A Semana Brasileira de Montanhismo cumpriu a expectativa de ser um evento histórico e eu tive o prazer de participar na maior parte dos eventos e realizar uma cobertura para o site AltaMontanha (veja o resumo dos acontecimentos aqui).
Particularmente fiquei muito contente de ver temas que há anos eu venho chamando atenção neste blog e no próprio AltaMontanha que dominaram a discussão, as proibições por causas ambientais. No evento eu vi pessoas levantarem a bandeira que a anos eu levanto, que é a filosofia de que um parque fechado à visitação não conseguirá atingir seu objetivo de preservar a natureza, pois não se preserva o que não se conhece.
Na SBM ficou evidente que as idéias preservacionistas, que são aquelas que presam por parques protegidos por redomas de vidro e fechados para a visitação, onde apenas é permitido contemplações superficiais, mas sem a presença do ser humano e predomínio de áreas intangíveis é uma filosofia falida que ao invés de preservar a natureza afastou os potenciais protetores e entusiastas e permitiu que pelas portas do fundo, verdadeiros criminosos ambientais, como caçadores, palmiteiros e madeireiros pudessem agir sem serem vistos. Enfim, mostrou um caminho que é aquele que quem gosta de natureza e aventura quer: Parques abertos para trilhas, escaladas, acampamentos e esportes.
A participação de diversos gestores de parques e autoridades ambientais deu um ar de legitimidade ao encontro e esperamos que em breve possamos ver na prática tudo o que foi discutido na teoria.
Se de um lado houve este progresso, de outro veio a tona um outro problema que aventei recentemente que é a questão jurídica que envolve a questão do risco. Agora ficou bem claro que existe esta outra frente, que advém da visão do estado de quererem proteger seus cidadãos, mesmo que isso venha a restringir sua liberdade. É o que acontece com a escalada, que é uma atividade de risco. Muitos gestores de parques proibem a prática, pois sabem que eles poderão ser responsabilizados em casos de acidentes dentro das unidades de conservação que eles administram.
No Brasil, nunca houve um gestor de parque que tenha sido responsabilizado por um acidente envolvendo esporte de aventura, mesmo assim há proibições de montão por este motivo. Este é outro problema sério que as federações de montanhismo tem que resolver.
A SBM foi muito bem organizada e foi muito especial. Dificilmente outra SBM conseguirá bater esta no quesito organização e escolha dos locais de realização, fica aí um desafio para as próximas organizações. Infelizmente o que eles não puderam prever era o tempo, que na durante a semana foi predominantemente de chuva. Claro que entre uma nuvem e outra pudemos curtir um pouco das escaladas na Urca. Fazendo uma parceria com a Camila e com o Edson "Dubois" Struminski, pude repetir algumas vias clássicas na Babilônia e no Pão Açúcar, dentre elas a escalada da Italianos, começando pela primeira enfiada da Cavalo Louco.
Particularmente foi muito bom ter escalado com o Dubois, que é uma pessoa bem experiente e que participou do 1o Congresso Brasileiro de Montanhismo em 1993. Ele escreveu uma boa resenha sobre o evento (pode ser lida aqui). Além de escalador, Dubois é também doutor em Engenharia Florestal, participar com ele e outros escaladores doutores do Encontro Científico também foi uma boa experiência, aliás, um experiencia em que roubei um pouco a cena, aproveitando a ausência de um convidado para falar um pouco de geomorfologia das montanhas, que é meu tema de doutorado.
Montanha é relevo e relevo é geomorfologia. No encontro científico se falou de tudo na montanha, fauna, flora, água, clima, solos, geologia, mas e o relevo? e a montanha propriamente dita? Essa fica minha singela crítica ao evento, se eu não tivesse roubado a cena, isso não teria sido discutido através de um viés temporal, que é como as montanhas brasileiras foram formadas e quando.Espero que no próximo encontro eu possa participar de novo, como convidado, com dados mais concretos do que apenas as hipóteses já conhecidas.
Roubando a cena no encontro científico