Na quinta feira, dia 3 de Julho, acordei às 4:45 depois de uma noite marcada por delírios de uma gripe com febre explosiva que tive um dia antes, pois é, fiquei bem doente às vésperas de ir pra montanha. Muito azar!
Mesmo sem estar bem, peguei o Maximo na casa da mãe dele em Itatiba e segui pra Jundiaí onde o Hilton estava chegando de ônibus vindo de Curitiba. Em pouco tempo nós três estávamos atravessando o Estado de São Paulo e Mato Grosso do Sul.
Dormimos a primeira noite em Aquidauana e no dia seguinte cruzamos o Pantanal até chegar em Corumbá, na fronteira com a Bolívia. Fronteira sabe como é... burocracia, encheção... Pois bem, sempre há guardas que ficam procurando problemas na sua documentação para depois eles oferecerem a solução, paga é claro! (Não preciso entrar mais em detalhes né!)
A estrada na Bolívia começa muito boa, asfalto perfeito, olho de gato na pista, ótima sinalização... Andamos cerca de 400 km nestas condições, realmente perfeito! Esta estrada, que é paralela ao Trem da Morte, era intransitável até pouco tempo atrás. Em 2007, na última vez que estive na Bolívia, já havia reparado os avanços que o país está sofrendo na atualidade e a criação desta estrada ligando o Brasil é mais um destes avanços, que na verdade demorou meio século pra estar pronto.
O problema é que a estrada ainda não foi concluída. Percebemos isso de noite, logo após procurar um hotel, sem sucesso, em San José de Chiquitos, uma cidade minúscula, com ruas de terra e casas humildes e que por ter uma igreja jesuítica bonita é uma cidade turística super movimentada... Fomos dormir escondidos no meio do mato do Chaco Boreal.
Voltando à estrada, meu Deus, quanta poeira! O pior é que ela é muito movimentada, há caminhões enormes, mas não há nenhuma infra-estrutura. De San José de Chiquitos até o final daquela estrada são cerca de 200 Km sem cidades, sem posto de gasolina, sem nada! Papai Noel passa por lá só de helicóptero.
Após passar o caos da falta de infra-estrutura, fomos passar pelo caos do trânsito de Santa Cruz de La Sierra. Alias esta cidade é muito estranha, é uma verdadeira Índia, onde o desenvolvimento convive com o tradicional e a pobreza. Vimos avenidas belas e modernas e outras horríveis com um transito impossível. Por sorte a avenidas que sai da cidade em direção à Cochambamba é das boas e não tivemos dificuldades em deixar a capital "Camba" e rumar em direção à cordilheira.
São duas as estradas para Cochabamba, uma antiga, que passa pelas ruínas de Samaipata e outra nova e toda asfaltada que foi a que tomamos. Infelizmente não muito bonita, pois só entramos na cordilheira nos quilômetros finais.
No começo a cordilheira é toda florestada. São montanhas verdes, muito escarpadas onde é normal ver alguns deslizamentos de terra. Passamos por rios caudalosos e cachoeiras e ao ganhar altitude, vamos perdendo vegetação até que ela se resuma a uma estepe arbustiva e desértica. Logo estaríamos em Cochabamba, em um vale à 2500 metros de altitude, onde só fomos chegar tarde da noite.
Cochabamba é uma cidade bonita. Tem uma arquitetura colonial, uma praça central bonita e histórica, mas também tem bastante coisa moderna. É uma cidade mais ou menos limpa e com uma urbanização melhor que a do resto da Bolívia. Não tivemos tempo de curtir o local, mas quem quiser vale a pena perder um dia conhecendo a cidade.
Partimos ontem de manhã de Cochabamba rumo à La Paz, nos 380 Km mais bonitos que fizemos até agora na viagem. O começo é marcado pela subida nos Andes, deixamos rapidamente a cota dos dois mil metros, subindo por zigue-zagues na estrada e quando vimos estávamos no altiplano a mais de quatro mil metros!
As pirambeiras da subida ficaram para trás e agora dirigíamos nossa Ecosport por uma região quase aplainada, de onde apenas se desponta algumas colinas recobertos por arbustos numa terra quase estéril, fria e seca ao ponto que respirar se tornava difícil, ainda mais com minha gripe ainda não curada.
De longe o altiplano é uma terra pouco atrativa, mas é muito diferente de nossas paisagens. É um lugar ancentral muito povoado já há milhares de anos pelos Aymarás, a principal etnia da Bolívia. Rompe com a monotoneidade o aparecimento de algumas montanhas nevadas nas bordas desta altiplanície. No Leste, são as montanhas da Cordilheira Real, como o Illimani, Huayna Potosi, Mururata e outros. No outro lado, há duzentos quilômetros de distância, aparecem os Payachatas e o Sajama, vulcões da cordilheira Ocidental, tão distantes e visíveis.
A paisagem aparentemente selvagem dá lugar à algumas aglomerações de casas que logo ficam densas, junto com o transito. Ainda estamos no altiplano, mas dentro da maior cidade satélite boliviana, El Alto, região metropolitana de La Paz.
Na avenida vemos caminhões, Vans de passageiros, muita feira e movimentação. Após um local muito movimentado e de transito parada, "La Ceja" começa a autopista que desce o enorme vale onde fica a capital boliviana. Antes, claro, paramos para ver a mais famosa vista da cidade.
A autopista perde altitude, saímos dos 4 mil e chegamos até os 3.600 perto da catedral. Onde deixamos a avenida e entramos pelas ruas estreitas e movimentadas do centro histórico, que está bem melhor do que há dois anos atrás, com muito menos lixo e muitos sinais de progresso, como reformas de antigos prédios e surgimento de novos hotéis.
Deixamos o carro em um estacionamento e fomos ao meu hotel/albergue favorito, o "El Lobo", a casa do mochileiro israelense, Bs. 25, ou R$ 7,00, com direito a banho quente dos bons e internet wireless.
Apesar de estar em casa, pois foram dezenas de vezes que me hospedei aqui, a situação não é da melhor. Minha gripe ainda não melhora e isso dificulta muito minha estada na altitude. O Hilton está com um problema no dente, com um inchaço no lábio e o Max hoje de manhã acordou mal, suspeita de giardíase, doente que ele já teve no Nepal e que não é nada agradável...
Vamos permanecer em La Paz por algum tempo e mandaremos noticias sempre, de preferência boas! As montanhas estão lindas, o tempo está ótimo... Só Murphy é que não está colaborando...