:: Leia a história que antecede este relato
Nosso objetivo no Cordón del Mercedário era bastante ambicioso. Pretendía-mos escalar a face sul de sua montanha mais alta, o Cerro Mercedário.
Nosso objetivo no Cordón del Mercedário era bastante ambicioso. Pretendía-mos escalar a face sul de sua montanha mais alta, o Cerro Mercedário.
Trata-se de uma rota não muito difícil técnicamente. Entretanto, exige conhecimento de escalada em gelo, uma vez que a parede apresenta inclinação média de 45 graus, com trechos de 60. Não há riscos de avalanche, mas existe risco de queda. Por se tratar de uma parede com dois mil metros de altura, não dá para subir fazendo segurança, por isso temos que, na maior parte da escalada, estar subindo em solo, sem corda, pois se um cai atado ao outro, morrem dois e não somente um. Tudo isso é dificultado, pois ainda é necessário levar uma mochila com provisões para dois dias e barraca, pois ao fim da parede é necessário montar um acampamento, numa altitude de seis mil metros e de lá fazer ataque ao cume. A maior dificuldade, na minha opinião, é a descida, pois desescalar é sempre mais complicado que escalar.
Para podermos encarar uma montanha dessas, é preciso estar bem aclimatado, ou seja, estar com o seu corpo acostumado com as condições atmosféricas de altitude, onde há menos pressão e oxigênio, ou seja, se não basta uma escalada extremamente esgotante fisicamente, ainda temos um agravante que é a altitude.
Para resolver este problema, planejamos fazer nossa aclimatação no Cerro la Ramada que tem uma altitude de 6400 metros.
Após chegarmos ao acampamento base “Pirca de Polacos” passamos um dia descansando. O acampamento era somente nosso, não havia como de costume, outras expedições na montanha. A monotonia foi rompida mais tarde com a chegada de Aníbal Maturano, o melhor e mais experiente guia da região e seu ajudante Henrique que estavam guiando um francês, o Henry.
Após descansarmos bem, no dia três resolvemos fazer um transporte de equipamentos e provisões para um acampamento mais elevado, o que na Argentina se chama de “porteo”. Portear equipamentos é bom para ajudar na aclimatação, dividir o peso em duas viagens e ainda fazer um reconhecimento do caminho, já que as trilhas são bastante apagadas devido ao pouco fluxo de montanhistas na região.
Assim, fomos subindo montanha acima à procura de um lugar bom para acampar e também um caminho mais fácil. As trilhas estavam muito confusas, pois não sabíamos se eram feitas por gente ou por guanacos. Tivemos que atravessar vários acarreos, que são vertentes com pedras soltas, onde subimos um passo de descemos dois, uma tarefa nada agradável para quem ainda não havia se acostumados com a falta de ar de altitude.
Encontramos dois lugares para acampar no meio do caminho, entretanto não havia água perto, tanto em sua forma liquida ou sólida. Subimos até os 4600 metros para encontrar os primeiros penitentes, que são torres de gelo em seu estado final de derretimento e lá aplainar o terreno para que pudéssemos montar um acampamento.
Com algumas pedras aplainadas, fizemos um terraço suficiente para montar nossa barraca. Deixamos nossos equipamentos e descemos de volta ao acampamento marcando o melhor caminho.
Subir mil metros em um dia havia sido cansativo, mas não estava sentido mal. Antonio, infelizmente sim, com muita tosse.
Ao retornar a Pirca de Polacos, nos demos conta que mais gente havia chegado ao acampamento, eram dois americanos, com quem conversamos pouco. Estávamos cansados!
No dia seguinte, enquanto arrumávamos nossas mochilas para subir em definitivo para nosso acampamento elevado, os americanos vieram falar conosco e disseram ter o mesmo plano que nós. Convidamos para subir até o acampamento elevado juntos e assim fomos, nós leves, por ter porteado equipamentos no dia anterior e eles por sua vez porteando o equipamento deles.
