Pasang é o mais divertido e extrovertido dos guias locais. Ele é meio Tamang e meio Sherpa, que são etnias diferentes aqui no Nepal. Diferente da maioria dos outros guias, ele fala um inglês melhor e estudou fora. Fez informática na Índia.
Várias dúvidas me assolavam sobre minha experiência até então no trekking. Muitos me diziam que o Nepal era muito pobre, mas até então o que eu vira se assemelhava mais à suíça que um pobre país asiático. No entanto a existência dos carregadores, que mais pareciam homens formiga me indicava que ali era o Nepal mesmo.
Qual será o impacto de tanto turismo no vale do Khumbu e seus dólares para os povos da montanha? Será que essa aparente Suíça é real ou é apenas para inglês ver.
No caminho à Lukla, fizemos uma parada forçada em Ramjatar e lá pude ver como é uma vila realmente rural, produtora de alimentos. Uma pessoa que trabalha com turismo, não trabalha produzindo alimentos, será que isso não resultaria numa desestruturação da sociedade sherpa? Será que o turismo não é atraente o suficiente para tirar o homem do campo, provocar migração e desestruturar o setor produtivo rural?
De acordo com Pasang, sim, o turismo atrai muita gente por conta dos altos salários em dólar. Mas a migração não é tão fácil no vale do khumbu.
Apesar de Namche ter crescido muito, o alto custo de vida de lá impede uma migração ainda maior. A maioria dos trabalhadores vem de vilas distantes, trabalham na temporada, mas depois retornam à seus locais de origens.
O bom do trabalho com o turismo na temporada é que eles podem ter um incremento de renda e reivestirem em suas terras e em suas casas. O problema é que a maioria trabalham em empregos que ganham pouco, como os carregadores. Então seria necessário muitos anos para que pudessem prosperar realmente.
A comida é um grande problema no khumbu. Como o vale é muito alto e escarpado, a produção de alimentos é limitada. O turismo por sua vez absorve bastante a mão de obra local, fazendo que de fato locais como Namche ficasse dependente das vilas mais baixas e de toda a cara e complicada logística para que os alimentos cheguem ali.
É por isso que, quanto mais alto, mais caro.
Isso por sua vez impede uma massiva ocupação do vale dificultando a migração. A construção de uma estrada facilitaria e baratearia a chegada de alimentos e todos os produtos. No entanto poderia inchar o vale de maneira insustentável.
De fato a logística atual, de pôr tudo em pequenos aviões, depois, no lombo de animais e nas costas dos pobres carregadores não paresse sustentável, mas é isso o que impede a invasão das terras altas do Nepal.
O turismo transformou o sherpa numa etnia rica no Nepal. Sorte deles serem de um local tão procurado pelo turismo, mas a mesma sorte não tiveram outros povos que habitam regiões mais baixas.
Para eles resta produzir bastante para os turistas e os vizinhos de cima. O farto número de pessoas permite emprego tanto na produção quanto na complicada logística que só não é mais cara, pois eles ainda aceitam trabalhar naquela condição.
A temporada é dura aos carregadores. Eles trabalham duro durante o dia e ficam em lugares insalubres a noite. Passando frio e sem ter dinheiro para, por exemplo tomar um banho quente. A comida que comem e a água que bebem é cara e economizar para sobrar dinheiro no final é certeza de muito sofrimento e pouco conforto.
Os animais, como yaks, estão mais caros que a mão de obra humana, isso por que não há pasto suficiente lá em cima e é necessário levar muitos animais com fardos para alimentar a tropa. Por isso os carregadores humanos ainda são essenciais.
Melhorar as condições de trabalho dessa gente impactaria muito os custos das expedições em montanhas e de trekking. Talvez ficando insustentáveis, uma vez que já são caríssimas. Sem turismo a frágil situação financeira do nepal se deterioraria rapidamente e isso poderia ser ainda pior para o povo pobre.
Ainda não sabemos aonde isso tudo pode levar. Porém fico tranquilo que estamos aqui fazendo tudo diferente, doando todo o lucro do trekking para a melhoria da educação do povo sherpa.
Quem sabe no futuro algum sherpinha Quem estudou na escola de Pattle possa equilibrar melhor as variáveis para que o turismo possa não apenas encantar o estrangeiro, mas também deixar a sociedade nepalêsa mais justa a todos.
Pasang Tamang Sherpa |
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