No ano passado eu comemorei meu aniversário escalando o Pão de Açucar, desta vez não tinha nenhuma montanha grande disponível sem chuva. Olhando as imagens de radar do INPE, percebi que a instabilidade estava toda no Atlântico, então tive que fugir da Serra do Mar, pra onde fui? pro interior, Ponta Grossa.
Eu só tinha ido uma vez pra PG e só conhecia um lugar lá, o Parque Estadal de Vila Velha. Ponta Grossa, apesar de ser uma cidade feia urbanisticamente, naturalmente é muito especial, com muitas formações rochosas bizarras numa formação geológica que empresta o nome da cidade onde predominam arenitos de clastos grosseiros, porém bem cimentados, o que se traduz em arenitos bons pra escalar. Fora esta peculiaridade geológica, a região de PG é linda, com muitos campos edáficos e capões de Araucárias, numa paisagem muito típica do Domínio sutropical dos planaltos do sul.
Dentre os outros lugares lindos de Ponta Grossa, destaca-se o buraco do Padre. Este lugar é uma típica furna, uma feição de relevo muito comum nesta região. Uma furna é uma enorme dolina em meio à superfície planáltica recoberta de campos da região. Há muitas furnas destas por aqui, mas o buraco do Padre é diferente, pois nele passa um rio e assim formou-se uma paisagem muito pitoresca, pois este rio cai dentro da Furna, formando uma linda cachoeira que cavou um túnel para encontrar uma saída. Trata-se de uma bela e expressiva formação cárstica em rocha não carbonática.
A escalada se dá fora da furna, nos afloramentos de arenito que orçam o vale do rio que cai no Buraco do Padre. São formações rochosas semelhantes às de Vila Velha, onde de despontam tótens de arenito bastante esfoliados em suas bases, com tetos e agarras grandes onde há belas vias esportivas negativas, fáceis em virtude da beleza da parede, o que me faz pensar cada vez mais que os arenitos do Paraná são tão bons quanto o Calcáreo de Minas, com a diferença que aqui a rocha não é tão lisa.
A evolução destas formas são um caso à parte. Muitos confundem a evolução geológica do arenito com a evolução geomorfológica das vertentes. Uma coisa não tem nada a ver com a outra, pois são idades totalmente diferentes, pois uma se deu há cerca de 400 milhões de anos e outra em cerca de 2,5 milhões.
Eu acredito na hipótese de evolução eólica das formas das vertentes em Ponta Grossa. Este processo se deu numa fase prolongada de clima seco com deserto de areia, onde o vento jateava com força a base das paredes, esfoliando os arenitos, esculpindo as famosas "Taças" que são formações de base estreita e topo largo, uma grande "cabeça" equilibrada sob um frágil "corpo". Por que 2.5 milhões de anos? Esta é uma época famosa de clima seco na América inteira, uma época que deixou grandes marcas no relevo, com superfícies aplainadas e depósitos de pedimentos, aos moldes do que é a formação Guabirotuba em Curitiba. Houveram feses secas posteriores, mas nenhuma tão prolongada.
Outras formas do relevo da região tem origem na resistência das estruturas. Como no Salto do rio São Jorge, outro lugar onde estivemos escalando neste final de semana. Percebe-se uma incisão de um rio numa falha geológica e apartir deste ponto de fraqueza, uma erosão mais eficiente, destruindo a vertente e causando este grande boqueirão por onde passa o rio. Falhas geológicas são muito comuns nesta região do Paraná. São falhas muito antigas, da época do soerguimento do famoso "Arco de Ponta Grossa", que é uma história muito mais longa e que muda o contexto disso o que eu quero contar aqui, que era, na verdade, pra falar só da escalada no fim de semana.
O que quis dizer com isso tudo? Somente uma coisa: Que na na região de Ponta Grossa tem muita escalada boa, com paisagem bonita e que vale a pena gastar muitos fins de semana indo pra lá. É o que farei daqui pra frente!