Pico Sem nome, Sábado
Foi assim este fim de semana, com chuva que não cessou nem por um minuto, mas mesmo sabendo disso, eu e meus amigos fomos para a Serra do Mar caminhar, pois escalar no Anhanagava sim estaria difícil.
A montanha escolhida foi o desconhecido Pico da Concórdia, um local esquecido pelos montanhistas paranaenses, mas que estamos tentando resgatar sua história...
Saímos da capital das chuvas bem cedo e logo já estávamos caminhando pela bela, molhada e gelada mata, enxugando as folhas da floresta e lavando as botas com a lama preta do solos recoberto de folhas mortas.
O Concórdia fica em um local distante no tempo, atravessa uma região com grandes árvores, que com o ganhar de altitude ficam pequenas e de dificil penetração, contribui com isso as bromélias e os bambus, que nos rasgam a pele e corta as canelas.
Vista do cume do Concórdia
Bambu
Paisagem vista do cume da montanha que não vi
Apesar da chuva, chegamos ao Concórdia e ainda continuamos mais a frente, até chegar em um cume que não sabemos qual é, pois não deu pra ver nada. Não sabemos seu nome e nem como ele é...
No final, mesmo sem saber onde estávamos e sem ter uma razão para estar lá, fizemos uma caminhada muito divertida, sem nenhum propósito, apenas de fazer montanha, sob qualquer que seja a condição, gozando daquilo que mais me atrai no montanhismo, a liberdade, algo tão raro hoje em dia...
Falando em liberdade, me animo em saber que há pessoas do bem que ainda lutam para termos de volta nossa liberdade perdida. Obrigado André Ilha por representar o montanhismo e levar para dentro dos órgãos ambientais nossas demandas e desejos de liberdade, mostrando que montanhismo e conservação são sinônimos. Vejam na íntegra o email que recebi do André ontem a noite:
Para aqueles que não me conhecem, sou montanhista e escalador bastante ativo há 36 anos, e há alguns anos venho ocupando cargos na área ambiental do governo do estado do Rio de Janeiro, sendo que atualmente sou diretor de Biodiversidade e Áreas Protegidas do Instituto Estadual do Ambiente - INEA.
Devido à minha formação, acompanhei de perto, ao longo dos anos, as crescentes restrições à prática de esportes como caminhadas, escaladas, voo livre, BASE jump, surfe e derivados, canoagem, mergulho e outros em parques nacionais e estaduais em todo o Brasil, baseadas na concepção, ao meu ver equivocada, de que a visitação nos mesmos deveria ser tão restrita quanto possível, dentro do conceito de "parque-fortaleza", ignorando a própria lei que afirma textualmente que parques são unidades de conservação que visam conciliar a proteção da fauna e da flora com o uso público ordenado ("atividades de recreação em contato com a natureza e de turismo ecológico", segundo a lei que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação - SNUC). E, no caso dos esportes de aventura, também o medo exacerbado sobre as consequências de eventuais acidentes ocorridos no interior destas unidades de conservação levou a restrições despropositadas, que vão desde o seu banimento total até a obrigatoriedade de contratação de um "condutor de visitantes", ou "monitor ambiental" ou qualquer outro nome que se lhe dê para se colocar os pés dentro destes espaços protegidos. No caso do montanhismo, sobre o qual posso falar com mais propriedade e conhecimento de causa, isso significa que um escalador experiente hoje é forçado a contratar (a bom preço!) um jovem local, muito menos experiente do que ele, para fazer um roteiro tecnicamente desinterressante no prazo mais curto possível. Ou seja, para quem é do meio, isso simplesmente significa a morte da prática amadora de tais esportes em áreas protegidas, e mesmo a prática comercial é encurralada em níveis desanimadoramente modestos.
Ciente do equívoco desta postura, que colhe desafetos em vez de aliados para a criação e preservação de parques estaduais e nacionais por todo o país, abri um amplo debate interno no INEA sobre o tema com vistas a elaborar um ato legal sobre uso público em nossos espetaculares parques estaduais (Três Picos, Ilha Grande, Serra da Tiririca, Pedra Branca e outros) que conciliasse a indispensável e prioritária preservação do patrimônio natural neles contido com a visitação pública ordenada e responsável, porém livre de restrições descabidas. Em poucas palavras, um ato que mudasse a lógica perversa de que toda visitação deve ser proibida, salvo quando expressamente permitida, por outra onde toda visitação é permitida, salvo quando expressa e justificadamente proibida - o que impacta positivamente, em maior ou menor escala, TODOS os esportes que vocês cobrem e provavelmente também praticam.
Pois após amplo debate interno e posterior consulta pública através da página do INEA na internet, temos a grata satisfação de anunciar que no Dia da Mata Atlântica, 27/5, quinta-feira, às 9 horas, no Parque Lage (bairro do Jardim Botânico - Rio de Janeiro), teremos a tão aguardada assinatura, por parte do Governador Sérgio Cabral, do decreto que estabelece as regras para uso público nos parques estaduais do Rio de Janeiro. É um ato amplo, que começa com conceitos e princípios, e depois aborda quase todo o espectro da visitação em parques estaduais, sempre respeitando as diferentes motivações que levam as pessoas a procurar tais áreas.
Na mesma solenidade, teremos ainda o lançamento do segundo volume de uma série relatando experiências dos Núcleos de Regularização Fundiária dos órgãos ambientais estaduais do RJ, SP e MG e a certificação de oito novas Reservas Particulares do Patrimônio Natural (espécie de parques privados, mas que oficialmente integram o Sistema Nacional de Unidades de Conservação - SNUC.
Tendo em vista a importância deste momento, e todo o debate conceitual que está por trás dele, convido-os a cobrir este evento para os seus respectivos veículos - se possível comparecendo pessoalmente à solenidade, se não de outras formas que julgarem pertinentes. Um release estará disponível na página do INEA (www.inea.rj.gov.br) ao longo desta semana.
Obrigado pela atenção, e um abraço.
André Ilha