Chegamos ao acampamento dos 4600 metros por volta das quatro da tarde, derretemos gelo dos penitentes o suficiente para enchermos nossas garrafas e cozinharmos. Foi um tanto chato fazer o fogareiro funcionar, não sei por que? Na tentativa eu acabei queimando meu cabelo, os pelos do meu braço e da minha mão, fiquei com muita raiva por estes motivos cada vez mais estou usando fogareiros a gás do que benzina.
No dia seguinte, continuando nossa programação, subimos porteando equipamentos e buscando um caminho mais fácil. Logo de cara tivemos que subir um acarreo de trezentos metros de altura, sofrimento interrompido por uma sombra sob as rochas que aparentava um avião, era um enorme condor plainando sob nossas cabeças.
Após o acarreo, subimos uma crista também inclinada e chegamos a um acampamento também sem água. Buscando um lugar melhor, continuamos o caminho, serpenteando umas torres de rocha de cor negra até encontrarmos um lugar perfeito numa altitude de 5600 metros com direito a água corrente que derretia de uma neveiro mais acima.
Antonio demorava a chegar. Acabei aplainando o terreno num lugar próximo ao riacho semi-descongelado. Quando Antonio chegou, mal pode me ajudar, de tão mal que estava. Terminei de preparar nosso acampamento, deixei algum material e logo retornamos ao acampamento mais baixo, onde os americanos já estavam instalados com sua barraca.
Ao regressar, Antonio me contou que se sentia muito mal. Sua tosse havia piorado e ele tinha um principio de febre, sem falar nas bolhas nos pés que quase não permitiam que ele caminhasse direito. Passei uma noite ruim por causa de meus pensamentos, o estado físico do Antonio me deixou bastante preocupado e o pior realmente aconteceu no dia seguinte. Sentido-se pior da gripe, Antonio me avisou que não iria subir mais.
Foi sorte minha os americanos terem os mesmos planos que eu. Quando me convidei para escalar com eles não tive problemas em ser aceito. Depois deste dia passei a ser parceiro de Collin Tucker, natural do Colorado, mas residente no Alaska, um biólogo mestre em botânica de 27 anos e Steven Sheets, natural da Califórnia, Phd em Física nuclear de 28 anos. Contando que sou mestrando em Geografia Física, formamos, pelo menos acadêmicamente, uma equipe bastante graduada.
Para podermos encarar uma montanha dessas, é preciso estar bem aclimatado, ou seja, estar com o seu corpo acostumado com as condições atmosféricas de altitude, onde há menos pressão e oxigênio, ou seja, se não basta uma escalada extremamente esgotante fisicamente, ainda temos um agravante que é a altitude.
Para resolver este problema, planejamos fazer nossa aclimatação no Cerro la Ramada que tem uma altitude de 6400 metros.
Após chegarmos ao acampamento base “Pirca de Polacos” passamos um dia descansando. O acampamento era somente nosso, não havia como de costume, outras expedições na montanha. A monotonia foi rompida mais tarde com a chegada de Aníbal Maturano, o melhor e mais experiente guia da região e seu ajudante Henrique que estavam guiando um francês, o Henry.
Após descansarmos bem, no dia três resolvemos fazer um transporte de equipamentos e provisões para um acampamento mais elevado, o que na Argentina se chama de “porteo”. Portear equipamentos é bom para ajudar na aclimatação, dividir o peso em duas viagens e ainda fazer um reconhecimento do caminho, já que as trilhas são bastante apagadas devido ao pouco fluxo de montanhistas na região.
Assim, fomos subindo montanha acima à procura de um lugar bom para acampar e também um caminho mais fácil. As trilhas estavam muito confusas, pois não sabíamos se eram feitas por gente ou por guanacos. Tivemos que atravessar vários acarreos, que são vertentes com pedras soltas, onde subimos um passo de descemos dois, uma tarefa nada agradável para quem ainda não havia se acostumados com a falta de ar de altitude.
