O Sinageo, Simpósio Nacional de Geomorfologia terminou ontem, mas fiquei no final de semana para fazer um curso avançado. De princípio este curso era somente para professores, mas como eles aparentam estar muito ocupados, sobrou vaga e não perdi a chance.
Só para ter uma idéia, este curso será ministrado por Andrew Goudie, da Universidade de Oxford, Inglaterra e presidente da IUGS, Michael Thomas, da Universidade de Stirling, Escócia, Willian Dietrich, da Universidade da Califórnia em Berkeley, Jorge Rabassa, Universidad Nacional de La Plata, Laura Perucca, Universidad Nacional de San Juan e José Francisco Vergara, Universidade de Santiago, isso para falar os que vieram de fora. Ainda tem o Prof. Edgardo Latrubesse que é da Universidad Nacional de La Plata e também da UFG e outros professores brasileiros como Selma Simões, UFG, Nélson Fernandes, UFRJ, Paulo Roberto Aranha, Ana Clara Mourão, Phillippe Maillard, Cristina Augustin e Ricardo Diniz da Costa estes últimas da casa.
Hoje teve as aulas que mais me interessam: Paleogeografia! E nisso os argentinos, Rabassa e Latrubesse deram um show. O último deu uma aula muito boa sobre a evolução da paisagem na região amazônica e Peri-andina desde o Mioceno. O segundo situou a Argentina nos estudos paleo climáticos, realizando uma revisão do estado da arte sobre o conhecimento de paleosuperfícies na Patagônia, relacionou com os dados do Aziz e chegou numa conclusão que eu já deduzia de que a historia dos Domínios Geomorfoclimáticos tem como ponto de partida o Plioceno.
Com estas aulas, desde a Amazônia à Terra do Fogo, observamos que as épocas de evolução das grandes paleosuperfícies se encaixam e assim concluímos que estes foram eventos globais e, pelo menos para o Plioceno, podemos concluir que ocorreu por causas eustáticas, ou seja, por glaciação.
Assim, a superfície Paraguaçu de King, Pd1 de Bigarella, Neogênica de Ab'Sáber e outras que receberam outras denominações no evento, pois os autores tem medo de comparar com os clássicos, são a mesma, com diferenciações na idade por meras nuances climáticas regionais.
Desta forma, os pedimentos correlativos destas superfícies, como a formação Guabirotuba na bacia de Curitiba e outras formações Plio-Pleistocênicas de outras bacias tafrogênicas têm agora que ser vistas como o começo de História Geoecológica atual, para tanto, aquelas paisagens que estou identificando na minha dissertação como residuais vão ter um significado especial.
A pesquisa do Latrubesse me abriu os olhos também para algo que eu já estava há algum tempo imaginando como hipótese. A interiorização do continente como condicionante de uma sazonalidade climática é responsável pela manutenção de velhas superfícies, oscilação no lençol dos Latossolos e disto resultam as crostas lateríticas sobre as quais evoluíram o cerrado que ocupava todo o interior do continente antes do embaciamento do Amazonas como é hoje, drenando suas águas para o Atlântico.
Isso foi demonstrado pelo registro fossilífero da Formação Solimões no Acre, onde há a presença de animais da megafauna que vivem exclusivamente em ambientes savânicos. Obviamente este cerrado tinha outras fácies não abertas e inclusive muita vida aquática nos rios e lagos Miocênicos da paleo-bacia amazônica.
Estou me surpreendendo, pois antes já havia interpretado alguns dados e havia chegado à mesma conclusão, por dedução dos resultados, que estes professores alcançaram e comprovaram usando métodos modernos de datação, como os isótopos cosmogênicos.
Quando entreguei meu relatório de qualificação, meu orientador falou que eu havia esquecido de citar o Jean Tricart, pois eu havia escrito um resumo de sua obra, a Ecodinâmica, mas eu nem sabia que existia esse livro, assim como outro artigo do Aziz e do Brown sobre os paleodomínios, conclui a mesma coisa que o Aziz sem nunca ter lido este trabalho. Estas foram as palavras do Everton Passos, não minha, pois ainda não tive a oportunidade de ler estes textos, estou ansioso para tê-los em mãos.
A boa notícia é que esta minha astucia e participação, me rendeu um convite do Prof. Rabassa em fazer um estágio em Ushuaia no verão, o que eu não quero perder a chance. Faz 8 anos que não vou para a Terra do Fogo, retornar lá à convite do Rabassa, um pesquisador de renome internacional, será muito gratificante, ainda mais por que seus estudos vão de frente com o que eu estou pesquisando e vejo que meus estudos fortalecem o dele também.
Agora mudando de assunto, acabei de ir ao Mineirão forrar o estômago. Vi uma coisa interessante, cultura de estádio. Em Minas a tradição é comer o "Tropeirão" no estádio. Trata-se de uma típica comida daqui. Feijão, com farinha, toucinho, couve refogada, lingüiça, carne e arroz. Uma delícia. Em São Paulo come-se sanduíche de pernil, em Salvador, Acarajé, no Rio, não me lembro (não comi nada quando fui ao Maraca durante o Anpege) e em Curitiba, bem em Curitiba não se come nada, pois não tem vendedores ambulantes, uma pena, pois comida de porta de estádio é muito boa!
Amanhã o curso continua. Vou aproveitar para visitar meus parentes mineiros. Segunda Feira vou pegar o Tacio no aeroporto de Confins e vamos dar uma escaladinha no sitio do Rod. Depois deixaremos a grande BH e vamos de encontro com coisas muito maiores que simples afloramentos de calcáreo, vamos ver em situ como são os hogbacks do relevo jurássico mineiro, aguardem...
Eu e meu ex professor de Geomorfologia, Chico Ladeira, o senhor dos paleosolos! Um grande mestre e inspiração na Geografia.
Mais fotinho de congresso, desta vez com o grande Montanha, vulgo Luis Felipe Brandini Ribeiro.Dener, vulgo Smigle, servindo como escala para este espesso perfil de "canga" que é uma laterita retrabalhada, crosta de ferro pra quem nunca viu.
Topo da Serra da Rola moça, superfície sustentada pelas cangas. Um dia isso já foi um fundo de vale, hoje é a cimeira da Serra, este é o mais espetacular caso de inversão de relevo que já vi.
A Serra do Curral, que é um Hogback de um relevo jurássico visto desde o topo da Serra da Rola Moça.