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Após escalarmos 4 montanhas e realizarmos uma travessia 4x4 pela Puna, estávamos com o tempo estourando para tentar outra montanha, infelizmente, pois a experiência havia sido muito boa, o tempo estava bom e estávamos aclimatados, no entanto não tínhamos tempo para descansar e tentar uma saideira.
Com isso acabamos aproveitando os últimos dias da viagem para passear e conhecer lugares novos. Com isso em mente, saímos de Antofagasta de la Sierra caçando o que fazer. Infelizmente naquele momento eu não estava com as melhores informações deixei escapar o que parece ser um dos melhores roteiros 4x4 do norte argentino, que é realizar a travessia de Antofagasta de la Sierra até Fiambalá, passando pela Sierra de Buenaventura e o campo de Piedra Pómez. Menos mal, pelo menos agora eu sei um caminho “diferente” para chegar ao belo Paso San Francisco, onde Fiambalá (uma velha conhecida minha) é a cidade base.
Nesta procura por lugares novos, fui parar na cidade de El Peñon e dali no pequeno e belíssimo Pueblo de Laguna Blanca, com suas casas de adobe, muros de pedra e paisagem bastante pitoresca, onde há um museu e um hotel BBB (Bom bonito e barato) onde só não paramos pois era cedo, aproveitamos e almoçamos no local, o que é mais do que recomendado.
Laguna Blanca é o acesso a um dos seis mil menos conhecidos do Noroeste Argentino, o Nevado Laguna Blanca, pouquíssimo escalado e bem distante dos demais 6 mil de Catamarca, que se concentram perto do Paso San Francisco na fronteira como o Chile, como o Ojos del Salado, Pissis, 3 Cruces, Walther Penck, Incahuasi, Condor, apenas para citar os com mais de 6500 metros... Pelo menos descobri o caminho para esta desconhecida montanha que pretendo escalar. Cada vez mais tenho mais e mais fixação por montanhas que ninguém conhece e que ninguém escala.
Deixando Laguna Blanca para trás, vamos aos poucos deixando a imensidão seca da Puna. A estrada, que no altiplano é asfaltada, entra em um vale, a quebrada do Indalecio, e ali deixa de ser pavimentada. Cruzamos por montanhas cobertas de areia, algumas com grandes dunas, que já havia observado em minha primeira experiência por Catamarca em 2006 e depois em 2012 com o Waldemar Niclevicz.
A partir dali, começam a aparecer vilarejos ao longo da estrada e não demora para cruzarmos com a cidade principal, que é a sede de município de todos aqueles “pueblos” incluindo até Laguna Blanca, é a cidade de Villa Vil, que em sua sede tem poucos atrativos, mas em seu território paisagens incríveis!
Um pouco mais para frente o asfalto é retomado e de repente estamos de volta à Ruta 40 no cruzamento de estrada chamado de “El Eje”, que tem até, veja só, um posto de gasolina!
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Ruta 43 perto de El Peñon |
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Ruta 43 perto de El Peñon |
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Ruta 43 perto de Laguna Blanca |
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Quebrada de Indalecio |
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Quebrada de Indalecio |
Dali tomamos a direita, rumo ao sul. Seguindo a grande “BR” argentina que neste tramo percorre o vale do rio Belén, rodeado de escarpas rochosas e cheio de cactos e plantas espinhentas. O rio dá nome à cidade de Belén, que cruzamos inteira até 16 km depois chegarmos a nosso destino naquele dia: a cidade de Londres. Sim, Londres, Catamarca!
Depois de tanto perrengue, poeira, dias sem banho, caminhadas sem fim, subidas, descidas, falta de ar, frio, calor, montanha... Enfim tinha que levar a Maria para um lugar civilizado, por isso escolhi Londres, Catamarca, a segunda cidade mais antiga da Argentina, localizada ali, no meio do nada, na Ruta 40, longe de tudo (mas pertinho de Belén), esquecida por muitos, mas que pelo nome acabei indo e não me arrependi.
