Blog do Pedro Hauck: De San Fernando a Puna do Atacama.

16 de fevereiro de 2006

De San Fernando a Puna do Atacama.


Vulcão Incahuasi visto de onde estou agora

A maior vantagem, desta viagem, a qual sonhei durante anos, foi sem dúvida contar com um carro para poder realizá-la. É por causa disto que posso escrever agora na integra o que anda passando. Estamos com um notebook na montanha e por isso posso escrever na hora que as coisas acontecem.

Agora são 23 hs. Estou junto com o Maximo que ouve música em seu saco de dormir dentro da barraca. Lá fora faz muito frio (tb estamos a quase 4000 mts de altitude). A noite está linda, com uma lua que ilumina toda a puna e as montanhas ao redor, como o Cerro San Francisco e o Vulcão Incahuasi, que pretendemos escalar. Esta é uma das regiões mais impressionantes que já visitei, tudo aqui é longe, selvagem e inóspito, mas acessível, pois chegamos de carro por uma estrada asfaltada.

Mesmo assim não é fácil. Para mim que nunca havia dirigido na altitude e em Desertos, fiquei preocupado. Para começar, quando atravessamos a Pampa lá em baixo, fazia um calor superior ao Piaui. Era insuportável e tínhamos que deixar ligado o ar o tempo todo. Ficava sempre alerta com a temperatura do motor, que mesmo em movimento sempre ficava nos 95 graus. Mesmo com o ar ligado, o carro andou bem. Fizemos uma média de 620 km por tanque de 50 lts. Nada mal para um carro cheio.

A gasolina aqui na Argentina é muito mais barata que no Brasil. O litro está saindo por volta de 1,75 pesos, isso pq cada real vale 1,25 pesos, ou seja, pudemos usar o ar condicionado. Até San Fernando só cruzamos pampas secas recobertas pela vegetação do Chaco que já tentei descrever. San Fernando fica rodeado por montanhas da pré cordilheira, com baixa altitude e muito secas. Pelo vale de Catamarca, observei inúmeros rios intermitentes que caracterizam bem como são as coisas por aqui.

Saí da cidade rumo ao sul, a Província de La Rioja. La o ambiente transaciona de Chaco para um total deserto. Cruzamos alguns esporoes da pré cordilheira somente habitados por enormes cactáceas e bromélias de chão, além de alguns arbustos lenhosos repletos de espinhos. Maximo já esteve aqui uma vez, durante sua zicada viagem solitária pelo deserto. Ele me descreveu o local como sendo uma região que Deus passa somente de Helicóptero, mas depois que conheci aqui, passei a acreditar que Deus nem sequer existe.

Por todo o horizonte não se avista arvores e somente os mais robustos e adaptados vegetais resistem ao calor, vento e salinidade do solo. Mesmo assim existe prosperidade. Passamos pela cidade de Aimogasta, onde observei inúmeras plantações de Oliveira. Apesar da cidade ser pobre, existe lá uma fonte de economia, assim como a Uva e o vinho de Tinogasta, uns 100 km depois já de volta a província de Catamarca Esses locais são pitorescos, verdadeiros oásis no meio do deserto, irrigados pelas aguas que degelam das montanhas. Assim também é Fiambalá, o último ponto civilizado antes do lugar que estou agora. De Fiambalá até aqui são cerca de 200 km mais ou menos. Neste caminho subimos por vales intermináveis e verdadeiros desertos com direito a tempestades de areia e tudo… Estamos muito perto do Chile, e de outras montanhas famosas, como o Ojos del Salado e o Pissis, que sao umas das mais altas montanhas de toda a América.

Após estabelecermos este acampamento, pudemos disfrutar dos confortos de se viajar de carro. Trouxemos linguiças, hambúrguer e outras coisas impossíveis de se trazer numa mochila e por isso comemos muito bem… Entretanto, o melhor não foi a comida, mas sim o fato de aqui onde estamos ter uma fonte de agua termal onde pudemos descansar como se estivéssemos num spa.

Como esta é a segunda noite nossa na altitude, não pudemos subir mais do que onde estamos, isso devido aos problemas que uma má aclimatação pode acarretar. Mesmo assim fui bisbilhotar aqui perto. Subi uma colina de rochas vulcânicas para se ter uma melhor visão da região e além da vista pude ver um bando de Vicunhas que pastavam livremente. Ao horizonte pude reconhecer na baixada do Incahuasi uma playa de sedimentos vulcânicos e concentração de água represada que formava um lago de cor branca devido a concentração de sal. Reconheci também um caminho para ascensão do vulcão e julguei que não será muito complicado.

Amanhã iremos subir um pouco para forçar a aclimatação. Talvez nós vamos também ascender o Cerro San Francisco. Enquanto isso vou aproveitar o conforto do saco de dormir para tirar um cochilo.

Paisagem na Puna

Bando de Vicunhas

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