Há muitos e muitos anos eu passo pela Régis Bittencourt (BR 116) sentido Curitiba x São Paulo e sempre me chamou a atenção uma montanha bastante escarpada, mas não muito alta, alguns quilômetros antes de Cajati. Diversas vezes parei no comércio simples que existe na beira da estrada e perguntei o nome daquela bela formação montanhosa, se existia trilha ou se alguém já tinha subido até o cume. A resposta sempre foi negativa e o nome da montanha sempre variou entre Braço Feio e Serra do Azeite.
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Serra do Azeite, foto tirada em 2012 |
Acontece que "Serra do Azeite" é o nome de todo o conjunto de montanhas que existe ali, entre o planalto de Alto Turvo e Cajati. Braço Feio é o nome de um bairro rural e também de um rio que nasce naquele conjunto de picos de forma escarpada e florestal que lembra muito o Marumbi, com a existência, inclusive, de um pico um pouco mais baixo e meio rochoso que lembra bastante o Abrolhos.
Eu sempre tive vontade de escalar estes cumes, mas nunca sequer tentei armar uma investida com os amigos, eis que nesta semana o Johny foi pra São Paulo e voltou com esta proposta. Ele jogou a ideia no Facebook e algumas pessoas a encamparam. Com uma semana de chuva, poucos acreditaram que isso fosse realmente sair, mas eis que a previsão se mostrou positiva e sexta a noite fechamos um grupo: Johny, Julio Fiori, Vitamina e eu. Sim, tivemos a companhia ilustre do Vitamina!
Acordei um pouco antes das 4 da manhã para tomar um café reforçado pra logo pegar todo mundo e cair na estrada rumo a São Paulo. Todos distraídos conversando muito, dava preguiça em pensar que teríamos que navegar em serras totalmente desconhecidas, sem trilha e abrindo a vegetação no facão. Por isso, ao chegar no Braço Feio, com a neblina impossibilitando a visão, fui tomar uma Kaiser, quer dizer, um suco de Maracujá, antes de começar.
Aproveitando para conversar com os locais, puxamos papo pra extrair informações e descobrimos o de sempre. Não se sabe nada!! Histórias de onça que habita a montanha e fantasias com ouro escondido em fendas vinha de um local, que de local não tinha nada. Após o Vitamina perguntar o nome do sujeito, ele me diz como se chama e depois fala seu apelido: _ Todo mundo aqui me conhece como pernambuco! Ah, obrigado...
Saímos pela estradinha do bairro em busca de um lugar para se aproximar da montanha. O Johny tinha um pedaço da carta topográfica com escala de 1:50.000. Meu GPS estava sem pilha. Então navegamos com a carta e um iphone, onde descobrimos que seria melhor percorrer um vale que desce suavemente do cume principal da serra. A idéia seria andar pelo leito do rio e depois varar mato até o topo.
No entanto nesta empreitada a sorte esteve em nosso lado desde o começo. Descobrimos um caminho que entrava no vale e várias trilhas que deveriam ser usadas por caçadores e lenhadores (havia muita tábua no caminho). Fomos escolhendo os melhores caminhos na bifurcação, passando por algumas clareiras onde haviam plantações de abacaxis achamos um colo ideal para penetrar no mato virgem e lá fomos nós nos revesando na tarefa em empunhar o facão.
Uma vez no mato, fomos novamente escolhendo bons caminhos, abrindo uma picada que poderá se tornar uma bela trilha no futuro. Tivemos dificuldades, com unhas de gato e bambus fogo rasgando a pele, mas mesmo assim, a divisão de tarefa nos permitiu avançar rápido.
Foi um vara mato divertido, conversávamos muito sobre tudo, deixando algumas gargalhadas romper o silencio das matas. Paramos vez e outra quando encontrávamos algo diferente, como um riacho, ou para subir numa árvore pra ver se de fato nos encontrávamos no rumo.
Assim, por volta das 13 horas chegamos num sub cume em cima de umas grandes pedras (granito) onde pudemos apreciar toda a Serra do Azeite e o cume principal, uns 20 metros mais alto, próximo, para onde fomos após um lanche rápido.
Tínhamos a impressão que ia ser fácil, devido a presença de campos de altitude. No entanto, os campos eram na verdade um emaranhado de arbustos que iam até o peito e que foram muito difíceis de transpor. Tive a missão de abrir caminho com o corpo, me jogando sobre aquele mato numa posição que rendeu gargalhadas a todos, pois parecia que estava nadando no meio da quissassa. Deu certo e chegamos ao cume mais alto sem maiores problemas após cerca de 6 horas de caminhada, muito rápido para um cume fechado como este.
Fizemos a descida em apenas 2 horas. Foi uma caminhada prazerosa no caminho aberto, nem lembramos que no grupo tinha um "senhor" de 83 anos de idade e 75 anos de montanhismo. Só caiu a ficha disso depois, pois em momento algum demos uma colher de chá pro Vita, é impressionante sua performance física!
De volta os quiosques na beira da estrada, a notícias que uns loucos tinham escalado a Serra do Azeite já corria de boca em boca e enfim pude comprovar com uma local (que nasceu ali) que aquele cume que escalamos nunca tinha tido uma ascensão, mas outros sim. Se é verdade eu não sei, mas pouco importa.
Subir uma montanha fechada abrindo trilha tem sempre um sabor de conquista. Neste caso este sabor foi acentuado pelo fato de ter sido numa montanha que há muito tempo eu namorava e que pouco se sabe sobre ela. Ainda mais o fato de termos feito ela tão fácil e tão boa companhia, como foi fazer ela com o Vitamina. Só depois ficamos sabendo que o Vita fez 83 anos naquele dia. Ele não falou nada sobre isso e ter aberto esta trilha deve ter sido pra ele o presente de aniversário.
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A Serra pertence a um parque estadual. |
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Toras transformadas em tábuas apodrecem em trilha |
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Trilha que aproveitamos para aproximar da montanha. |
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Roça no meio da mata. |
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Fiori abrindo caminho na quissassa. |
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Vita e Johny no meio dos bambuzinhos |
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Navegação à moda antiga |
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Vista do topo da pedra grande |
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Indo para o cume principal com a pedra grande ao fundo |
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Vita me cumprimenta no cume. |
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Dino e a Lhama no cume do Braço Feio. Rod. BR 116 ao fundo. |
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No meio da Serra do Azeite achamos aquele piquinho distante. |
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Todos no cume |
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Panorâmica do cume. |