Leia o relato anterior da expedição...
Após a ascensão ao Sairecabur, começamos a nos organizar para escalar o Licancabur, vulcão vizinho ao Saire um pouco mais baixo, com 5920 metros, mas muito mais bonito, com uma forma perfeitamente cilindra e imponente, se elevando mais de 4 km em frente a San Pedro de Atacama.
Após a ascensão ao Sairecabur, começamos a nos organizar para escalar o Licancabur, vulcão vizinho ao Saire um pouco mais baixo, com 5920 metros, mas muito mais bonito, com uma forma perfeitamente cilindra e imponente, se elevando mais de 4 km em frente a San Pedro de Atacama.
Ele faz a divisa natural entre Chile e Bolívia, mas sua ascensão se dá pela Bolívia, primeiro porque o lado boliviano é menos íngreme e depois porque no chileno há diversos campos minados instalados durante a ditadora Pinochet com a finalidade de impedir a imigração ilegal e contrabando do país vizinho. Infelizmente a ditadura se foi e estes campos minados continuam ali.
Sem querer, quando estávamos fazendo o controle migratório na aduana chilena em San Pedro do Atacama, encontramos com amigos montanhistas de Curitiba que estavam regressando do Licancabur e eles nos deram dicas preciosas nos informando dos gastos que teríamos no país vizinho, dentre eles o ingresso no Parque Nacional Eduardo Avaroa e a obrigatoriedade de contratar um guia para nos conduzir na montanha.
Subimos o Passo Hito Cajón com rapidez e em pouco tempo já estávamos no refúgio Laguna Verde para acertar detalhes e ir atrás do guia para o dia seguinte. Conversa vai e vem e enfim encontramos um sujeito baixinho e marrento que se intitulava o único guia. O nome dele era Serafim e ele já tinha escalado os dois últimos dias e por isso parecia não estar muito afim de subir de novo. Fez um preço alto, 500 Bs. e fez suas exigência, dentre elas a de que teríamos que fazer cume em 6 horas. Fiquei ressabiado, pois nossa intenção era aclimatar na montanha e não pra isso não queríamos forçar muito fisicamente.
Acordamos antes do previsto para o ataque, pois havíamos esquecido que na Bolívia era uma hora a menos. Isso nos fez ganhar tempo. Consegui fazer o carro pegar no frio da madrugada e assim partimos nós quatro pela estradinha precária de 4x4 com destino ao vulcão.
Deixamos o carro no acampamento base e começamos a caminhar madrugada a dentro, ganhando altura passo a passo num ritmo forte e continuo, o suficiente para o calor de nossos corpos exigir a retirada de blusas, mesmo no frio da escura noite.
Mas o ritmo foi sendo interrompido por diversas paradas e o frio foi retomando espaço em nossos corpos. O primeiro a sentir foi o Luca, que esqueceu de colocar uma meia mais grossa e logo começou a ficar sem sentir os pés. Ele teve que colocar uma meia mais quente, tirando as botas. Fiz uma massagem em seus dedos para que o sangue voltasse a circular e assim continuarmos.
Após os pés, veio o frio nas mãos. O Luca começou a ficar com os dedos duros e sem sensibilidade. Após mais uma sessão de massagem, fiz o sangue circular novamente e recomeçamos.
O desagradável de andar com guias obrigatórios é que eles são mais fiscais particulares do que condutores propriamente ditos. Como sabíamos que o Serafim estava de saco cheio da montanha, eu tinha que motivar meus parceiros a melhorar o ritmo, pois seriamos obrigados a baixar sem fazer cume, mas não foi possível, pois com o ganho de altitude, todos se cansaram o ritmo ficou lento, quase parado.
Quando já eram quase 9 da manhã, o Luiz não estava com energia suficiente para continuar sem parar para descansar. Nosso guia já estava ficando impaciente e eu via na cara dele aquela vontade de dizer: _vamos descer!
Acabou que o Luiz percebeu que não ia conseguir subir e aceitou a proposta do Serafim de ir comigo e o Luca até o cume. Faltavam 150 metros verticais apenas!
Como já havia passado o prazo das 6 horas, botei bastante pilha no Luca e ele correspondeu, andando bastante rápido. Fizemos os 150 metros finais em apenas 40 minutos, o suficiente para salvar nossa escalada.
Chegamos com o tempo totalmente encoberto, impossibilitando a visão das montanhas vizinhas e do pequeno lago existente na cratera do vulcão. Mal tivemos tempo de tirar fotos e comemorar e já fomos seguindo Serafim, num caminho de descida, para evitar “los vientos fuertes”.
Foi uma descida rápida, pelo meio do “acarreos” que são rampas de cascalho soltos, onde dá pra descer surfando e subir sofrendo. E assim, em poucos minutos, nos encontramos com o Luiz que teve a ótimo notícia que havíamos feito cume. Foi um momento emocionante ver a felicidade do pai abraçando o filho.
Levando mais algumas horas na descida e neste tempo quebramos o gelo com o guia, que ficou muito feliz com nossa escalada, se tornando nosso amigo. Ele deu a notícia de que a pessoa mais jovem que ele sabia ter subido o Licancabur havia sido justamente um garoto de 15 anos da França. Com isso podemos afirmar que o Luca foi uma pessoas mais novas a escalar a montanha, pelo menos em tempos históricos...
Digo históricos pois o Licancabur é mais outra montanha que já havia sido escalada pelos Incas. Na base da montanha há diversas ruinas de acampamentos feitos por eles sem suas homéricas escaladas. Não dá pra saber se no passado uma criança Inca já escalou a montanha. De qualquer forma, subir o Licancabur, tanto hoje quanto antes, é uma tarefa difícil, que exige muito fisicamente e por isso fazer ela com 15 anos de idade é certamente um grande feito.
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Licancabur, vista de qualquer lugar em San Pedro do Atacama. |
Parada para o chá de manhã. |
Subida sem fim. |
O guia Serafim na frente |
Luca indo para o cume. Muito frio |
Luca chegando no cume. |
Luca e eu no cume do Licancabur, 5920m. |
O Guia Serafim na descida e a Laguna Verde no Horizonte. |
Vulcão Juriques entre nuvens |
Luiz abraça Luca na descida |
Comemorando abaixo das nuvens |
Ruinas Incas na base da montanha |
Vista da Laguna Verde de Laguna Blanca |
Guia Serafim, primeiro foi durão, mas depois se tornou um grande amigo. |