Com 750 metros de altura, a Mateus Arnaud é a via mais extensa do Pico Maior de Friburgo. Conquistada há 20 anos, essa via é motivo de polêmica, pois passa muito perto da Leste, via mais clássica da região. Como é melhor protegida, gerou discussão, pois no Pico Maior o estilo de esticões é o que predomina.
Sou amigo de dois conquistadores, o Rafael Wojcik, meu sócio da loja AltaMontanha e também do Alex Ribeiro, o Che Guevara de Petrópolis. Por este motivo já havia tentado escalar a via anteriormente, porém ao invés de entrar na Mateus, acabei fazendo a Decadence... Histórias de perrengue de Salinas...
Desta vez acompanhado da Maria Tereza, entramos mais espertos. Acompanhado de nós havia mais duas cordadas: Fábio Lima, Ebraim Oliveira e Robson Andrighetti na Leste e Natan Fabrício e Juliano Santos. Todos amigos de Curitiba que aproveitaram o feriado de 1 de Maio para enfrentar as grandes paredes de Salinas.
Após um dia de descanso da longa viagem, acordamos cedo e ao amanhecer já estávamos na parede. Emendei as duas primeiras enfiadas, onde já encontrei diferenças no croquis. Com as duas cordadas amigas nas vias ao lado, não tinha como estar na via errada. Notei que houve adição de chapeletas inox da Kong.
A terceira enfiada foi guiada pela Maria, mas na sequencia assumi a pontada corda. Não encontrei a sétima enfiada da via, mas via um parabolt destruído na parede, onde assumi como sendo da via original arrancado na polêmica de 98. Escalei pela Leste até a primeira chaminé desta via.
Na primeira chaminé a via se divide. A Mateus não chega a entrar pela chaminé, ela desvia pela direita num lance com um artificial de cliff. Como esqueci de levar o Talon e também estribo, escalei em livre, desviando deste lance, por dentro da chaminé e saindo uma proteção acima deste crux.
A escalada a partir daí é o melhor da linha. As próximas duas enfiadas seguem por uma parede vertical cheia de agarras de cristal. Um quinto bem fluído e estético com proteções fixas. A via acaba saindo no final do que seria a primeira chaminé da Leste, que no local acaba se tornando um Diedro e a próxima enfiada a via acaba sendo compartilhada com a Decadence.
Lá todas as enfiadas se encontraram, porém parti para realizar a transversal rumos a chaminé da Mateus, que fica na esquerda da segunda chaminé da leste. Neste ponto perdi o contato com os parceiros e fiquei imerso naquela enorme fenda na montanha.
A chaminé da Mateus é muito mais difícil que as demais chaminés da montanha, pois é muito mais larga, mais suja e mais alta. São duas enfiadas dentro da chaminé, onde reboquei a mochila da Maria. O trecho mais complicado é o final, quando há um artificial fixo. Como não levei estribo, tive muita dificuldade em passar pelo lance, tendo que fazer em livre, no estilo chaminé de tesoura, para passar os lances iniciais. Neste momento, meu pé direito vazou no esfarelamento da rocha e o esquerdo ficou e sofri uma lesão na perna.
Cansados e eu machucado, tive dificuldade de terminar a via. Quem tem mais duas enfiadas até o cume que não estão no croquis.
Chegamos ao cume as 20 horas. Bem tarde! Fazia muito frio e os parceiros já cogitavam descer nos deixando para trás.
Por estar ventando muito, decidimos descer pela via Silvio Mendes. Natan, Juliano e Robson foram na frente amarrando a corda dupla da primeira cordada e fazendo rapeis mais longos. Porém os quatro que ficaram para trás (incluindo eu) tínhamos cordas simples de diâmetros diferentes. Por conta deste detalhe decidi não rapelar com duas cordas, pois fazendo o nó Pescador Duplo tenho certeza de que a corda engataria em alguma fenda ou vegetação.
Foram 7 longas horas de rapel no frio, com direito a um auto resgate, quando desci por um local errado e tive que fazer prussik para retornar à parada.
Chegamos ao Mascarin ao amanhecer, escalando uma via e vendo dois nascer do sol.
Foi meu quarto cume no Pico Maior, todos por vias diferentes. Mas foi o mais complicado de todos.
Sobre a via Mateus Arnaud, achei muito bonita, com lances mais modernos, sobretudo por que dá para fazer a parede evitando a primeira chaminé da Leste. Passado 20 anos da conquista, acho que ela precisa ser vista com outros olhos e vale a pena ser repetida.
Maria na seg durante uma das enfiadas da Mateus |
Encontro das enfiadas na P6 |
Escalando a P7, enfiada que não achei |
Natan na Decadence |
Fabio guiando a enfiada após a Leste |
Natan na Decadence |
Maria no diedro que é o final da primeira enfiada da Leste |
Ebraim guiando a Leste |
Chaminé da Mateus Arnaud |
Travessia para a chaminé da Mateus |
Final da chaminé a noite |