Por que uma viagem urbana podia me dar medo?
Vamos aos fatos. A China é cheia de cidades gigantes, e
grandes cidades tem sempre alguma dificuldade de se transportar, sendo
necessário a ajuda de alguém. Dizem que quem tem boca vai a Roma, porém sem um
bom tradutor não se chega a Shangai. A China é mais que um país, é uma
civilização com mais de 4 mil anos de história. É raro encontrar chineses que
falam inglês e quem é de fora é impossível entender os ideogramas. Pode ter
muita gente pra perguntar, mas eles não vão te entender e nem você a eles. Por isso
sozinho na multidão.
Em minha viagem pela China eu sabia que para me virar
precisaria de uma boa internet e precisaria estar conectado aos serviços do
Google, como Maps, Translator, e-mail e as mensagens do Whatsapp para me sentir
menos sozinho e poder exteriorizar as preocupações.
Já havia ficado sozinho em Kathmandu. Ora, lugar tranquilo
para estar só. Tudo bem que lá as coisas são escritas em sânscrito, mas todo
mundo fala inglês. Tudo bem que nada funciona direito, mas pra quê? Lá já é
território conhecido. Nada funciona mas no fim tudo dá certo.
Embarcando no vôo da Air China. |
Quando embarquei no voo da Air China para Chengdu, percebi
como minha vida está conectada nos aplicativos bloqueados na China. Facebook,
Instagram, Gmail, Messenger, Whatsapp. Minha saída seria o chamado VPN.
Aplicativos que trocam seu IP e confundem os servidores, fazendo que você
consiga usar todos estes aplicativos acima.
Passei o voo pensando que, ao chegar à China, primeiramente
precisaria comprar um chip de dados e depois botar o aplicativo VPN pra
funcionar. Se não desse certo.... Eu tava fu.... Uma vez lá, você não consegue
baixar outro VPN. Tudo tem que ser feito no exterior. Porém, como ainda não estava na China, não
tinha um número de celular Chinês para cadastrar o VPN com todas suas funções.
Voei tranquilamente de Kathmandu à Chengdu, com direito a
passar do lado do Everest e do Makalu. Ao pousar, entrei na China sem
problemas, peguei minha mochila, que foi a primeira a aparecer na esteira e sai
do desembarque do aeroporto.
Makalu visto da janela do avião. |
Após trocar um pouco de dinheiro, dei de cara com uma
lojinha vendendo Chip de celular e fui igual a um louco comprar o meu. Nem me
importei com a enorme quantia de 300 Yuans que me cobraram, sabia que precisava
de internet. Eis que a moça que me vendeu não conseguiu fazer o chip funcionar.
Ela deu o celular para outra moça, mudamos a língua para o chines, para elas
configurarem melhor e fizemos de tudo. Ele só funcionava no Edge, ou seja, com
velocidade muito reduzida.
Rua de Chengu em frente ao aeroporto. Indo do terminal 1 para o terminal 2. |
Me devolveram o dinheiro e continuei minha saga. Vou tentar
em Shangai.
Caminhei entre um terminal e outro, indo atrás do local onde
eu embarcaria. O aeroporto era bem estranho, apesar se extremamente moderno.
Precisei de ajuda de uma funcionária da cia aérea e ela me mandou ir direto ao
portão de embarque. Mas peraí, estou com a mochila cargueira nas costas!
Pedi ajuda a uma segurança, que mandou para outra pessoa que
me fez voltar a uma fila onde havia um cartaz em mandarim. Era lá onde eu despachava
a bagagem. Ah bom! Agora entendi.
Após mandar a mochilona embora, voltei à fila para entrar na
área de embarque e de repente me deparei com meu nome escrito em um painel onde
todas as outras informações estavam no alfabeto chinês.
_ My name is there.
Apontei para a segurança que me ajudara minutos antes.
Ela me tirou da fila e me levou a uma salinha. _ O que eu fiz? Perguntava...
Lá vi minha mochila encostada na parede. O operador do raio
x me mostrou uma foto e disse “Forbiden”. Era uma foto de uma pilha.
Abri a mochila e tirei um saco de pilhas. Ele ainda me fez
esperar mais pouco e liberou para que eu pudesse pegar a fila de volta para
entrar na sala de embarque.
Passei novamente pelo raio X e entrei na sala de embarque.
Mas peraí, qual é meu portão?
Fiquei um tempão olhando o painel. Ele primeiro mostrava os
destinos em chinês e depois em alfabeto romano. Fiquei um tempão procurando e
não achava meu vôo. Até que apareceu.
Na espera pelo avião ainda tentei conectar a internet do
aeroporto, mas nada. Eu precisava ter um numero de telefone chinês para receber
o SMS confirmando o cadastro no site que provia internet de graça. E se o
problema fosse meu telefone? Se ele não fosse compatível com a rede de
telefonia chinesa eu teria que comprar um outro, mas que prejuízo?
Pior, uma vez na china você nao faz mais o download dos
programas VPN e assim eu continuaria isolado do mundo e perdido. Me deu
angustia! Não teria como me comunicar com ninguém na China e nem com a Maria e
o resto das pessoas no Brasil.
O voo para Shangai demorou muito. O avião era apertado, o
assento não reclinava nada. A comida foi ruim e cheguei em Shangai super tarde.
No aeroporto tudo estava fechado.
Eis que eu vejo uma lojinha de chips de celular. Fui
correndo...
Uma simpática chinesinha me atendeu. Sabia falar inglês!
Rapidamente ela colocou o chip e, FUNCIONOU! Pulei de alegria. Me custou 200
Maos!
Agora só faltava ir ao Hostel que eu havia reservado.
Que falta de sorte. A noite o trem, metrô e os ônibus não
funcionam, só tem táxi.
Caminhando meio sem destino pelo terminal, fui abordado por
um taxista. Aí veio a negociação e paguei bem caro para ir até o hostel. Pelo
menos pude no caminho ver as primeiras paisagens chinesas. Auto pista, prédios
e muita área urbana.
Assim, de madrugada e acabado cheguei em Shangai. Super
stressado pelas dificuldades e angustias que me acompanharam nas primeiras
horas na China. E agora? Como seria o resto da viagem?
:: Continua
:: Continua