Blog do Pedro Hauck: O Mito Moderno da Natureza Intocada e o Montanhismo.

18 de novembro de 2009

O Mito Moderno da Natureza Intocada e o Montanhismo.


O cerrado em chamas no século XIX. Gravura de Carl Friedrich Von Martius



O paradigma de Antonio Carlos Diegues trouxe a discussão para as ciências humanas dos efeitos da preservação forçada para as chamadas Populações Tradicionais, que são pessoas que não vivem nas cidades e para quem não faz sentido o conceito de impacto ambiental e muito menos a necessidade da preservação da natureza. São pessoas que não têm a cultura do consumismo e nem de acumulação, entretanto são eles os que mais sofrem com as conseqüências das intervenções preservacionista que, de certa forma, privilegiam quem está longe dos espaços naturais e que compram estas idéias por modismo e também por uma idéia simplista sobre preservação, onde o meio ambiente teria que estar livre da atuação humana, mesmo que tenha que ser artificialmente protegido de nós mesmo, apenas para gerar uma contemplação momentânea da população urbana que precisaria de um refúgio espiritual num ambiente maqueado de selvagem, dentre outras interpretações estéticas que não são reais. O que estas idéias têm a ver com os problemas do montanhismo?


Para enteder veja:  coluna no site Altamontanha.com

3 comentários:

Paulo Roberto - Parofes disse...

Pedrão,

Eu até complementaria seu artigo, claro, concordando plenamente com sua linha de raciocínio, com a seguinte reflexão:

No tempo histórico "presente", estas populações não urbanas que carregam consigo a concepção de natureza/ natural/ selvagem diferente da nossa, urbanos concretizados (no sentido de concreto...risos), invariavelmente, com o passar das décadas e com a própria evolução dos esportes de ar livre em geral, precisam e estão se adaptando às mudanças geradas pela sociedade moderna contemporânea.
Se não o fizerem, serão engolidos pelo chamado "progresso" (e por que não dizer retrocesso?) da humanidade, que nos leva a um futuro escatológico muito triste, "solucionado" pela velha frase no mínimo simplista e egoísta: "Não estarei aqui para ver a cagada, a próxima geração que se preocupe com esse tal de aquecimento global". Acredite, já escutei isto!

o fato é que, já estamos presenciando as consequências nesta geração, qualquer pessoa instruída que tenha o mínimo de senso crítico nota isso e, basta ver os documentários produzidos sobre o assunto para se interar. Enfim...

Voltando ao raciocínio do parágrafo anterior: Acredito que vá chegar um ponto em que (se é que já não estamos nele) estas populações essencialmente rurais/ selvagens, se é que podem ser chamadas assim, se adaptam ou são consumidas (assimiladas) pelo povo do concreto.
Presenciei isto em abril na Bolivia. Como te contei e escrevi no meu relato do Cerro Austria, fui sozinho contratando apenas um táxi. É claro, o taxista não foi embora e me esperou o tempo todo em Tuni. Quando retornei no final da tarde fazia frio, cerca de 5 negativos. O carro dele não pegava pois a bateria descarregou.

Por sorte nossa (ou assimilação do povo "selvagem"), a família da casinha que ali há tira sua renda da terra e, do empréstimo de bateria para carros despreparados com o fator frio. Que coisa não?

Diante disso abre-se uma nova linha de raciocínio, uma nova vertente: Para estes povos, as proibições também são prejudiciais pois, seu sustento é reduzido. Tanto para a Cholita andina quanto para o Dilson da Fazenda Pico Paraná.

Para mim foi triste ver aquilo, não esperava. Me causou muita reflexão e agora lendo o seu artigo isso tudo me veio à cabeça. Resolvi comentar.

Assino sob suas palavras, o montanhista na grande maioria é preservacionista SIM!

Seu penúltimo parágrafo é perfeito. Proibir os montanhistas ou até mesmo simples observadores das maravilhas da natureza é impedir que estes conheçam portanto admirem o verde como um todo, sensibilizando-se e, certamente, preservando.

Grande abraço!

Parofes

Pedro Hauck disse...

Então Parofes,

Estas populações que vc diz estarem com suas culturas sendo engolidas pela cultura ocidental, consumista e acumulativa, são no Brasil defendidas por lei.
Os indios são um caso claro.
Mas e os montanhistas? O que somos?
Acho que nao somos nenhum nem outro. Assimilamos uma cultura que é ameaçada, dentre outras coisas, por políticas públicas, como as políticas preservacionistas.

Paulo Roberto - Parofes disse...

Certamente que sim!
Somos diretamente afetados por tantas proibições, marginalizados por conta de tantas medidas proibitivas.
Também sou a favor da regulamentação rígida. Volto a dizer, no PNI isso mais ou menos funciona.
Acabamos por nos tornar infratores por continuar a praticar nossas atividades mesmo após as proibições. E somos preservacionistas hein!
Triste...
Abraço!