Blog do Pedro Hauck: Acercando-se da montanha

20 de janeiro de 2008

Acercando-se da montanha

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O chamado Cordón del Mercedário, ou oficialmente Cordón de la Ramada é provavelmente o cordão montanhoso andino que mais tem montanhas com mais de seis mil metros de altitude. São cinco no total, Cerro de la Ramada, Alma Negra, Cerro la Mesa, Pico Polaco e por fim o Mercedário que com 6770 metros é a oitava montanha mais alta do continente.

Trata-se de um fantástico anfiteatro de montanhas nevadas não sendo mais famoso talvez, pois seu vizinho próximo, o Aconcagua, acaba roubando as atenções. Uma grande injustiça, já que no Cordón del Mercedário existem escaladas muito mais técnicas e bonitas que no vizinho mais alto do sul, como a aresta sudeste do Pico Polaco, o canaletão sul do Cerro Negro e a parede sul do Mercedário com mais de dois mil metros de altura. Isso sem falar que no Cordón del Mercedário a natureza é muito mais preservada e selvagem, o que faz ser comum avistarmos guanacos, raposas e condores.

O acesso à este cordão montanhoso se faz desde a pequena cidade de Barreal, na província de San Juan, Argentina. Entretanto, fomos direto de Mendoza, onde se faz também o acesso ao Aconcagua, pois a infraestrutura é melhor e é mais fácil comprar as provisões necessárias para a montanha.

Saímos de Mendoza na manhã do dia 30 de Dezembro e logo estávamos subindo a cordilheira com a caminhonete do Antonio, meu companheiro de escalada. Depois de percorrer cerca de duzentos quilômetros pela estrada internacional, deixamos o asfalto e começamos a cruzar um extenso deserto aplainado situada entre a cordilheira e a pré cordilheira, um lugar chamado de “Pampa del Leoncito”. Dali, foram mais cem quilômetros até a Ruta Provincial 400, que dá acesso a uma futura mina que promete ser a segunda Chuquicamata e também ao vale do Rio Colorado, que nos dá acesso ao Cordón del Mercedário.

Após cruzarmos uma ponte sobre o Rio de los Patos, que é controlada pela mineradora, chegamos à localidade de Sant’Ana que é um posto da Gendarmeria Argentina onde eles engordam e reproduzem muares. Segundo o Antonio, que já havia ido duas vezes lá, poderíamos conseguir um preço melhor com os militares argentinos para podermos levar nossos equipamentos mais pesados, no lombo dos animais, para o acampamento base da montanha, e assim foi.

Começamos nossa caminhada no dia 31. Com menos peso, pois havíamos levado muitas coisas com os animais, muito logo já tínhamos percorrido oito quilômetros, até que a fome começou a apertar. Sob a sombra de uma pedra fizemos um macarrão instantâneo, enquanto também esperávamos o sol dar uma amenizada, pois mesmo na montanha, o calor é insuportaável.

Nosso rendimento acabou caindo um pouco após a parada, ainda mais por que tivemos que atravessar o rio colorado algumas vezes. Como estratégia para este tipo de travessia, eu sempre levo uma papete por fora na mochila e assim não molho minha bota. Meu colega não se preparou para isso e talvez por andar com as botas molhadas ele acabou fazendo bolhas enormes nos pés.

Após atravessar o rio várias vezes e depois de percorrer 18 quilômetros, chegamos em um lugar gramado onde montamos um acampamento. Lá passamos nosso reveillon, sem festas e sem rojões, somente a tosse do Antonio que estava ruim de gripe.
No dia seguinte continuamos nossa odisséia subindo o rio Colorado. O percurso era mais acidentado que no dia anterior, mas pelo menos podíamos continuar por mais tempo em uma só margem do rio, sem nos preocuparmos em atravessar aquelas águas turbulentas.

Num ritmo bastante lento, chegamos em Pirca de Polacos, o acampamento base da montanha a 3600 metros de altitude por volta da cinco da tarde, com tempo fechado e um pouco de vento. Antonio demorou bem mais do que eu, ele não estava bem.

Dali já podíamos avistar a gigantesca parede sul do Mercedario e o respeitado Pico Polaco. Fomos dormir ao som dos gritos dos guanacos que peleavam pelas fêmeas, já que era a época do acasalamento dos animais.


Antonio e sua caminhonete na "Pampa del Leoncito" Inicio da aproximação do Cordón del Mercedário Antonio atravessando um dos trechos do Rio Colorado Nosso acampamento durante aproximação da montanha Nosso acampamento em Pirca de Polacos e a imponente face sul do Mercedário (direita) e o Pico Polaco (esquerda) As bolhas do Antonio

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