Sábado, dia 09 de Maio à noite. Após várias vezes tentando falar com o Parofes, avisando que iria viajar a São Paulo, decido enviar um recado para sua esposa, a Lili e a resposta foi um soco no estômago:
_ Ele acabou de falecer.
A vida é feita de conquistas e de perdas, mas confesso que de todas as perdas que podemos ter na vida, ainda não tinha tido uma assim, a perda de uma pessoa tão próxima. Sim já perdi todos meus avós e outros entes queridos pela idade. Com o passar do tempo a gente aceita perder os parentes que ficam velhos, mas um amigo que tem quase a mesma idade que eu, isso nunca tinha acontecido antes.
Todos já devem estar sabendo que o Parofes morreu de uma doença terrível, a leucemia. Acompanhei todo o processo da evolução da doença, desde a incerteza, passando pela diagnosticação, as crises e o fim.
Durante este processo ele chegou a ficar em casa durante um tempo, fomos até para a montanha juntos, para satisfazer a vontade dele de ver um pôr do sol, cozinhar uma gororoba de acampamento e dormir ouvindo o vento. Acordamos a tempo de ver o sol chegando de novo, a umidade subindo dos vales gelados e luz aquecer nossa barraca pela manhã.
Também o visitei várias vezes no hospital, que na verdade foi o local que ele mais ficou nos últimos dois anos. Várias vezes vi ele reclamar, mas também me confortar, pois obviamente não queria que ele morresse.
A última vez que o vi foi uma despedida. Rompi um pouco o protocolo e fiz perguntas sobre a morte, pois ele sabia que não teria muito tempo de vida.
Em filmes vimos diversos casos em que pessoas são diagnosticadas como pacientes terminais e aproveitam com isso para gastar todo seu dinheiro com viagens e diversão. Infelizmente com o Parofes isso não foi possível, pois no mundo real as pessoas tem dores, não aguentam fazer atividade física. Apesar do Parofes ter um vigor físico grande, devido sua experiência no montanhismo, isso o ajudou a ter uma sobrevida e a caminhar nos corredores do hospital, mas não nas ladeiras das montanhas...
Em Janeiro fiz uma expedição aos Andes e lembrei muito dele, pois acabei indo parar em San Pedro de Atacama, cidade que ele adorava! Confesso que não gosto muito de San Pedro, pois lá as coisas são muito caras. Mas era impossível não lembrar dele ali. Lá fiz duas montanhas que ele já havia escalado, o Licancabur e o Sairecabur e foi com os seus relatos e tracklog de GPS que fiz estes cumes, onde obviamente o homenageei. Depois acabei indo ao Llullaillaco e quem escalar esta montanha vai achar uma foto dele no caderno de cume (por favor deixe ela lá).
Pedi a Pachamama que o ajudasse a encontrar um doador de medula. Embora ele não acreditasse em religiões, ele gostou do pedido. Nunca saberemos se Pachamama ajudou ou não, pois fato é que ele estava muito fraco e mesmo se tivesse um doador, não conseguiria sobreviver ao transplante. A rede de doadores de medula é muito lenta e foi ineficiente para achar alguém compatível à tempo.
Sobre as perguntas que fiz a ele sobre a morte, ele respondeu simplesmente, que estava ansioso pra ver como era. Ele era assim, sem dramas. Não sofria com a morte, mas lamentava que fosse embora tão cedo, principalmente pelo fato de poder ter ficado tão pouco tempo com a Lili, sua esposa. Eles se casaram em Dezembro de 2011 e os sintomas apareceram em Janeiro de 2012.
A história de Parofes é uma história linda. Eu tenho ela guardada e vou ter o prazer de contar a todos um dia. No entanto ela acaba assim, deste jeito triste que vocês conhecem.
Estou triste, é claro. Mas confortado por pelo menos poder ter falado meu último adeus. Para finalizar, escrevo algo que esqueci de ter falado:_ Obrigado Parofes por ter participado da minha vida!