Em 2011 ingressei no Programa de Pós Graduação em Geologia da UFPR com o propósito de estudar as origens e evolução da Serra do Mar paranaense. Tinha em minha cabeça muitas perguntas sem resposta que não eram coerentes com o conhecimento que havia sobre as montanhas brasileiras.
Até este momento, ainda se falava nos livros de Geografia que o relevo brasileiro era “antigo”, um conceito que é atribuído à um trabalho de 1899 do geólogo norte americano Willian Morris Davis.
Davis fez uma comparação das formas de relevo das montanhas das regiões tectonicamente mais ativas e concluiu que após elas se formarem pelo tectonismo, o tempo seria responsável por sua total destruição e por fim, após 60 milhões de anos chegaríamos à um planície, um relevo sem montanhas, com grandes rios meândricos.
Neste conceito, as montanhas do Brasil por serem arredondadas e de baixa altitude, seriam montanhas antigas, ao ponto que no Andes as montanhas era jovens e o relevo, da bacia platina, seria um exemplo de relevo senil.
Apesar de coerente, seria mesmo tão antigo assim o relevo brasileiro?
Escolhi como área de minha pesquisa a Serra do Mar, na região onde fica o Pico Paraná, onde identifiquei superfícies aplainadas que seria remanescentes de um relevo antigo, anterior às montanhas. Porém, como datar o relevo?
Em 2008, durante um SINAGEO, conheci o Dr. Luis Felipe Brandini Ribeiro, onde tive acesso um moderno método de datação que poderia me dar uma resposta sobre a idade da Serra do Mar. Era a Termocronologia com Traços de Fissão em Apatitas, um método bastante complexo que exigiria além de muito conhecimento, extenuantes saídas de campos para coleta de material.
A apatita é um mineral raro. No Granito da Serra do Mar ele compõe menos de 0.5% de todos os minerais contidos na rocha. Para conseguir uma quantidade suficiente deste mineral, precisaria de fazer a coleta de pelo menos 30 quilos de rocha por ponto. Foram 23 pontos de coleta.
Na verdade, me diverti muito coletando estas rochas, pois tive que ir caminhar nas montanhas várias vezes. Em uma das vezes, caminhei desde o A2 até a Fazendo Pico Paraná, com 61,3 Kg nas costas! Foi meu recorde pessoal.
Depois de separar as rochas, começou o processo mais penoso, a separação dos minerais.
Tive que triturar as rochas em várias frações mais finas. Peneirar diversas vezes e enfim começar a separar. Primeiramente usando uma bateia mecânica, depois, um separador magnético, para enfim, com o bromofórmio, separar os minerais mais pesados.
Após este processo, com uma lupa, separava os minerais de apatita dos demais apenas no olho! É muito difícil reconhecer este mineral dos demais e a única maneira de saber se uma apatita é uma apatita é destruindo ela com um reagente químico.
Por fim, os minerais eram alinhados de 10 em 10 e resinados. Depois de seco, as resinas eram lixadas e polidas para enfim sofrerem um banho químico para ter os traços revelados. Depois disso elas foram levadas para o reator nuclear do IPEN, onde foram irradiados.
Aí é que a pesquisa parou. O reator do IPEN ficou fechado por muito tempo por manutenção. Houve greve de servidores e muitos problemas. Minhas amostras demoraram 2 anos para serem irradiadas e nisso fui desligado do Programa de Pós Graduação.
Claro que fiquei muito decepcionado. Me senti culpado e envergonhado, sobretudo com meu orientador, quem havia depositado muita confiança em mim.
No entanto, todo fim é um recomeço. Acabei me virando para poder ganhar minha vida. Trabalhei como guia de montanha, ministrei cursos de escalada e acabei fundando junto o Hilton e o Rafael a Loja AltaMontanha, dedicada à venda de equipamentos de montanhismo. Foram anos de muito trabalho e pouco tempo para pensar.
Finalmente, depois de muito esforço, encontrei tempo para, ainda que não tivesse todas as ferramentas à minha disposição, finalizar a pesquisa, pelo menos até o ponto onde foi possível. Assim, escrevo agora o resultado de tanto esforço. Paleosuperfícies de Erosão na Serra do Mar do Paraná é o resultado de anos de estudo e dedicação às geociências e nele respondo a pergunta que fiz a mim mesmo quando comecei a escalar.
De fato, as montanhas no Brasil não são antigas. Porém há sim feições velhas nelas ainda preservadas, são as Paleosuperfícies.
Neste livro, além de desvendar as origens das montanhas brasileiras da borda leste do continente, ainda faço uma revisão de capítulos interessantes da história das geociências, onde os protagonistas viveram nas montanhas, como Walther Penck, criador da teoria da Pediplanação e Reinhard Maack, descobridor do Pico Paraná, local deste estudo e que contribuiu muito com argumentos para a teoria da Tectônica de Placas.