Blog do Pedro Hauck: História da Arte e Cognição no Louvre

17 de abril de 2013

História da Arte e Cognição no Louvre


O Museu do Louvre é muito grande, tem muita atração, então é preciso estudá-lo pra saber o que fazer lá dentro. Minha intenção neste Museu foi mais de ver história do que arte, claro, dando uma passadinha pra ver a Monalisa, como qualquer turista estrangeiro...

No Louvre há uma enorme coleção do mundo antigo, Egito, Mesopotâmia, Gregos, Romanos e outros povos. As peças lá expostas são obras de arte e parte da história. Há muitas múmias, sarcófagos, joias de reis, rainhas. Roupas e artefatos do cotidiano de muito tempo antes de cristo, de muito tempo antes da existência da nossa civilização ocidental.

Nossa maneira de pensar, nossa vida privada e social é reflexo de uma história que evoluiu destes povos, mas não somos mais como eles em todos os sentidos, não apenas tecnologicamente, mas em todos os aspectos sociais, políticos, organizacionais etc.

O que me intrigou muito, foram artefatos pré históricos. Uma pintura rupestre é arte? Certamente que sim! A maneira de expressar na época das cavernas e sua evolução está no museu, embora não haja pinturas das cavernas, há esculturas daquela época.

A peça mais antiga que encontrei no museu é uma estatueta de barro encontrada na Jordânia chamada de estátua Aïn Ghazal datada de 9 mil anos atrás, ou seja, logo ao término da ultima glaciação, quando o ser humano era parte da fauna natural terrestre.

Estátua de Aïn Ghazal 

A estátua de Aïn Ghazal é meio parecida com a Vênus doPaleolítico (que na verdade são muitas), que é considerada a “obra de arte” mais antiga já encontrada. A Vênus retrata uma mulher, baixinha e gordinha, nada a ver com os padrões estéticos de hoje e nem mesmo da arte. Aïn Ghazal parece uma mulher, mas não tem braços e nem seios. É uma estatueta rústica e pouco elaborada.

Este estado de poder representar algo subjetivo por um “artista”. Lembrou-me as teorias de evolução cognitiva. Para quem não sabe bem o que é cognição, uma breve pesquisa no Wikipedia nos dá uma dica:

Cognição : É o conjunto dos processos mentais usados no pensamento e na percepção, também na classificação, reconhecimento e compreensão para o julgamento através do raciocínio para o aprendizado de determinados sistemas e soluções de problemas. De uma maneira mais simples, podemos dizer que cognição é a forma como o cérebro percebe, aprende, recorda e pensa sobre toda informação captada através dos cinco sentidos.
Mas a cognição é mais do que simplesmente a aquisição de conhecimento e consequentemente, a nossa melhor adaptação ao meio - é também um mecanismo de conversão do que é captado para o nosso modo de ser interno. Ela é um processo pelo qual o ser humano interage com os seus semelhantes e com o meio em que vive, sem perder a sua identidade existencial. Ela começa com a captação dos sentidos e logo em seguida ocorre a percepção. É portanto, um processo de conhecimento, que tem como material a informação do meio em que vivemos e o que já está registrado na nossa memória.

Um dos maiores nomes dos estudos de cognição foi Jean Piaget. De acordo com ele, em estágios iniciais, o ser humano representa o estágio sensório motor, ou seja, só conseguimos representar aquilo que podemos tocar e ver. Representar um sentimento ou memória seria extremamente abstrato para uma mente não tão evoluída. Outro intelectual do assunto, Lev Vigotsky, estudou a evolução cognitiva ao mesmo tempo em que Piaget e concluiu que a evolução cognitiva não é apenas uma relação do crescimento do homem, mas depende muito das interações sociais do meio, ou seja, uma criança em meio favorável, como aquelas que vi visitando o Louvre, poderiam ter uma evolução intelectual cognitiva muito maior do que uma que vive em clima de tensão num país em conflito, tendo que se preocupar se vai ou não ter o que comer no dia seguinte.

Foi talvez o sucesso do sedentarismo e o processo civilizatório que fez o homem ter tempo para representar em forma de arte, algum sentimento abstrato. Obviamente tudo isso de acordo com sua própria evolução cognitiva. Acho que eu consigo fazer algo mais bonito que Aïn Ghazal, isso mesmo não tenho talento nenhum em escultura, porém, quem a 9 mil anos atrás poderia fazer? É por isso que esta obra é tão tosca e tão importante!

Um exemplo de evolução cognitiva eu vi no Egito e também em povos Mesopotâmios. A arte destas civilizações é sempre representada em duas dimensões. Não há a noção de profundidade. Note uma figura egípcia e verá que os rostos estão sempre em perfil, elas são em duas dimensões, não há profundidade, exceto pelas esculturas.

Comemoração da construção de um templo em Lagash +- 2250AC. Escultura mesopotâmia 2d em calcário.

Hieroglifos no Sarcófago de Ramsés III. 18 ton de granito.
Detalhe do Código de Hamurabi, primeiro código de leis que se sabe no mundo, 1700AC.

Olho por olho, dente por dente. O Código é enorme e é esculpido em Basalto.
A escrita surgiu em 2600 AC em Uruk, Mesopotâmia. Ela é talhada na rocha, não há papel. Hamurabi deve ter tido um grande trabalho para fazer o primeiro código de leis, talhado num Basalto em 1700 AC. A escultura ainda é muito importante e na antiguidade, havia escultores muito talentosos. O trabalho com rocha e cerâmica já era bastante aprimorado, uma evolução no estágio cognitivo humano.

Da arte da antiguidade, aquela que vi uma maior evolução em padrões artísticos foi certamente na Grécia. Ali pude notar uma evolução grande tanto na forma de representação, tanto numa proximidade com o padrão estético da civilização ocidental. Pela primeira vez notei sensualidade nas representações e foi exatamente numa estatueta de Afrodite feito em Terracota.

Se olharmos bem, o padrão de representação desta deusa mulher, do amor, sedução e sensualidade, não difere muito das estátuas ocidentais. Olhando melhor, notamos que Afrodite em Terracota é igual à Virgem Maria das igrejas, porém com os peitos de fora. De onde veio o padrão artístico da representação da figura humana?

Também notamos a diferença dos valores morais no fato de uma representação ser sensual e exibir belos seios e outra ser a virgem mãe de Deus, mas a primeira ser bem mais antiga que a outra.

Afrodite da Grécia antiga, com os peitos de fora.

A evolução da estética e dos padrões de estética que ainda hoje influenciam a civilização eu notei com os Romanos e suas esculturas em mármore Carrara de corpos atléticos e musculosos, mas meio assexuados. Os romanos copiaram os padrões dos Gregos e não é a toa que as mulheres chamam homens de corpos perfeitos de deuses gregos, pois eram assim que eles esculpiam suas divindades.

Desta forma, ainda na antiguidade, porém em Roma, chegamos num estágio de evolução cognitivo avançado, onde não somente fomos capazes de abstrair sentimentos, emoções e ouros significados através da arte, como chegamos nos padrões de simetria e estética atuais. Começa aí a civilização ocidental, que evoluiu para o que somos hoje.

Estátua romana, baseada nos valores estéticos da Grécia.

Um comentário:

Careli disse...

O Louvre é um mundo! passamo sum dia dentro dele e não consegui ver tudo o que gostaria!
Com certeza é destino certo na próxima viagem para europa (em 2032 talvéz! rs)