Ele era um pouco mais velho que eu, apenas 3 anos, e também começou a fazer montanhismo na década de 1990, no caso dele durante o exército na Patagônia da Argentina.
Por causa da influência militar, Javi era uma pessoa muito disciplinada e eficiente. Estava sempre pronto, nunca atrasava. Era o primeiro a acordar, o primeiro a comer e quando todos estavam prontos ele já tinha feito tudo e ainda limpado a louça. Eu achava impressionante sua eficiência e o admirava muito por isso.
Muitos podem pensar que ele era metódico, mas o Javi conseguia ser disciplinado e gente boa ao mesmo tempo. Estava sempre sorrindo e alegrando o grupo, dava para ver nitidamente que ele era bom porque gostava do que estava fazendo e por isso fazia tão bem. Era muito bom ter um guia como ele trabalhando ao seu lado.
O conheci em Agosto de 2014 em La Paz, embora trocasse emails com ele há cerca de 2 anos, sempre tratando de expedições nos Andes. Eu estava finalizando a escalada de todos os cumes de 6 mil metros na Bolívia e ele levou dois clientes argentinos para escalar por lá. Jantamos um bife chorizo num restaurante na Sagarnaga.
Depois trabalhamos juntos no Ojos del Salado e Nevado Vicuñas na Puna do Atacama no Chile. Foi uma expedição inesquecível, tanto pelos momentos maravilhosos que o sucesso nos trouxe, tanto pela tragédia que vivenciamos no final com a enchente em Copiapó.
No Ojos del Salado, guiamos com sucesso a expedição do GenteDeMontanha deste ano junto com o Edu Tonetti, numa sintonia muito boa entre os 3. Um argentino, um brasileiro e um meio argentino, meio brasileiro guiando brasileiros e um húngaro. No final, no trecho técnico que chega diretamente ao cume da montanha, fizemos um trabalho em conjunto na segurança do cliente que fechou com chave de ouro a expedição essa sintonia.
Foi muita boa a experiência que tive com ele, certamente muito proveitosa, onde aprendi muito. Javi além de ser ótimo guia e montanhista, ainda era um exímio motorista, fazendo horrores com sua caminhonete 4x4, a Pantera Negra.
Lá no cume do Ojos, pedi a ele para tirar uma fotos minhas. Foi quando eu tirei de um saquinho de magnésio um pózinho e joguei ao vento. Eram as cinzas do Parofes. Javi não entendeu o que estava acontecendo e perguntou ao Edu que lhe explicou. Ele ficou emocionado com o que viu. Mas não sabia que seu tempo na terra também era curto...
Javi morreu em Maio no Denali, a montanha mais alta do Alaska e da América do Norte. Ele estava sozinho e não sabemos ainda o que aconteceu. Seu corpo ficou durante muito tempo na montanha, pois ainda era começo da temporada e demorou até que uma equipe de resgate subisse para resgata-lo. Demorou mais ainda para que ele fosse descansar definitivamente em solo patagônico, pois sua família não tinha dinheiro para pagar a cara transferência dos Estados Unidos até a Argentina. De maneira solidária, todos os amigos brasileiros que trabalharam e foram guiados por ele colaboraram com um pouco e junto arrecadamos mais de 4 mil reais para sua família trasladar o corpo.
Foi muito triste perder o Javi desta forma e é mais triste pensar nas expedições na Puna sem ele.
| Todos nós no cume do Ojos del Salado em 2015. Javi aparece no lado direito da foto na frente de Edu Tonetti. |
![]() |
| Javi dirigindo sua "Pantera Negra" rumo ao Ojos del Salado. |
![]() |
| Javi na entrada da Canaleta do Ojos del Salado. |
![]() |
| Javier Callupan na Puna do Atacama. |
![]() |
| Javier Callupan no amanhecer no Ojos del Salado. |



