Ruínas de Santa Rosa de Tastil
Estar em San Antonio é parte da aclimatação, pois a cidade fica numa altitude de 3800 metros, no entanto, apesar da facilidade de estar aclimatando num local urbano, lá não é o local mais agradável que existe.
San Antonio é uma cidade indígena, como todas do altiplano. Aliás, lá é uma extensão da Bolívia e é uma região muito carente. Por isso, os atrativos são sempre fora da cidade, como por exemplo o viaduto La Polvorilla, onde passava o famoso "Trem a las Nubes". Por lá passa também a famosa Ruta 40, que corta os Andes argentinos de Norte a Sul, sendo que ali fica o ponto mais alto da estrada, a Abra del Acay, que chega a quase 4900 metros de altitude. É uma cidade que poderia ser o ponto de partida pra muitas montanhas, como o próprio Acay, o Quewar, Macon, Tuzgle, Chañi, Llullaillaco, Socompa e tantas e tantas outras... Mas não é, pois eles não sabem explorar bem os destinos montanhísticos da região, o que não é ruim, pois assim estas montanhas se preservam como locais selvagens e remotos.
San Antonio de los Cobres é Argentina, Bolívia ou Afeganistão??
Viaduto La Polvorilla com Luca e Luiz e nossa viatura!
Abra del Acay nevado.
Fizemos uma aclimatação visitando locais turísticos como a Abra del Acay e o viaduto. Num destes passeios notamos que o pneu estava vazio e paramos numa borracharia para consertar. Um dos parafusos da roda estava tão apertado que o borracheiro entortou nossa chave de roda, o que deixou o Luiz muito preocupado, pois ela ficou maleável, a um passo de quebrar se tivéssemos que trocar outra roda. Tentamos em vão comprar uma nova chave, mas em San Antonio não tinha...
Outro problema que enfrentamos em San Antonio foi o mau tempo. Parece improvável, mas estava chovendo naquele deserto, o que nas montanhas virava neve! Pegamos o Abra del Acay nestas condições e por conta disso tivemos que mudar nossos planos originais, que consistia em escalar o Quewar. Decidimos ir ao Macon...
Para isso nos dirigimos à região mais remota da Puna, indo à direção à Tolar Grande, atravessando o deserto de altitude, junto à salares e muitos vulcões.
A estrada estava boa, toda de terra é claro! O local é super remoto e desolado, é um lugar de passagem somente, ninguém mora lá, ou melhor quase ninguém. Quando estávamos passando por um dos poucos locais habitados, o Salar de Pocitos, nosso pneu estourou! Ficamos com muito medo, pois estávamos com a chave de roda torta e não tinha quase ninguém no povoado por causa das festas de ano novo. Com sorte conseguimos uma chave nova, mas não outro pneu.
Lhamas em Santa Rosa de Pastos Grandes na Puna.
Pneu estourado...
... no meio do nada
Por conta do pneu, decidimos ir ao Chile, pois em San Antonio não iriamos achar um. Então desistimos de ir ao Macon e fomos ao Paso de Sico atravessar a fronteira.
A estrada por lá é muito bonita, paramos diversas vezes para apreciar a paisagem, mas não dá pra se enganar, o deserto é perigoso e numa curva vimos o que nunca pode acontecer, bater o carro e ficar perdido por ali.
Não tivemos problemas em atravessar a fronteira, no lado chileno, há um posto avançado dos Carabineiros, que é a policia militar chilena. Quando paramos lá para fazer o controle e voltamos ao carro, percebemos que estávamos com outro pneu furado. Ou seja, estávamos na m....
De todos os problema o menor, pelo menos estávamos com os carabineiros e por sorte eles estavam indo para San Pedro com uma caminhonete. Aceitamos a carona e levamos nossos pneus para arrumar. São 150 km de onde estávamos para a cidade, mesmo não tão longe, o local que estávamos era bem remoto.
No meio do caminho os militares nos avisou que iriam parar apara ajudar um carro com "pane". Após um certo tempo, quando estávamos passando pelo salar Aguas Calientes, vimos um sujeito correndo como louco com os braços para o alto. Fomos em sua direção e era o dono do carro em pane, que na verdade não tinha acontecido nenhuma pane, ele simplesmente chegou muito perto do salar e atolou o carro.
Quando abrimos a janela para perguntar o que havia acontecido, percebi que ele era brasileiro. Seu nome, Ricardo Rapozo, um verdadeiro figura. Não tivemos dificuldades em desatolar seu carro, claro, ajudados com o 4x4 dos Carabineiros.
Voltei dirigindo o carro do Ricardo, um Nissan alugado no Chile, foi bem engraçado, um cara intelectualizado com muita experiencia de vida bacana, com o qual me identifiquei bastante. Foi uma conversa bem agradável até San Pedro, onde chegamos a tempo de curtir a virada do ano.
Nos hospedamos num hotel bem simples, pra não dizer outra coisa, onde Ricardo estava e fomos para a rua principal da cidade procurar um restaurante para passar a virada. É minha segunda vez nessa cidade. Que contraste o deserto da Puna com San Pedro e seus restaurantes descolados, com gente de todo mundo, gente bonita, bem vestida... e lá em cima aquela solidão e desolamento. Foi meu segundo reveillon seguido o deserto.
O deserto é lugar de passagem. A gente passa, um pouco dele fica na gente e um pouco da gente fica nele.
Paisagem vulcânica no Paso de Sico
Segundo pneu furado no dia.
Salar no meio do caminho.
Paisagem ao pôr do sol....
Ricardo e Luiz no Reveillon
Comida surreal para quem estava perdido no deserto....
San Pedro cada vez mais descolada... Surreal
Queimar as coisas ruins, tradição do reveillon chileno
Luca, Luiz, Ricardo e eu em San Pedro. Feliz año!!!!
|