Após algum tempo sem poder ir pra montanha, visualizei neste feriado uma boa oportunidade de tirar o atraso e ainda revisitar um dos locais mais especiais para o montanhismo, o Parque Nacional de Itatiaia (PNI).
Foi nas montanhas de Itatiaia que, em Janeiro de 1999 (
como pode ver aqui), eu despertei para o montanhismo, pois antes posso dizer que eu era mais um excursionista do que qualquer outra coisa. Então por conta disso, este parque tem um significado especial para mim.
Enfim, para não deixar o post muito longo, eu o dividi em três partes, cujos títulos já nos dá uma dica de como serão e do que fiz nestes 4 dias em Itatiaia: Meia Travessia na Serra Negra, Ascensão no Pico da Serra Negra e Perrengue nas Agulhas Negras.
A ida:
A oportunidade de poder revisitar o PNI após 7 anos veio através do
Tacio Philip, que conseguiu reservar o abrigo Rebouças, um refúgio de montanha que fica no interior do Parque. Foi a primeira vez que consegui ficar no Rebouças, pois ele sempre muito concorrido. Hoje em dia, com o fechamento do camping do Hotel Alsene, visitar o PNI sem ficar no Rebouças ficou muito difícil, então não perdi a chance.
Com o Abrigo inteiro reservado, fomos num grupo grande: No dia 8, vindo de Campinas saiu eu, Rafael,
Davi Marski e sua esposa Cintia em um carro. De São Paulo veio o
Parofes com o Patrick e o Dom. O Tacio e sua namorada Paulinha apareceram no sábado, dia 9 pela manhã e vindo do Rio, no mesmo dia à tarde, apareceu por lá o Flávio e o Elias, que nem vimos chegar, pois antes disso já estávamos na trilha em direção ao primeiro objetivo da viagem: Chegar à base do Pico da Serra Negra.
Da esquerda pra direita: Elias, Rafael, Cintia, Davi, Tacio, Paulinha, Dom(agachado), Patrick, Flávio (em pé), eu e Parofes. Foto Parofes
Antes deste feriado eu nunca havia ouvido falar do Pico da Serra Negra, apenas na travessia com este nome, que sai da parte alta do Planalto de Itatiaia e segue até a Maromba. Proibido até pouco atrás pela direção do PNI, esta travessia foi reaberta como sendo a Travessia Rebouças Maromba. Na verdade, apenas o comecinho da travessia é o da Rebouças Maromba, pois na altura da cachoeira do Aiuruoca ela sai do planalto e começa uma descida que emenda na Serra Negra Original, que começa um pouco antes do Hotel Alsene.
Achei muito boa a oportunidade para rever o vale do Aiuruoca, que na minha opinião é a paisagem mais bonita do Parque, com seus campos de altitude e montanhas rochosas ao lado, como o Altar e a Pedra do Sino.
Esta caminhada fez parte de um projeto pessoal do
Tacio, que está subindo as maiores montanhas do Brasil. Deste projeto, ele já fez quase todas e no Sudeste faltava apenas o Pico da Serra Negra.
Caminhada:
Saímos do Rebouças às 9:30 do sábado eu, Tacio, Paulinha, Parofes e Dom. O caminho é o mesmo que vai para a Pedra do Altar, mas continua descendo para o vale do Aiuruoca. No caminho, enquanto parei para fazer um almoço com macarrão com molho branco e frango liofilizado com sobremesa de sorvete Negresco (
Liofoods é tudo de bom!), o Tacio com o Dom e a Paulinho subiram uma das montanhas desconhecidas do Parque e que ninguém vai, o Pico do Cristal. Dispensei esta ascensão por pura vagabundísse e vontade de apenas contemplar aquela paisagem.
Paulinha no começo da trilha
Tacio no Planalto
Pedra do Altar
Dizem que quando olhamos para as estrelas, olhamos para o passado. Pois bem, quando olhamos para os
campos de altitude do Sudeste, também olhamos para o passado, pois elas são uma forma de vegetação relictual de uma época mais seca e mais fria durante a última glaciação, terminada há 10 mil anos atrás.
Após o descanso, continuamos a caminhada, passando pela cachoeira do Aiuruoca e continuando em direção à Serra Negra. Logo de inicio, admirei como a trilha está aberta, mesmo depois de mais de 15 anos de proibição. A merda de vaca ali presente no chão nos deu uma dica das razões para isso e também como que esta proibição tão prolongada prejudicou o montanhismo e não ajudou em nada em recuperar a natureza.
Campos de Altitude
Rio Aiuruoca
Cachoeira
Passamos pela região que sofreu uma queimada recente. O chão ainda tinha cheiro a carvão, mas algumas plantinhas surgiam das cinzas, infelizmente as samambaias, extremamente adaptadas a solos fracos e uma praga que dificulta a recuperação dos campos, que estão em extinção ao ponto em que os solos vão evoluindo e a vegetação florestal avança junto com eles.
Com bastante facilidade saímos da região dos campos e atravessamos uma bela floresta onde nos perdemos pela primeira vez. Fácil de achar, foi um contra tempo desejável para poder ver melhor aquele mato tão bonito.
Ao descer toda a vertente, chegamos a um grande descampado onde havia um rancho e um curral de pasto verde e uma bela vista para as serras circundantes e uma gigante cachoeira do rio Aiuruoca, muito mais bela e grande que a famosa cachoeira mais à montante. Achei muito curioso a presença deste rancho num local tão exmo e ligado apenas pela trilha que estávamos percorrendo.
Deste pitoresco rancho, seguimos pelo vale do Aiuruoca que na região é bastante movimentado, com muitas quedas e piscinas. Após poucos minutos chegamos à outro rancho, chamado de “Cabeceira do Aiuruoca”, onde encontramos a trilha da Serra Negra original. A partir dali, a trilha se torna mais larga, conformando um verdadeiro caminho.
Descampado e cachoeira: Paisagem rural ou natural?
Rio Aiuruoca
Erosão antiga já controlada na trilha da Serra Negra. Na foto, Parofes
Largura da Trilha: Provável caminho antigo semi abandonado
A maneira como é a trilha da Serra Negra me suscitou muitas dúvidas sobre sua origem. Ela é larga e bem feita, podendo ter sido carroçável no passado. A partir do rancho da cabeceira do Aiuruoca, ela passa por diversos currais de engordar cavalo e muitos outros ranchos. A paisagem é um misto entre paisagem rural e natural, podendo ser na verdade uma paisagem rural abandonada sendo recuperada. Por conta disso tudo, acho que este deveria ser um antigo caminho que ficou em desuso após a construção de estradas, mas que podia ligar cidades antigas da Mantiqueira.
A partir dali o caminho se tornou menos interessante, exatamente por ser mais largo e mais humanizado. Assim, depois de mais algumas horas de caminhada, chegamos em umas casas, para nossa decepção.
Ali era o começo da caminhada para o Pico da Serra Negra, que é chamado pelos locais de “Pedra Preta”. Fizemos uma pernada de cerca de 18Km à toa, pois poderíamos ter chegado ali de carro numa boa. Apesar do desencontro, valeu a pena conhecer o caminho e realizar uma meia travessia da Serra Negra.