Encontramos dois lugares para acampar no meio do caminho, entretanto não havia água perto, tanto em sua forma liquida ou sólida. Subimos até os 4600 metros para encontrar os primeiros penitentes, que são torres de gelo em seu estado final de derretimento e lá aplainar o terreno para que pudéssemos montar um acampamento.
Com algumas pedras aplainadas, fizemos um terraço suficiente para montar nossa barraca. Deixamos nossos equipamentos e descemos de volta ao acampamento marcando o melhor caminho.
Subir mil metros em um dia havia sido cansativo, mas não estava sentido mal. Antonio, infelizmente sim, com muita tosse.
Ao retornar a Pirca de Polacos, nos demos conta que mais gente havia chegado ao acampamento, eram dois americanos, com quem conversamos pouco. Estávamos cansados!
No dia seguinte, enquanto arrumávamos nossas mochilas para subir em definitivo para nosso acampamento elevado, os americanos vieram falar conosco e disseram ter o mesmo plano que nós. Convidamos para subir até o acampamento elevado juntos e assim fomos, nós leves, por ter porteado equipamentos no dia anterior e eles por sua vez porteando o equipamento deles.
Chegamos ao acampamento dos 4600 metros por volta das quatro da tarde, derretemos gelo dos penitentes o suficiente para enchermos nossas garrafas e cozinharmos. Foi um tanto chato fazer o fogareiro funcionar, não sei por que? Na tentativa eu acabei queimando meu cabelo, os pelos do meu braço e da minha mão, fiquei com muita raiva por estes motivos cada vez mais estou usando fogareiros a gás do que benzina.
No dia seguinte, continuando nossa programação, subimos porteando equipamentos e buscando um caminho mais fácil. Logo de cara tivemos que subir um acarreo de trezentos metros de altura, sofrimento interrompido por uma sombra sob as rochas que aparentava um avião, era um enorme condor plainando sob nossas cabeças.
Após o acarreo, subimos uma crista também inclinada e chegamos a um acampamento também sem água. Buscando um lugar melhor, continuamos o caminho, serpenteando umas torres de rocha de cor negra até encontrarmos um lugar perfeito numa altitude de 5600 metros com direito a água corrente que derretia de uma neveiro mais acima.
Antonio demorava a chegar. Acabei aplainando o terreno num lugar próximo ao riacho semi-descongelado. Quando Antonio chegou, mal pode me ajudar, de tão mal que estava. Terminei de preparar nosso acampamento, deixei algum material e logo retornamos ao acampamento mais baixo, onde os americanos já estavam instalados com sua barraca.
Ao regressar, Antonio me contou que se sentia muito mal. Sua tosse havia piorado e ele tinha um principio de febre, sem falar nas bolhas nos pés que quase não permitiam que ele caminhasse direito. Passei uma noite ruim por causa de meus pensamentos, o estado físico do Antonio me deixou bastante preocupado e o pior realmente aconteceu no dia seguinte. Sentido-se pior da gripe, Antonio me avisou que não iria subir mais.
Foi sorte minha os americanos terem os mesmos planos que eu. Quando me convidei para escalar com eles não tive problemas em ser aceito. Depois deste dia passei a ser parceiro de Collin Tucker, natural do Colorado, mas residente no Alaska, um biólogo mestre em botânica de 27 anos e Steven Sheets, natural da Califórnia, Phd em Física nuclear de 28 anos. Contando que sou mestrando em Geografia Física, formamos, pelo menos acadêmicamente, uma equipe bastante graduada.
Subindo um acarreo.
Local de nosso primeiro acampamento no Cerro Ramada.
Antonio derrentendo gelo na porta da barraca.
Vista de nosso primeiro acampamento para o Cerro La Ramada.
Steve, esquerda, eu no centro e Collin na direita: Novos companheiros.
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Local de nosso primeiro acampamento no Cerro Ramada.
Antonio derrentendo gelo na porta da barraca.
Vista de nosso primeiro acampamento para o Cerro La Ramada.
Steve, esquerda, eu no centro e Collin na direita: Novos companheiros.
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