Minhas experiências me levou a questionamentos sobre a evolução fitogeográfica e geomorfológicas daquelas paisagen, onde pude aprender e apreciar este belíssimo dominio de paisagem 100% brasileiro que destoa bastante do tipo normal de paisagens do resto do país, onde predominam feições de ambiens úmidos.
Reproduzo abaixo uma revisão (bem simples) do que é a Caatinga brasileira, publicado originalmente em meu trabalho de conclusão de curso em Geografia:
HAUCK, Pedro. A. Matas, campos e mandacarus: A Teoria dos Refúgios Florestais aplicada ao estudo da paisagem na Serra dos Cocais entre Valinhos e Itatiba - SP. Rio Claro 2005 (Trabalho de conclusão de curso - TCC).
O Domínio Morfoclimático Semi-Árido das Caatingas:
O semi-árido nordestino é um dos três domínios sul-americanos de climas secos. Comporta-se como uma paisagem um tanto quanto contrastante, tratando-se de um continente que apresenta um predomínio de climas úmidos bastante chuvosos e ricos em recursos hídricos. Este domínio se estende por uma área de aproximadamente 720 milhões de quilômetros quadrados, ou seja, aproximadamente 10% de todo o território brasileiro.
As razões da existência de um grande espaço semi-árido, insulado num quadrante de um continente predominantemente úmido, são complexas. A massa equatorial marítima, movimentada pelos alíseos de SE, com ar quente e seco é responsável segundo Ab´Sáber (1980a) pela formação de uma célula de alta pressão que dificulta durante os meses de Julho a Dezembro a penetração da massa equatorial continental que no verão se move até o sul do pais, mas que no Nordeste não consegue regar os sertões com chuvas constantes. A massa de ar tropical atlântica, penetrando pelo inverno de leste para oeste, beneficia apenas a Zona da Mata.
O que caracteriza o clima semi-árido não é a ausência de chuvas, mas sim o longo período de estiagem condicionado por tais fatores. A média geral de precipitação na caatinga está entre 200 mm a no máximo 800 mm de chuvas. Apesar de ser um valor baixo para padrões brasileiros, o que justifica o semi-árido no nordeste é o fato destas chuvas ocorrerem apenas em poucos meses por ano.
Tais condições climáticas influenciam a hidrologia regional do nordeste. Diferente de outras regiões do Brasil onde os rios apresentam-se perenes nos períodos de estiagem, no nordeste seco o lençol se aprofunda e resseca os rios, fazendo com que estes tenham a característica de intermitência na maior parte do ano.
Diante de tais características fisiográficas, a paisagem fitogeográfica do nordeste semi-árido é constituída de uma vegetação adaptada à deficiência hídrica e ao calor dos sertões, caracterizando-se por ser um agrupamento vegetal xerófito e/ou heliófito. Tal vegetação é assim descrita por Fumdham (1998, p. 22-23):
(A caatinga é) uma vegetação quase impenetrável, formada por arbustos fracos, mas extremamente ramificados, com galhos curtos e duros, com aspecto de espinhos. O tronco das árvores é liso, as folhas finas e pequenas, a folhagem é leve e deixa passar a luz. As ervas desaparecem, salvo durante a curta estação de chuvas em que formam um carpete; os arbustos, de onde emergem algumas árvores de pequeno porte, sete a oito metros de altura, tecem um emaranhado com as numerosas trepadeiras. Os vegetais espinhosos abundam, as plantas suculentas também.
Estas características são adaptações morfológicas, anatômicas e fisiológicas que combinadas permitem às plantas resistirem às adversidades. As mais aparentes são as relativas à sua morfologia, como folhas pequenas e espinhos, procurando limitar a superfície em contato com o ar para reduzir as perdas de água, limitando a evapotranspiração. Plantas com tubérculos ou outros tecidos capazes de armazenar água, como as cactáceas também são freqüentes.
A fisiologia das plantas da caatinga também é particular. Nas horas mais quentes do dia as folhas ficam oblíquas em relação aos raios do sol e os estômatos das plantas permanecem abertos por pouco tempo. Outra tendência aparente das espécies da caatinga, como modo de reduzir a perda de água, é a queda de folhas na estação da estiagem, que dá a característica fisionômica da paisagem de mata seca (FUMDHAM, op.cit.).
Esta vegetação, ainda que rudimentarmente, recobre as regiões mais secas do Nordeste, em sua maioria situada em depressões interplanálticas. Depressões estas que são morfogenéticamente remetentes a uma pediplanização que esta porção do continente sul-americano sofreu durante o período Terciário. Tais pediplanos apresentam-se segundo Ab´Sáber (1980a) sob a forma de colinas rasas, de grande extensão, embutidas entre maciços antigos, de onde se elevam inselbergs resistentes aos processos desnudacionais terciários, chapadas, cuestas e, eventualmente, em áreas de rebaixamento de planaltos cristalinos.
A decomposição de rochas é fraca, com mantos de alteração variando segundo Ab´Sáber (2003) via de regra entre 0 e 3 metros. É comum o afloramento de lajedos e a pedogênese privilegia o aparecimento de cascalheiras junto ao solo, as chamadas “malhadas”. Neste ambiente predominam solos do tipo vertissolos e eventualmente aridissolos (AB´SÁBER, op.cit.).
Referencias bibliográficas:
AB´SÁBER, A. N. O domínio morfoclimático semi-árido das caatingas brasileiras. Craton & Intracraton escritos e documentos. São José do Rio Preto, IBILCE-UNESP, nº6, 1980(a).
AB´SÁBER, A. N. Os Domínios de Natureza do Brasil: Potencialidades paisagísticas. Ateliê Editorial, São Paulo, 2003.
FUMDHAM, Parque Nacional Serra da Capivara, Piauí, Brasil. Fundação do Museu do Homem Americano, São Raimundo Nonato 1998. 94 p.