Encontramos uma pousada muito aconchegante na casa de uma família tradicional da cidade. Casa colonial antiga, com um jardim interno com parreira repleta de uvas onde fomos muito bem recebidos e convidados para conversas.
Apesar do centro de Londres não guardar nada de sua primeira fundação, já que a cidade foi destruída cerca de 8 vezes pelos índios dieguitas, dos quais os Quilmes (que deram nome ao bairro em Buenos Aires e do bairro à Cerveja) fizeram parte, não há muito de sua memória colonial preservada. No entanto, chama atenção ao fato de que em Londres está a maior ruina incaica da Argentina. Uma cidade Inca que preserva toda a estrutura burocrática do império e que por isso mostra que era um local importante dentre da civilização incaica. Esta ruina é El Shical, que eu e a Maria fomos conhecer numa manhã de muito calor.
El Shincal, na verdade nem tem este nome. Como o Império Inca se colapsou desde a capital Cuzco ao interior, os Incas abandonaram o local antes mesmo dos espanhóis chegarem à Argentina. Por isso não se sabe como era o nome desta cidade. Shincal vem de “Chinca” o nome de uma planta espinhenta que abunda na região e que tomou conta do sitio, o que por sua vez preservou o local, já que sua descoberta foi bem tardia, já no século XX, aparentemente porque lá tinha tanto espinho que ninguém se atrevia a dar umas bandas pelo local. Parece incrível, mas mesmo com duas pirâmides, que aproveitam o relevo local, uma praça central e vários outros edifícios, este sitio ficou abandonado por séculos.
Eu tenho uma grande curiosidade por história e neste local pude tirar várias conclusões sobre uma história que tenho fascínio, que é a do encontro de culturas entre o europeu e os Incas na América do Sul pós descobrimento. Engraçado é perceber que a história da Argentina não começou pelo lado do atlântico e de seus rios que dão nome à região à que ela é referida geograficamente, a bacia da prata. A Argentina nasceu no Noroeste, através da conquista dos espanhóis dos territórios incas. A primeira penetração do território argentino por europeus foi em 1530 com a expedição de Diego de Almagro, durante a conquista do Chile, numa expedição que percorreu o Capac Ñan, a estrada real inca que corta a Puna e passa por El Shincal que na época já estava abandonado há vários anos.
Durante o passeio em Shincal, pude conhecer uma construção inca que me chamou muito a atenção. Trata-se do Ushnu, uma grande plataforma retangular aplainada com uma escada que fica no centro da cidade alinhada com o resto das construções governamentais. O Ushnu, que é tido pelos arqueólogos como o local do poder, onde ficava o cacique, se parece muito com a estrutura que encontramos no cume do Quewar, a montanha mais alta que escalamos na expedição com 6150 metros de altitude.
Bom, com esta experiência nossa viagem chegou ao fim. Ainda naquele dia continuamos nossa viagem rumo ao Norte, passando de Catamarca a Tucumán por Amaicha del Valle, dali subindo a serrinha de Tafi del Valle, que é muito bonita e interessante pela diferença de climas de um lado e de outro da montanha, e de lá cruzando até Santiago del Estero, que é a cidade mais antiga da Argentina onde passamos uma noite. De lá fomos no dia seguinte para Corrientes, ainda dormimos mais uma noite em Misiones, perto das ruinas jesuíticas de San Ignácio e de lá fomos direto à Curitiba numa viagem longa e cansativa até nossa casa.
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Chegando em Londres |
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Jardim de nossa casa em Londres |
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Casa colonial em Londres |
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Ruíns de Shincal visto de cima. |
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Edificios de Shincal visto por cima |
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O Ushnu visto de cima |
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Entrada do Ushnu |
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Eu e Maria |
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Escadarias |
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Que gracinha! |
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Ushnu |
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Ruina Inca do Nevado Quewar.... Parecido com um Ushnu!!!!! |