Blog do Pedro Hauck: A Mudança

6 de janeiro de 2006

A Mudança

Quarta feira fui para Rio Claro fazer minha última parte da mudança e acertar minha documentação na secretaria da faculdade. Saí de Itatiba pela manhã com a Saveiro do meu pai para transportar as tralhas e aproveitei o caminho para ir na Polícia Federal de Campinas e dar entrada no meu novo passaporte.


Nunca tinha ido à PF de Campinas e demorei um pouco para achar. Peguei minha senha e esperei minha vez de ser chamado. Antes de sair eu havia conferido todos os documentos e lá estava eu munido de CPF, titulo de eleitor com comprovante de votação nas últimas eleições, RG, carteira de reservista, certidão de nascimento, passaporte velho e o formulário da internet.

Só havia esquecido de uma coisa: Pagar a guia no banco e anexar o pagamento junto ao formulário que estava errado. Ou seja, tive que sair correndo pagar a taxa e arrumar outro formulário.

Foram minutos de apreensão, pois não pretendia voltar lá novamente, mas enfim consegui e fui para Rio Claro com uma missão cumprida.

Chegando lá, a cidade estava um pouco mais morta que o habitual. As ruas estavam vazias, não havia estudantes na universidade e o céu negro e nebuloso me dizia toda hora: Estamos em Janeiro.

Devolvi os livros e revistas que usei na semana de Natal e ano novo para fazer o último trabalho da faculdade. Paguei R$ 15,00 de multa por atraso na devolução, minha última contribuição à biblioteca.

Depois disto passei na secretaria, que estava lotada, para ver minha situação. Mesmo não saindo a nota do professor atrasadinho, como era de se supor, não vacilei e fiz pedido de banca especial de avaliação para o caso dele me reprovar, o que não é nenhuma surpresa, pois além de atrasado este professor é o carrasco da Geografia.

Encontrei alguns colegas, professores e funcionários e me despedi deles. Durante 5 anos vi essas pessoas todos os dias. Eles fizeram parte de meu cotidiano e minhas preocupações e agora estavam ficando no passado. Um estranho sentimento tomou conta de mim, foi uma consciência que estava vivendo uma transição e que aquelas pessoas tão reais iriam em pouco tempo se tornar apenas uma lembrança do que eu era.

Voltei para a república na esperança de que o Jeca ou o Dú estivessem lá, mas não havia ninguém. Fiquei sozinho junto com os gatos a tarde toda assistindo a Copa SP de Futebol Jr. um indicador social e esportivo da época do ano que é agora.... Geralmente nunca estou em São Paulo para ver este campeonato, só no fim fico sabendo pelo jornal quem foi o campeão.

No fim de tarde o Dú apareceu. Já havia feito as contas e deixado o dinheiro. Só precisava que o Pedrão me pagasse sua parte da venda da parede de escalada e que o Dú me pagasse pelos móveis que ele me comprou. Feito isso já não tinha o que fazer na cidade.

Passei minha ultima noite na república ouvindo a chuva lá fora e preocupado em como faria para transportar o colchão.

Ao amanhecer fui ao centro na esperança de conseguir uma embalagem plástica para levar o colchão na caçamba da pick up. Depois de ir a algumas lojas de móveis e de colchões acabei comprando uma lona de construção e voltei para a república para carregar o carro.

O Eduardo me ajudou a arrumar a pick up e à enloná-la. A república estava só escombros. As férias mostravam o descuido com as plantas que morriam de sede dentro da casa, assim como a poeira que invadira a sala e os quartos e o mato o jardim. A gataiada ainda dava um toque especial em sujar e bagunçar tudo o que já estava sujo e desordenado, fazendo valer a expressão “balaio de gato”.

No meu ex quarto só havia uma estante vazia e uma escrivaninha juntando poeira que eu havia vendido aos meninos. No chão estavam papéis e coisas que não haviam sentido eu transportar, entretanto eram vestígios que aquele local fora habitado por mim.

De um lado havia um sentimento de felicidade de estar cumprindo uma fase na vida e de estar indo para um local melhor que aquela caótica república imunda e cheia de problemas. Só para listar, nossa casa não tinha caixa d’ água, nosso banheiro tinha uma única instalação de esgoto da privada e do ralo do chuveiro, que perfumava a casa com cheiro de cocô, a porta de entrada da casa estava amassada e só fechava por causa de um ferro que havíamos instalado uns anos atráz, o chuveiro sempre havia sido uma inconstância, vira e volta ele queimava e ficávamos longas semanas tomando banho de água fria até que alguém tomasse a iniciativa de consertá-lo. Para piorar, o chão estava repleto de entulho da retirada da parede de escalada e o lixo reciclável estava tomando conta do quintal por que fazia pelo menos um mês que a reciclagem não passava por lá. A chuva só fazia piorar ensopando tudo isso e os gatos para ajudar haviam resolvido não fazer suas necessidades na terra, mas sim no chão.

Voltei para a estrada com a Saveiro lotada com porcaria e meu pé fedendo cocô de gato. Na saída da casa havia me despedido do Eduardo, com quem havia dividido república desde o primeiro ano da faculdade. Tive até vontade de chorar, só não fiz isso por que sei que estou realizando um sonho da minha vida neste momento que é viajar de carro pela Argentina e ir morar na Áustria.

Parei para sonhar o que eu faria se ganhasse alguns milhões na loteria. Sinceramente, faria o mesmo que vou fazer com meu parco dinheirinho, ir para a Argentina e depois para Áustria. Me dei conta do quanto sou feliz.

Enquanto isso em Itatiba, as coisas vão se arrumando. Hoje achei minha habilitação que ontem havia perdido. Como nunca há tempo para uma felicidade plena, minha preocupação no momento é com a documentação do carro. Fiz hoje a vistoria para transferir o cabrito para meu nome. Tenho medo que não dê tempo e que eu tenha que esperar uma semana por causa deste documento. Vamos ver no que vai dar....


Foto do Eduardo (atrás) e Jeca (frente), meus companheiros de republica

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