma das mais altas dos Andes. Entretanto para chegar la teremos que pagar um 4x4 e também teremos que fazer uma longa aproximação, atravessando quilômetros com as mochilas nas costas e cheios de equipos, pois gostaríamos de fazer a rota sul, que se assemelha muito com o glaciar polacos do Aconcagua. Acontece que fazer tudo isso eh demorado e desgastante e tudo o que eu não quero agora eh passar por este tipo de dificuldade física e os abalos psicológicos que a altura e o cansaço faz.... Estamos estudando e em breve veremos o que vamos fazer.
ps. novamente peco desculpas pelos erros, não se esqueçam que estamos num pais com um teclado totalmente diferente do português, e com pressa para nao gastar muito no cyber cafeh... abrazo a todos....
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