Blog do Pedro Hauck: Comprometimento e risco

17 de junho de 2008

Comprometimento e risco

Minhas mãos estão molhadas de suor. Tento em vão secá-las com o magnésio. Meu braço dói, como se diz na gíria da escada, está "bombado". Os pés não se acertam numa posição que meu corpo consiga se equilibrar decentemente. Não olho para cima da via, olho apenas para a próxima agarra. Para baixo, vejo algumas peças móveis entaladas numa fenda negativa em que meu cérebro insiste em não confiar. Com a garganta seca, grito, xingo.... em minha mente penso apenas uma coisa: O que estou fazendo aqui? A situação é de impasse. Logo acima há um teto que tenho que vencer. Descer, impossível! Não havia um camalot à prova de terremoto que agüentasse um rapel negativo de mais de 20 metros até o chão. Eu havia me comprometido em escalar aquela via agora tinha que ir até o fim...

O relato acima aconteceu comigo de verdade. Foi na via Diedro de Isys no setor 3 de São Luis do Purunã. Trata-se de uma via esportiva de grande dificuldade com um grande diferencial, ela é inteira em móvel.

Como o nome diz, a Isys segue por um diedro, que no caso é uma grande rachadura, negativa, com a fenda variando de tamanho. Muitos lugares ela é perfeita para encaixar a mão e o braço, mas em outros lugares cabe apenas o dedo.

O grau da via é 6 sup. Isso não é nada demais na escalada esportiva, pelo contrário, é uma via fácil. Mas para mim foi uma das vias mais difíceis que já escalei. Não por causa da dificuldade, mas por causa do meu medo.

Numa escalada difícil você terá que optar entre escalar e recuar. Em várias vias onde não soube como resolver um crux, seja tentando ou achando que eu não conseguiria, eu pude voltar fácilmente. Entretanto quando a via não tem proteções fixas , voltar fica mais difícil, pois você tem que abandonar uma peça móvel ou uma fita laçada numa laca. O que eu não achei seguro fazer na Diedro de Isys.

Na verdade eu estava com medo de escalar em móvel uma via onde eu teria maior chances de cair. Pra começar a via tinha um lance que eu sou péssimo, que é entalamento de mão. Eu acho que minha mão não é um nut e por mais fácil que seja, eu odeio entalar mão e pés...

Naquele momento eu já havia decidido escalar a via e não havia mais como voltar. É uma grande responsabilidade, mas controlar o psicológico é algo bem difícil.

Não entrei nesta via à toa. Há bastante tempo venho treinando escaladas de dificuldade e estou escalando vias muito piores (quer dizer, melhores pra quem escala, hehe). Também tenho tido algumas experiências com escalada tradicional mais exposta com proteção em móvel, entretanto nunca tinha misturado as dificuldades de uma escalada tradicional e esportiva em uma só via e a Isys foi o resumo disso tudo.

Depois que botei na minha cabeça que eu há havia escalado coisas muito piores e que apesar de nunca ter estado lá, a Isys era uma via fácil, eu pude vencer o impasse, ficar somente com as mãos no teto, jogar os pés para fora e conseguir subir a via. Foi um momento de alivio vencer aquele perrengue. Depois foi só ver meu parceiro, o Tacio, passar por toda perrengue de novo para escalar a via de segundo. A via é tão negativa que se ele caísse não voltava mais.

Enfim tudo saiu certo. A escalada foi linda e a via é mais do que recomendada, mas um aviso aos menos experientes: Nunca entre numa via dessas sem ter certeza que vai conseguir mandar e outra. Converse bem com seu pensamento, não deixe que ele te derrube.

Vista do setor 3

Vista para a Diedro de Isys

Veja mais fotos das escaladas em São Luis no site do Tacio.

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