A história que se seguiu, todos já sabem. A improvisação e o espírito aventureiro levou a equipe composta pelo ferreiro José Teixeira Guimarães, o caçador Raul Carneiro e os irmãos Acácio, Alexandre e Américo Oliveira ao cume desta imponente agulha, feito que é considerado por muito como o marco inicial do montanhismo nacional, embora existam diversas manifestações montanhísticas anteriores à este feite. Nenhuma delas, no entanto, tão desafiadora.
Um pouco mais de 99 anos depois, tive a chance de escalar esta montanha, que alimentou meus sonhos desde garoto. Eu achava que iria encontrar uma montanha extenuante, mas depois de 17 dias de escaladas em Salinas, a ascensão ao Dedo de Deus foi bem mais fácil que imaginei...
Começamos a caminhada, Tacio, Aline e eu e logo que entramos na mata senti como se estivesse no Marumbi. O Dedo também fica na Serra do Mar e como a montanha paranaense, percorremos uma trilha bem ingreme até chegar nas rochas. No Dedo, no entanto, há mais lançes com ascensão em via ferrata, pois lá há muitos trechos de rocha com cabos de aço. Depois de subir bastante por este cabos, chegamos na base da via aberta pela equipe de Teixeira de 1912. Lá começa a escalada propriamente dita.
Um lance de chaminé e um pouco de escalada de baixa dificuldade técnica dá acesso à um platô e este platô a uma grande fenda que mais parece uma caverna. Este é o trecho mais dificil da ascensão: Chaminé "Arranca Botão";
Esta chaminé é quase um lance de espeleologia. Temos que entrar fundo na fenda e desviar de umas rochas entaladas no vão, passando por cima delas, quase raspando a cabeça no "teto" da fenda, em movimento apertados, pra não dizer claustrofóbicos...
Após vencer este lance e esperar os colegas, continuamos até chegar em outro platô que novamente dá acesso à outra chaminé, desta vez muito mais fácil. Do fim desta cordada, há uma outra chaminé e enfim chega-se à um platô onde há uma escada até o cume. Pelo trajeto pudemos ver e, inclusive, proteger a escalada usando os grampos com argolas confeccionados pelo José Teixeira em sua primeira ascensão.
Deste platô, vencendo a escada, já estamos no cume. Ali, há quase 100 anos atrás, foi utilizado um tronco para vencer esta parede. Tal trecho é de fato impossível de ser escalado, primeiro porque há um vão entre ela e o platô e depois porque ela é negativa. A improvisação, com o método do tronco foi uma invensão brasileira que na época foi indispensável para a conquista. O tronco foi mais tarde substituido por uma escada e esta pela atual.
Subir no Dedo por esta via não é bem uma escalada, ou melhor, não é uma escalada moderna. A graduação atual, que rotula a escalada como um 3 grau IIIsup, não traduz as reais dificuldades da ascensão, que pesa muito mais o físico do que o técnico, além do psicológico, é claro!
Não sei porque demorei tanto pra escalar esta montanha. Pretendo voltar em breve pra fazer outras rotas...
Subindo até a base da parede
Cabo de aço aposentado
Serra dos Órgãos e o Garrafão
Escalavrado e Dedo de Senhora
Primeiro lance de escalada
Saindo da chaminé "arranca botão"
Última chaminé
O velho e o novo: Grampos de Francisco Teixeira e modernos mosquetões
Platô antes do cume
Teresópolis
Eu no cume
Tacio e Aline no cume, Eslavrado e baixada fluminense ao fundo