Após a
roubada divertida em Salinas, fomos fechar nossa passagem rápida pelo RJ subindo um grande clássico nacional, o Dedo de Deus, berço da escalada em rocha do Brasil.
Eu havia escalado esta montanha por sua rota de conquista de 1912 há uns 3 anos atrás e queria levar o Maximo Kausch e a Maria Ulbrich para conhecer esta fantástica e belíssima montanha.
Aproveito este relato e já vou adicionando algumas dicas de como repetir a rota mais popular da montanha, a Face Leste pela variante Maria Cebola. Antes de fazer esta rota, é obrigatório fazer o registro na portaria do Parque Nacional da Serra dos Órgãos (PNSO) em Teresópolis. Para agilizar a esta burocracia, pode se fazer isso imprimindo o formulário neste
link, preencher e deixar com os guardas. Não esquecer de dar baixa na volta.
Mesmo pertencendo ao PNSO, a entrada do Dedo se faz pela BR 116, numa entradinha logo após a curva da Santa. A entrada é escondida e não há indicações, para achar basta descer pelo acostamento da pista de descida e ir olhando à direita. Não é possível deixar o carro no acostamento. O melhor local para isso é deixa-lo atrás do restaurante Paraíso da Serra. Os proprietários do restaurante não gostam que os escaladores ocupam o estacionamento principal do estabelecimento, então por gentileza é bom utilizar este espaço de serviços. No site Rumos há o
tracklog para ver no Google Earth e também para usar no GPS.
Após fazermos todos estes procedimentos, chegamos cedo e logo começamos a caminhada, que começa íngreme pela mata até chegar ao primeiro trecho rochoso onde estão instalados os cabos de aço que recentemente foram trocados. A partir daí o ganho de altura é bem rápido e se alterna entre trechos de via ferrata e trilha.
Na primeira bifurcação da trilha na direita começa a aproximação da face leste, que passa pela base do diedro Salomith, mas acaba na base da via que escolhemos, onde nos equipamos para começar a subida.
O primeiro trecho é meio que um trepa pedra com trepa mato bastante fácil que fizemos desencordados para que a mesma não fique presa na vegetação. A escalada em si começa num bloco que parece ser difícil, mas não é. Passando esta passagem, a escalada fica fácil e divertida, com possibilidade de proteções em árvores e móveis em fendas. O fim desta enfiada é um grampo simples num platô.
A segunda enfiada quem guiou foi o Maximo, que se bateu um monte na saída em uma fenda de meio corpo. Esqueci de avisar ele das chaminés da montanha, por conta disso ele subiu um pouco e logo eu assumi a enfiada, que passa por um trecho fácil e aéreo muito bonito que termina no começo de uma chaminé onde tem uma árvore que usamos para fazer a parada, o tal do platô da árvore.
Reunidos, ali as vias se dividem entre a variante “Black out” e a Maria Cebola, que dizem ser a parte mais legal da escalada. Por conta disso, obviamente, me coloquei na tarefa de guiar a segunda opção, usando a arvore para ganhar altura e ir subindo a parede no trecho mais técnico da via que após uma quina faz uma virada e entra num diedro fendado com um tetinho, um trecho super exposto e aéreo, pra não dizer no cagaço...
Depois dali começam as chaminés que são o terror para os mais altos. Ali percebi como seria útil ter uma joelheira para escalar a montanha. Subi guiando com certa dificuldade o trecho inicial, mas depois quando ela se alarga fica mais tranquilo novamente. A rota ameaça sair da chaminé, com uma parada num grampo único num platôzinho fora da rocha, mas na sequencia já entramos em outra fenda novamente, numa enfiada curta por conta do arrasto da corda.
A última enfiada começa num lance que parece difícil, mas não é. Ali há um bloco que se vence com tranquilidade e um caminho natural que entra numa fenda de meio corpo indo pela esquerda de uma grande rocha. Vencendo este lance, há um tipo de uma caverninha, ali tem que tomar cuidado com a orientação, para não entrar muito a fundo e ir subindo por umas rochas na direita quando olhamos para o fundo da caverna. É um lance meio estranho onde se ganha um bico de pedra e começamos a subir um local onde há uma fissurinha de dedo.
Estranho porém fácil. Ali escala-se quase como uma chaminé, até sair do buraco e chegar na última parada, quase na base da escada metálica que dá acesso ao cume.
A descida se dá pela via Teixeira, que tem apenas 70 metros. Cuidados a parte para não enroscar a corda e rapidamente estamos na trilha descendo os cabos de aço. Fizemos o ultimo rapel no lance dos maiores cabos e ali já pudemos ficar tranquilos que com uma simples pernada já estaríamos na estrada. Há outra
descida direta, que ainda não fiz, que foi aberta pelo Santa Cruz da Unicerj que parece ser bastante interessante.
Como sempre digo, o Dedo de Deus não é fácil. Apesar de muita gente insistir, esta montanha apresenta uma escalada tecnicamente simples, mas ela tem uma dificuldade física e emocional grande, principalmente pra quem está indo lá sem conhecer. Acho que
capacete de escalada, joelheiras e móveis grandes são materiais que ajudam muito. Não esquecer também
headlamp, principalmente quem vai encarar a chaminé Black Out. Nunca entre na montanha com
mochila grande nas costas.
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Vista do começo da ascensão |
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Primeiro trecho de trepa mato |
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Chegando no platô da árvore |
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A tal da árvore. |
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O começo da Maria Cebola. |
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O trecho mais famoso do Dedo de Deus. |
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Chaminé eu te odeio |
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E eu tb!!! |
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Leve joelheira |
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Na penultima parada. |
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Maria no segue da última enfiada. |
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Eu, Maria e Maximo no cume do Dedo de Deus. |
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Placa no cume |
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Pedro e Maria no cume do Dedo de Deus. |
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Croquis da Face Leste do Dedo de Deus com Chaminé Black out e Variante Maria Cebola comentado. |