Escalada tradicional, clássica ou de aventura é o estilo de escalada que eu mais gosto e um dos melhores locais para se praticar é Andradas, no Sul de Minas, onde podemos dizer que há um verdadeiro campo escola deste tipo de escalada, já que tem vias de sobra neste estilo e diferentes dificuldades.
Fui para Andradas na sexta junto com o Davi Marski com o intuito de escalar para se divertir e tivemos uma surpresa ao chegar lá, ficamos com o tradicional refúgio do Pântano só para nós, pois ninguém apareceu neste fim de semana, que teve tempo bom o tempo todo.
Com a montanha só pra gente, mas sem croquis, decidimos escalar a via “Pão Francês”, que eu conhecia por ter feito o rapel nela quando escalei a “Andragônia”, uma das vias mais exigentes do local no ano passado, junto com o Jacaré, dono do refúgio.
Entramos na via com as informações da Headwall n. 1, que dizia que a via tinha um crux de 5sup. Logo de começo erramos a via e fizemos a primeira enfiada da “Manteiga derretida”, mesmo com este deslize, conseguimos voltar pra Pão e eu guiei a segunda enfiada, que era super exigente e muito interessante.
Esta enfiada começa escalando por baixo de algumas lacas grandes, que fazem um tipo de mini tetos em móvel. Usa-se o vão destas lacas para equipar em móvel e a laca propriamente dita, é pinçada com a mão. Os pés, ficam na aderência e assim vamos progredindo. Na seqüência, há um lance delicado de aderência, mas com proteção fixa, um lance digno do “quintinho de Andradas”, que em escalou sabe o que é... Se “quinto” grau por lá já é difícil, imagem um sup? O Davi também achou difícil e pediu para eu continuar guiando...
A terceira enfiada é uma canaleta inteira em móvel, super legal, mas IV! Ô Jacaré, ta certo que não é nenhum bicho de sete cabeças, mas também não é fácil assim né!
Cheguei na parada cansado e sedento, já meio mole de sede.... Antes eu já estava sentindo falta de água, mas como subimos como apenas 600 ml de água, tivemos que racionar. Quando fizemos uma reunião na parada da 4 enfiada, vimos que erramos na estratégia de levar pouca água, mas mesmo assim continuei, até chegar em outro lance de 5sup, aonde eu já estava zonzo de sede e tive que descer, pois nesta altura do campeonato, o prazer havia sido substituído pelo cansaço.
Chegamos cedo no refúgio e sedentos... que horrível é ficar desidratado! Já descansando, peguei uma outra revista Headwall que falava sobre Andradas e vimos que numa edição mais recente, a Pão Francês estava graduada em 6sup... Aí sim entendi que este “quintinho” de Andradas estava de fato equivocada... Escalando isso em móvel e esticando corda, é melhor pensar que era mais fácil, ajudou na escalada.
No dia seguinte fomos para o campo escola, aonde fizemos algumas vias e repetimos a Nirvana, uma das linhas mais bonitas do local. Esta escalada fluiu com muita facilidade e chegamos de volta ao refúgio a tempo para ver o Brasil ganhar da Costa do Marfim na Copa.
Apesar de não ter feito nenhuma escalada excepcional, nosso climb for fun foi muito bom. Foi bom também ver que mesmo tanto tempo longe da rocha eu ainda estou bem psicologicamente e tecnicamente. Claro que não estou 100%, mas o montanhismo é assim, um eterno desafio aos seus limites, sempre se esforçando pela melhor prática e nunca parando de aprender.