Há muito tempo queria conhecer esta montanha, que tem um belo formato, preservando uma superfície plana e inclinada em direção E, nitidamente falhada e um cume saliente onde se desponta algumas rochas.
Então após muito tempo de combinação e enrolação, fui com meu amigo carioca que mora em São Paulo Paulo Roberto Felipe da Silva, vulgo Parofes, que veio ao Paraná somente para ir à montanha.
Acordamos sábado tarde, pois sexta foi a noite do jantar da montanha que em sua 37 edição reuniu quase 400 montanhistas de várias gerações, muito legal!
Chegamos à fazenda do Dilson às 12 horas e começamos a caminhas às 12 e 30, debaixo de um calor e sol forte. A caminhada inicial, subindo a crista do Caratuva que localmente recebe o nome de “Morro do Getúlio”, é uma pernada cansativa, mas logo que despontamos por fora da vegetação e já podemos ver a paisagem ao redor, nos enchemos os olhos de tanta beleza. Eu, com olhos atentos, observo as falhas geológica que bascularam aquele relevo, ao mesmo tempo, Parofes busca uma boa imagem em sua câmera fotográfica.
Um pouco de caminhada e logo já estávamos no cume do Taipa, onde deixei as coisas com o Parofes e fui buscar água mais abaixo, numa tarefa que foi dificultada pela escuridão da noite que acabara de chegar. Com água, fizemos um pernoite de bivaque em um descampado no primeiro cume da montanha.
Após a refeição escondemos nossos pertences e fomos em direção ao Ferraria de ataque. A descida era a mesma que eu fizera na noite anterior para buscar água e foi bem tranqüila, até quando alcançamos o colo entre as duas montanhas, onde só haviam bambus, que impediam completamente a trilha.
Passado o pior, a subida no Ferraria foi tranqüila, pois ali há uma belíssima florestinha nebular com um bosque muito agradável. É assim a subida o tempo todo, até que chegamos em um trecho rochoso que vencemos usando algumas técnicas de escalada convencionais, como chaminé. Passado o crux, o cume era ali, com um belo visual para a Serra do Capivari e também para o Ibitirati.
O caderno, colocado ali em 2004, tinha ainda poucas assinaturas e a maioria repetida por pessoas já bem conhecidas. De fato, o Ferraria é uma montanha bem pouco freqüentada.
Passamos pelas mesmas perrengues para voltar, chegamos ao cume do Taipa já famintos. Lá tivemos tempo de fazer um macarrão instantâneo, arrumar as coisas e descer pela trilha debaixo, que tangencia o Caratuva, que fizemos em apenas uma hora.
Chegamos na bica do Caratuva anoitecendo. Enchemos nossos cantis de água e fomos carregados rumo ao Itapiroca com luz de lanterna. Chegamos lá em cima e fomos brindados com um espetáculo: a entrada de uma frente fria.
O céu escureceu para norte, não dava mais para ver nenhuma estrela, mas não haviam nuvens, apenas uma nebulosidade... Logo, veio um vapor d´água não sei de onde, mas de baixa altitude que formou um mar de nuvens e impediu a visão do litoral, despontando apenas as montanhas mais altas da região.
Logo esta nuvem começou a subir, engolindo montanhas menores e subindo a sela do Pico Paraná, caindo para o lado do rio Cotia num fenômeno lindo de se ver, mas horrível de sentir, pois horas mais tarde começou a chover e nesse contexto acordamos de manhã e tivemos que desmontar acampamento e ir embora, sem poder subir o PP como planejávamos, ainda que o Parofes encontrou vontade de ir até o cume do Itapiroca e assim completar todos os cumes principais do Ibitiraquire que faltava pra ele.
Na descida eu percebi que havíamos passado por alguns locais aonde alguns vândalos retiraram as polêmicas escadinhas. Á noite, na escuridão e na pressa, eu nem havia sentido a falta delas dado a trivialidade que é caminhar por ali, mas de dia pude ver os resultados da retirada de tais degraus: alargamento da trilha, já que as pessoas têm medo de usar a rocha como apoio e preferem agarras as raízes.
Mesmo com o aumento do impacto, o negócio não estava menos feio do que é a valeta da trilha antes do morro do Getulio, que precisa de uma intervenção para barrar a energia da água que está aprofundando ainda mais a trilha e causando ravinas.
A polêmica das escadas não vai parar por aí. Mas digo que mesmo que façam um estardalhaço sobre este problema, os impactos humanos na Serra do Ibitiraquire são pequenos e muito pontuais. Os benefícios do impacto de nossa presença por lá é infinitamente maior do que os benefícios ambientais que a sociedade poderia ter se fossemos proibidos de fazer montanhismo. É preciso cuidado com este tema, pois não sabemos aonde radicalismos podem chegar e a liberdade neste parque estadual de papel é algo sem preço e muito bom!