Sim, foi este total de gente no cume de uma das montanhas mais desejadas dos Andes. Um numero que me deixou muito feliz orgulhoso, pois foram nossos alunos colocando em prática o que ensinamos ao longo destes 10 dias intensos.
Esta história começa com nossa ascensão ao acampamento alto da montanha, um caminhada que começa aos 4700 e termina aos 5300 metros, num refúgio exclusivo à nossa equipe.
Como sempre nem tudo começa a mil maravilhas. Alguns alunos passaram mal na subida e chegaram lá muito cansados e com saturação muito baixa. Medicamos e ficamos na espera por melhoras, mas no meio da madrugada, na correria de aprontar tudo e subir eles não tiveram força ou animo de continuar. Fomos em 17 alunos, eu e o Maximo como guias e os assistentes bolivianos.
Na minha cordada fui com Felipe Magazoni e Willliams Oliveira, que foram meus alunos do curso de escalada em rocha e por lá já estão independentes, escalando sozinhos. Foi uma honra também ensinar a eles este mundo novo do gelo e da alta montanha.
Saímos às 1:30 da madrugada, num passo lento e contínuo que nosso amigo argentino Diego "Coco" Calabro chama de "Jamon y Queso".
Após uma travessia diagonal longa começamos uma subida mais acentuada que começa ao lado de uma greta. Ali, o Williams parou por conta de sua forte tosse, que de tão forte o fez vomitar.
Ficamos ao lado da rota deixando as outras cordadas passar e fomos encontra-los mais tarde em campo argentino, onde outras cordadas, de expedições estrangeiras, nos passavam com velocidade. Hidratamos, comemos um chocolate congelado e continuamos rumo à Pala Chica.
"Pala" é um trecho mais vertical de escalada. Embora este primeiro escalão do Huayna tenha este nome "pequeno", ali é um gargalo. No ano passado muitas pessoas ficaram ali esperando e começaram a sentir frio e voltaram.
Ao chegar neste local nos deparamos com dezenas de pessoas esperando sua vez de subir. Eu fiquei muito bravo com alguns franceses que vieram atrás furando o caminho e passaram na nossa frente atropelando a todos, sem a mínima educação.
Quando entramos na Pala Chica, não perdemos tempo e rapidamente escalamos aquele trecho, parando para descansar no alto, onde me senti mais confiante por ter vencido aquele gargalo num horário ainda cedo.
A vantagem no tempo, no entanto, se tornou um contra tempo. O frio da madrugada aos poucos foi sugando a energia de todos, principalmente do Felipe que era o mais magro. Paramos algumas vezes para descansar, mas parar no frio da madrugada é muito custoso, pois a gente começa a congelar.
Por volta das seis da manhã o Felipe começou a pedir para desistir. Paramos um pouco mais e eu insisti para que ele continuasse, pois sabia que ao amanhecer um novo dia e novo animo nos dá energia que falta para chegar ao topo. No entanto o sol não vinha nunca, a madrugada parecia interminável.
Numa destas paradas fomos alcançados pela Angela Santos e Marcos Cruz, que estavam com o guia Celestino. Acho que a reunião com outros companheiros foi fundamental para que Felipe desistisse da idéia de voltar. O sol nasceu para alegria de todos e começamos a subir a "Pala Grande", o trecho final de ascensão que neste ano não é pela estreita crista que tanto assustam os montanhistas.
Fizemos esta subida no passo Jamon y Queso, passando pelas cordadas que desciam, dentre eles nossos colegas, que deram o incentivo final para alcançarmos o cume. Chegamos lá com ele totalmente vazio e um solzinho tênue de uma bela manhã de inverno boliviano. Pouco depois de fazermos cume, tivemos a companhia de Juan levando mais três colegas: Rafael Penna, Jeni Valentin e Tatiana Batalha. Reunimos todos ali em cima para celebrar o bom resultado do curso.
De 19 alunos que subiram ao campo alto, 15 fizeram cume. No total foram 16 brasileiros, incluindo eu mais o Maximo, que é argentino. Talvez tenha sido um recorde tantos brasileiros num cume de montanha de altitude num único dia. Tenho orgulho de ter participado disso. Claro que não foram só eles. Também levei o Parofes em pó para o cume e lá soltei suas cinzas. Imediatamente a montanha deu sinal de vida e formou-se uma enorme avalanche perto de onde estávamos.
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Alunos cruzam a represa de Zongo para começar a aproximação ao Acampamento Alto do Huayna Potosi. |
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Aproximação ao Acampamento alto do Huayna Potosi |
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Subida ao campo alto do Huayna |
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Subida ao campo alto do Huayna |
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Carregador |
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Represa de Zongo e Charquini. |
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Subida ao acampamento alto. |
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Maximo no refúgio alto. |
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Chegando ao acampamento alto. |
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Claudia Bento |
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Rafael e Felipe. |
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Antonio e Tiago. |
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Billy |
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Refúgio alto, 5300 metros. |
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Esperando o amanhecer. |
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Primeiros raios de sol. |
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Pala Grande antes do sol nascer. |
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Williams no cume. |
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Piolet de Parofes no cume. |
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Williams e eu no cume do Huayma |
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O estreito cume. |
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Vista para a cordilheira Real. |
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Parte do grupo no cume. |