Travessia Ciririca - Graciosa é um dos trekkings mais difíceis da Serra do Mar do Paraná, pois consiste em subir o Morro do Ciririca (a montanha com trilha mais distante da Serra) e depois caminhar sem trilha até a Estrada da Gracisa, atravessando campos, Matinhas nebulares, Florestas e muita quiçassa. Não sabe o que é quiçassa? Então é porque nunca pegou um perrengue na Serra. Procure no google e verá!
Pois bem, a idéia surgiu no meio da semana, quando algumas meninas do CPM disseram que estavam indo ao Agudo da Cotia, uma bela e remota montanha depois do Ciririca. Era uma pernada só de luluzinha, por conta disso, resolvi ir com meus amigos Julio e Hilton pra Serra, até porque o Ibitiraquire é para mim um objeto de estudo geomorfológica e eu tinha que conhecer esta parte importante da Serra que eu nunca tinha ido.
Acabou que o Hilton desistiu e eu saí de Curitiba no Sábado, dia 31 de outubro apenas com Julio. Chegamos na fazenda da Bolinha, que dá acesso à montanha, bem cedo e antes das 7 já estávamos caminhando pela floresta.
A trilha para o Ciririca já foi muito dificil, há pouco tempo atrás. Hoje ela já é mais bem delimitada, mas continua sendo fácil para se perder. Isso só não aconteceu comigo, pois o Julio conhece a trilha com a palma da mão.
Caminhando com tranquilidade, fomos percorrendo a bela trilha que percorre todo o sub-bosque da Floresta Ombrófila Densa da Serra do Mar. Nem parecia que fora do manto verde das árvores fazia um calor próximo dos 30 graus. Sem muita pressa, chegamos cerca das 11 da manhã na cachoeira da última chance, onde paramos para comer um lanche e beber água. Eis que do meio do mato surge o maior conhecedor daquela serra, o Elcio Douglas, um mito vivo do montanhismo paranaense.
Elcio tinha partido da fazenda da Bolinha no dia anterior com duas amigas que foram somente até o Camapuã. Depois dali, ele seguiu sozinho por cima das montanhas e sem querer nos encontrou na última chance, ficando feliz em ver que teria companhia dali para frente.
Juntos subimos o Ciririca e chegamos pero do meio dia nas famosas placas, onde paramos um pouco para descançar. Após uma breve folga, descemos o Ciririca por sua face Sul, uma trilha super escorregadia e inclinada, com trechos que tem cordas fixas, muita quiçassa e pedra sabão. Apesar da dificuldade, me alegrei por estar fazendo a travessia e não precisar subir aquilo.
Já nos campos, deixamos nossas mochilas na encruzilhada e subimos até O agudo do Lontra, que é o segundo mais alto e que tem uma vista excepcional para o Cotia, o Ciririca e o PP, mas lá em cima o tempo estava fechado e não pudemos fazer nada senão que voltar para montar o acampamento.
Vista para os Agudos. Da esquerda pra direita: Lontra, Cotia e Cuíca.
Júlio em nosso local de camping na Colina Verde
No retorno, com mochilas arrumadas, começamos a caminhas pelo campo, que ainda estava molhado pelo orvalho. A idéia era encurtar caminho, abrindo novas picadas (sem facão) pelo mato e assim chegar em um trecho que pudéssemos economizar caminhadas pelo rio, quer dali por diante seria nossa trilha.
Fomos caminhando atravessando falhas geológicas recobertas pela matinha nebular e também quiçassas de bromélias que me cortou inteiro... Abrindo o mato no peito e se enroscando nos bambus, fomos parar em um dique de diabásio que era uma depressão por onde corria um afluente do rio Forquilha, que seria nossa trilha até que pudesse haver um local para transpormos de bacia e sair do outro lado da serra, já na Graciosa.
Descemos o Forquilha com um grande esforço. Não que exista uma dificuldade técnica em andar no rio, mas ali a rocha é o Diabásio, que fica um sabão quando molhado. Todo cuidado era pouco, mas depois de algumas horas lá estava o Elcio procurando um local para sair do rio e começar a subir as encostas do Tangará e do Coxotós, para alcançar a garganta entre estes dois morros. Ali é o divisor entre a Serra do Ibitiraquire e Serra da Graciosa.
Transpondo cachoeira de diabásio
Um ralo de "sumidouro", local onde o rio entra dentro das rochas
Após algumas horas chegamos um acampamento permanente de caçadores. Por sorte não tinha ninguém lá, mas deu para notar que suas atividades estavam bem diversificadas, pois não era apenas de caça que eles se moviam, mas também da extração de Palmito.
Descemos a cascata pelo lado e continuamos pelo rio mais alguns quilômetros para enfim achar a saída que por trilha, nos levou até o marco 22 da estrada da Graciosa, já às 9 e meia da noite. Estávamos exaustos!
Caminhamos pela estrada feito indigentes, de tão sujos que estávamos... Para variar, chovia na Serra da Graciosa. Fomos até um ponto onde há sinal de celular e fomos resgatados pela mulher do Fiori, a Solange.
O espaço de um blog não é o mais apropriado para o que eu tenho para contar sobre esta travessia e sobre a Serra do Ibitiraquire. Nesta incursão pela Serra, conheci muito mais do que sobre este lugar onde poucos vão. Encontrei alguns materiais de grande valia para uma pesquisa futura e trouxe comigo muitas indagações cientificas. Entretanto como meu espaço na internet é mais reservado para montanha, não deixem de ver, daqui alguns dias, o relato completo sobre esta travessia no site GenteDeMontanha.com.
Por enquanto fiquem com as fotos de nosso grande Elcio Douglas:
"Sela" entre o Caratuva e o PP. divisor de duas drenagens recentes (rios Cotia e Cacatu) que tem o nivel do mar como base.
Relevo de "Tor" conhecido como "Ovos de Dinossauro. Cota altimétrica: 1550 mts. O mesmo do Morro do Camelo que tem a mesma feição geomorofológica. O Morro do Getulio, que tb tem este relevo, está à 1450 mts na vertente oposta da serra. Será um escalonamento?
Paredão do canyon voltado para o mar: Erosão remontante.
Detalhe na parede: O avião do Bamerindus que se chocou na década de 80.