Leia o relato anterior da expedição...
Começamos o ano subindo uma montanha, o Sairecabur de 6003 metros, que apesar de ser ligeiramente mais alto que o Licancabur, não é a montanha que mais se destaca na região de San Pedro de Atacama, pois vista de longe não apresenta um cone perfeito e estético como o outro vulcão.
Começamos o ano subindo uma montanha, o Sairecabur de 6003 metros, que apesar de ser ligeiramente mais alto que o Licancabur, não é a montanha que mais se destaca na região de San Pedro de Atacama, pois vista de longe não apresenta um cone perfeito e estético como o outro vulcão.
Se acesso é facilitado por uma estrada de terra que nos leva até os 5500 metros de altitude, onde qualquer 4x4 pode chegar sem dificuldade senão a própria altitude. São cerca de 100 km de San Pedro que podem ser percorridos em cerca de 2 horas.
Não pernoitamos na montanha, fizemos o ataque acordando em nossa pousada em San Pedro, as 5 da manhã. O conforto de fazer isso é surreal, poder sentar pra comer e se arrumar em pé são coisas não muito comuns nas montanhas dos Andes.
Após percorrer o trecho de estrada, estacionamentos o carro na base da montanha aos 5500 metros, ao lado de uma casinha onde deve haver algum tipo de experimento, pois ali ao lado fica a enorme cratera do vulcão. Seu cume rochoso, 500 metros acima, é uma parede da cratera que resistiu à explosão, que deformou o vulcão.
Começamos a caminhar às 9 horas. Sentia bem a altitude, com lerdeza para andar e uma certa sonolência. Fiquei para trás com o Luiz e o Luca abrindo caminho na trilha bem marcada. Foi assim até chegarmos aos 5700 metros, quando igualamos o ritmo e mais tarde passei a frente, até chegar numa encosta mais pronunciada onde há um "acarreo", que é um local onde há muitas rochas soltas e a subida é dificultada.
Ali o Luca começou a sentir a altitude. Deixamos sua mochila pra trás e continuamos subindo o acarreo. Mesmo sem mochila, Luca estava mostrando muitos sintomas de hipóxia, como lentidão, dor de cabeça e fala enrolada. Paramos para comer um energético, mas ele não se recuperou. O Luiz sugeriu se eu quisesse prosseguir. Ajudei um pouco mais a reanimar o guri, fazendo massagem na cabeça, mas foi ele melhorar para tomar a decisão mais prudente de descer junto com seu pai. Isso foi numa altitude de 5870 metros.
Sozinho continuei adiante, interpretando o caminho em meio ao caos de rochas, com blocos imensos que eram maiores que um carro. Não tive problema de navegação e rapidamente achei um bom caminho indo direto ao cume principal, onde cheguei por volta da uma da tarde.
No caminho fiquei pensando muito no meu amigo Parofes, que me deu as dicas da montanha e escalou o Saire alguns anos atrás. Ele está com Leucemia, numa luta que dura 2 anos já. Foi muito emocionante estar pensando nele e de repente perceber que estava no cume. Fiz uma homenagem a ele e espero que ele vença a doença como ele vencia as montanhas.
A descida foi rápida e antes das 15 horas já estava no carro com o Luiz e o Luca, que estava muito bom numa altitude menor. Havia perto um carro 4x4 atolado na areia, era de um casal de suíços. Ajudamos o casal a tirar o carro, mas o homem era muito barbeiro e foi somente desatolar para atolar novamente de uma maneira muito pior. O carro deles era um motor home adaptado e ficou muito perigoso deles tombarem o carro.
Tivemos que praticamente construir uma estrada para o carro sair de ré. Foi esgotante. Quem tirou o carro fui eu, pois eles dirigiam muito mal. No final, o casal me abraçou em agradecimento e queriam me pagar. Não aceitei. Se não fosse por nós, eles estariam fu.....
O Saire é uma montanha fácil, mas não dá pra se enganar: Andes é Andes. Aqui não tem toda a mordomia que tem nos Alpes e por mais que lá tenha uma boa estrada até a base, é sempre bom tomar cuidado e é sempre uma sorte achar alguém pra te ajudar.
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Sairecabur visto da base a 5500 |
Luiz e Luca no começa da trilha. |
Trilha bem marcada no começo |
Começo do acarreo |
Subindo o acarreo, pouco ante da desistência de Luiz e Luca |
Vista para o Licancacabur. |
Vista para Laguna Verde na Bolívia |
Homenagem ao Parofes no cume |