Blog do Pedro Hauck: Tragédia no deserto do Atacama: A enchente em Copiapó

2 de julho de 2015

Tragédia no deserto do Atacama: A enchente em Copiapó

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Ao término da bem sucedida expedição ao Ojos del Salado, todos voltaram com tempo de sobra para descansar e comemorar, pois havíamos descido com um dia de antecedência devido um alerta metereológico que dizia que uma grande nevasca se aproximava dos Andes.

Acordamos tarde e aproveitamos o dia posterior à nossa descida. Copiapó estava com céu azul e fazia calor, como é normal no verão. Almoçamos num restaurante e bebemoramos o sucesso na montanha até tarde no hotel. Quando fui dormir, por volta da meia noite, senti uns pingos de água caindo do céu antes de entrar no quarto e apagar.

No dia seguinte o Eduardo acordou antes que eu, que me espreguiçava na cama. Ele saiu para fora e retornou na sequencia: 

_ Ché, dá uma olhada na janela, fudeu! Falou Edu misturando o sotaque adquirido ao viver há mais de 5 anos na Argentina.

_ Caralho!!! O que é isso!
Reagi a olhar pela janela.

A rua havia sido tomada pela água turva, que descia a rua com força, carregando troncos de árvore, lixo, pedaços de carro e tudo o que havia pelo caminho.

Não sabíamos a proporção do que estava ocorrendo. A internet parou de funcionar e ficamos isolados do resto do mundo, acompanhando a notícia apenas por um radio a pilha.

No saguão estavam alguns clientes que não conseguiram ir ao Aeroporto, que fica bem longe dali. Passamos o dia inteiro sem fazer nada e sem saber o que fazer.

Um dia se passou, mas a água continuou escorrendo pela rua, até que a tarde o fluxo diminuiu e pudemos ir à rua conferir o estrago. Não sei quanto tempo eu fiquei andando pelos escombros de Copiapó. A cidade estava debaixo de lama e o cenário era pós apocalíptico.

O centro estava destruido. Parei para ver um restaurante onde jantamos uma noite anterior a ir para a montanha e que eu também havia frequentado na expedição com Niclevicz e ele estava com cerca de 40 cm de água e com muita lama. Havia quase um metro de lama na praça central e havia um grande caminhão atolado por lá. 

Os mercados estavam fechados, sendo que um deles, onde havíamos feito as compras antes de subir a montanha, tinha sido saqueado. Na maioria das casas faltava água e luz.

No retorno desta visita à destruida cidade, o dono do hotel em que estávamos hospedados nos avisou que havia uma chance de sair da cidade. Ele me explicou um caminho, fiz uma investida para verificar a possibilidade e na volta comecei a carregar o jipe para levar 3 integrantes de nossa expedição até o aeroporto.

No começo desviei de ruas invadidas pela lama, mas para chegar à estrada tive que passar em locais onde foi inevitável passar pela água e barro e tive que ligar o 4x4. Quando fiquei na Ruta Pan Americana, que em Copiapó é duplicada, entrei na pista normal à direita, mas tive que retornar para ir em direção ao aeroporto pela contramão.

Num determinado momento o carro parou na lama, mas aí surgiu uma motoniveladora que abriu o caminho em meio aos destroços e seguindo ela consegui chegar em local seguro e assim ir ao aeroporto, onde conseguimos lugar num vôo. Chegando ali liguei para o dono do hotel que também tem um 4x4 e expliquei o caminho, ainda encontrando ele na volta com o resto da equipe que precisava voar.

Passamos mais uma noite em Copiapó somente eu, Max e Edu e no dia seguinte, também em 4x4, encontramos um caminho para sair em direção à Santiago, tendo inclusive que acionar a reduzida para andar no centro da cidade. Desta forma conseguimos escapar do caos e voltar à casa, via Mendoza, numa viagem de 20 horas de carro sem parar.

Nesta enchente morreram cerca de 15 pessoas, mas teve uma centena de desaparecidos. Dentro os mortos da tragédia há um montanhista, o indiano Malli Mastan Babu que estava escalando o Três Cruces, montanha que escalei dias antes de ocorrer o incidente.

Neste ano escalei o Três Cruces Central, mas em 2013, quando estive ali com o Waldemar Niclevicz escalei o Sul que é um pouco mais alto. Naquela ocasião havia morrido um argentino chamado Ricardo Córdoba. Acho que minha presença nos Três Cruces não dá boa sorte.

Rua tomada pela água na enchente de Copiapó
Lama no centro da cidade.
Fotógrafo clicando o desastre.
Centro da cidade tomado pela lama.
Restaurante tomado pela lama.
Animais no meio da lama.
Cidade tomada pela lama.
Esperando a água baixar. Por sorte sobrou vinho e snacks do dia anterior.

Por pouco a água não invadiu o hotel.
Hotel onde ficamos em Copiapó.
Removendo lama no dia posterior.
Sem combustível, um dos problemas para sair de Copiapó.
Tragédia em Copiapó.
Supermercado tomado pela lama: Sem mantimentos.
Cenário de destruição.
Como ficou o jipe para chegar ao aeroporto.
ônibus atolado na lama aguardava resgate.
Jipe sujo de lama após andar pelo centro de Copiapó.

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