Blog do Pedro Hauck: Palestra na Defesa Civil

31 de janeiro de 2010

Palestra na Defesa Civil

Nas últimas semanas estive afastado da montanha, primeiro por conta das chuvas que não páram e depois para estudar para concursos e também para as séries de palestras que venho ministrando voluntáriamente. O governo investiu em mim, tive uma ótima qualificação e tenho que retribuir de alguma forma.

As chuvas que nos impede de ir pra montanha, causam grandes tragédias também. Nossos problemas são ridículos diante dos outros problemas gravíssimos que vêm acontecendo.

A maior parte da população brasileira vive próximo ao atlântico, numa região natural onde o relevo é muito amorreado e colinoso, com sistema de serras anteriormente florestados. Um território de difícil ocupação.

Desenvolvemos nosso sistema econômico urbano e industrial nestas paisagens. Logo, os poucos espaços disponíveis para serem ocupados sem riscos foram usados e toda uma população sem recursos foram viver lugares inaptos para tal uso.

A realidade da ocupação do espaço é dialética e histórica e ela se manifesta materialmente sob a forma de favelas nas antigas várzeas de rios, nas encostas inclinadas dos morros, locais que nunca deveriam receber construções humanas. Para piorar, estas pessoas não têm o mínimo recurso e quando ocorrem fenômenos climáticos de chuvas intensas, eles são os primeiros a sofrerem e quem arca com os prejuízos é o poder público.

Quem é culpado pelos desastres das chuvas? A natureza? Os pobres que ocupam as áreas desvalorizadas? Quem especula os imóveis e fazem os pobres ocupar estas áreas? O ser humano como um todo que alterou a paisagem, causando desequilíbrios?

A resposta mais sensata é, todos eles...

Não resta dúvida que exista uma indústria da tragédia que vive de realizar trabalhos urgentes sem licitação. Há também gente que lucra com a especulação e uma grande injustiça de termos que socializar os prejuízos. Tudo isso é resultado da falta de planejamento que provocou a concentração de gente e de renda em São Paulo, provocando a necessidade de ter que desenvolver a economia por lá. Para terem uma idéia, cerca de 60% das pessoas que moram em SP dizem que se tivessem oportunidade deixariam a cidade, mas não deixam, pois é lá que está o emprego...

Hoje podemos falar que existe no Brasil uma população de refugiados ambientais. São eles, os sem teto das chuvas de Santa Catarina em 2008, de Angra dos Reis, São Luis do Paraitinga e da zona Leste de São Paulo neste ano.

Cada caso é um caso, mas podemos dizer que a razão de existir estes flagelados é por culpa do sistema econômico, e não das chuvas. Porque permitiu-se a construção de hotéis e casas na base de grandes morros nos sistema montanhoso da Serra do Mar, porque permitiu-se o plantio de milhares de hectares de florestas de Eucalipto em áreas de mares de morros no alto da bacia do rio Paraíba, e porque permitiu-se a ocupação da várzea do Rio Tietê? A resposta é simples: Para o que dá dinheiro tudo, para o que não dá dinheiro nada!

Na cidade onde eu cresci, Itatiba – SP, esta lógica do sistema está sendo aplicada. Vivemos um caos ambiental que só tende a piorar e ao longo do tempo resultar em tragédias, como já está acontecendo em pequena escalada para as pessoas que vivem ao longo do vale do rio Atibaia. O mau uso do solo está resultando no assoreamento dos rios, provocando enchentes no verão e falta de água no inverno.

Desta vez que as chuvas estão sendo mais intensas, está ocorrendo pela primeira vez prejuízos materiais e econômicos.

Minha palestra na Defesa Civil foi para alertar que os problemas não são por causa de uma mudança global no clima, mas sim mudanças locais no meio ambiente. Não adianta pensar numa esfera de atmosfera, se ecossistemas (geo e biosfera locais) estão em desequilíbrio provocando a destruição.

Espero que a minha palestra tenha sensibilizado para que as pessoas tentem buscar a solução dos problemas e não apenas remediá-los com obras urgentes, onerosas e impactantes que serão necessárias novamente quando outra chuva forte acontecer.

A solução é buscar minimizar os impactos, recuperar as matas ciliares, desaassorear os rios, reflorestar as encostas íngremes, evitar a impermebilização dos solos, impedir o escoamento superficial da água, permitir a infiltração dela no solo, reduzir as ilhas de calor urbano, ou seja, promover um planejamento ambiental urbano e rural em contraposição as medidas emergenciais.

Isso é um grande desafio, espero que eu tenha outras oportunidades de poder falar sobre isso, não apenas aqui neste blog...

Veja as fotos abaixo e os comentário. Quem se responsabilizará por recuperar estes ambientes? Me digam se resolver os problemas abaixo é uma atividade economica que dá dinheiro?

Encostas sem a floresta nativa e improdutivas, falta de mata ciliar protegendo as drenagens da sedimentação e o resultado: Assoreamento do rio. Isso provoca enchentes.

Solução de engenharia para fazer a água escoar em drenagem assoreada. Grande impacto na paisagem para não resolver o problema, já na proxima chuva haverá novamente sedimentação, "entopindo" o rio.

Deslizamento de encosta por causa da chuva e escoamento superficial por falta da cobertura vegetal. Poderia ter sido uma tragédia se fosse uma área ocupada, entretanto o atulhamento do rio irá provocar outra dentro do sistema da drenagem.

Resultado do escoamento de água superficial em uma area de eucaliptais. As florestas de eucalipto não protegem o solo da erosão. Nesta foto, há uma estrada que é asfaltada, mas ela foi coberta por lama vinda de uma fazenda que planta eucalipto em encosta. Quem arcará com o prejuízo? o fazendeiro que não faz o manejo adequado ou a prefeitura?

Resultado do escoamento superficial de água sobre área de pastagem. O capim protege o solo com seu sistema radicular, mas permite o escoamente superficial de água que com uma declividade acenturada ganha energia, vindo a causar destruição à juzante. Veja a quantidade de materia que foi transportado pela água que destruiu um alambrado.

Enchente ocasionada pela deficiencia de vasão de um lago assoreado.

Detalhe para o lago. Onde está a água? Bancos de areia já estão aflorando, tamanho é o assoreamento. Quem pagará a recuperação da capacidade deste lago armazenar água? Será recuparado a mata ciliar para o impedir o aporte de sedimentos para dentro do lago?

Barranco de estrada desmoronando durante chuva forte. Estradas rurais mal conservadas e sem sistema de drenagem viram rios com as chuvas.



Um comentário:

Paulo Roberto - Parofes disse...

Tai uma palestra que eu veria amarradaco Pedro!