Blog do Pedro Hauck: Escalando o Cerro Ramada

20 de janeiro de 2008

Escalando o Cerro Ramada

:: Leia a história que antecede este relato

Agora com Collin e Steve, subi até o lugar que eu havia planejado no dia anterior, a 5400 metros e fixei um acampamento. O local era realmente muito bom, protegido do vento e com água boa.

Não demoramos muito para chegar neste novo acampamento, então pude aproveitar um pouco para curtir o belíssimo visual da montanha. Muito próximo havia um morrinho, de onde eu podia avistar todas as montanhas ao redor, incluindo o Cordón de la Ansilta mais ao norte.

Era um fim de tarde excepcional, nem sequer fazia vento! Fiquei por não sei quanto tempo admirando aquela paisagem, até que algo me aconteceu.

Comecei a sentir várias coisas indescritíveis, angustia, felicidade, tristeza, alegria, otimismo, pessimismo, foi muito estranho. Comecei a chorar como criança e me ajoelhei enquanto curtia um estranho desconforto gostoso. Não sei o que aconteceu, mas depois disso passei a me sentir bem, como se estivesse em um lugar conhecido na Serra do Mar, onde eu saberia o que ia acontecer no dia seguinte. Toda minha angustia pela desistência do Antonio desapareceram como minhas lágrimas nos olhos. Fui dormir pensando no cume do dia seguinte.

Despertei como de combinado às seis da manhã. O teto da barraca estava congelado, fazia muito frio! Apesar de ser tarde, o dia só amanhecia às oito horas, então não era necessário acordar mais cedo que este horário.

Tentei acordar os americanos, mas eles não se sentiam bem, me pediram mais um dia para aclimatar. Como estava frio, achei uma boa idéia voltar para o saco de dormir quentinho. Entretanto, esperar um dia inteiro dentro de uma barraca mais tarde, não foi muito agradável, mas tive tempo de sobra para me preparar para o ataque no outro dia.

Assim como no dia anterior, acordamos às seis. Steve e Collin foram para minha barraca e cozinhamos um purê de batatas com macarrão instantâneo e logo saímos na escuridão fria da montanha.

Não demorou muito para o dia começar a clarear, e que dia! Não haviam nuvens no céu e nem vento!
Em pouco tempo já estávamos a seis mil metros, um recorde para Steve que até então tinha em seu curriculum o Pico Orizaba no México, como montanha mais alta. Mais tarde ele sentiu o que é um seis mil.
Eu e Collin tomamos a dianteira, ele estava muito bem, pois estava viajando fazia tempo e já havia escalado algumas montanhas no Equador. Steve, há pouco tempo na América do Sul, ficou para trás. Parávamos de vez em quando para esperá-lo, mas o frio nos obrigava a subir, mas não estava difícil.

Subíamos a maior parte do tempo por uma vertente pouco inclinada, às vezes aparecia algum acarreo mais inclinado, mas pequeno, outras vezes subíamos por neveiros. A escalada era tão fácil que nem sequer usávamos crampons.

No final, tivemos que subir quatro falsos cumes, sem muito drama, pois esbanjávamos energia. Chegamos no cume ao meio dia e meio, depois de apenas quatro horas e meia de subida. Steve, mais cansado, chegou quase meia hora depois, sentido-se “bêbado” mas bem fisicamente.

Do topo do Ramada pude ver todas as montanhas da região. O Cerro Mercedário com sua gigantesca face sul, o Cerro negro, ao seu lado e sua impressionante "super canaleta", o Pico Polaco com sua face bem escarpada, o Mesa com seu cume aplainado e face inclinada, o Alma Negra e sua vertente rochosa eram as montanhas próximas.

Ao sul, avistava o imponente Aconcagua. Podia ver sua face norte, com a ombreira onde fica Nido de Condores, no topo seus dois cumes e de frente para mim, o grande Glaciar Polacos. Ao norte eu podia distinguir o Cerro Cuerno e Catedral e muito perto, à leste o Cerro Ameghino.

Mais ao sul, Conseguia distinguir o Cerro Polleras e o gigantesco Vulcão Tupungato. Não longe dali, avistava também o Cordón del Plata, com Cerro Plata bastante seco. Eram todas montanhas que eu já havia estado e/ ou escalado. Para mim uma paisagem bastante conhecida.

Entretanto não tirava os olhos da face sul do Mercedário: Meu Deus! Pensava.

_Ela é muito grande! Tentava apenas achar beleza e não dificuldade. Entretanto ser ingênuo diante de um desafio deste é querer enganar a si mesmo.

Esta foi a terceira montanha mais alta que eu escalei. Juro que não senti nenhum desconforto lá em cima. Apesar de rápido, eu me aclimatara muito bem. Mas antes de encarar a face, achamos melhor escalar algo mais técnico antes para nos entrosar. Foi aí que o Cerro Negro entrou no meio do caminho.



Nosso acampamento a 5400 metros de altitude Vista para o Cordón de la Ansita Eu no cume do Ramada, ao fundo, a parede sul do Mercedário. Não podia ser diferente, o Corinthians está sempre no topo! Vista do cume do Ramada para o norte, com o Pico Polaco na esquerda, o Mercedário no centro e o Cerro Negro na direita. Detalhe do Pico Polaco Detalhe da parede sul do Mercedário. Detalhe da super canaleta do Cerro Negro. Detalhe para o Mesa (direita) e Alma Negra, (esquerda) Vista desde o Ramada para o sul. Na esquerda se vê o Tupungato, depois o Polleras, Ameghino, Aconcagua, Catedral e enfim Cuerno. Collin no cume do Ramada

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Um comentário:

Thomas Schulze disse...

Já estive pelo plata, pelocristo redentor, e pelo aconcagua. Interressante essas suas informações. quem sabe algun dia eu dê um passeio por esses lados. Boas fotos!
thomaschulze@gmail.com