Na atualidade, rumores do tempo se misturam, como se cada acontecimento tivesse ocorrido junto, na verdade a região hoje conhecida como bairro Alto tem uma história bem interessante que sustenta estes mitos populares.
Onde hoje é o bairro Alto, era no passado um entreposto isolado de Antonina. Dali vinham tropas de mula que desciam a Picada do Cristóvão, no passo entre a Serra do Ibitiraquire e a Serra do Capivari. Nesta trilha antiga, que já foi um caminho de índios e durante a colônia se tornou um caminho calçado, escoava a produção de todas as fazendas da região do vale do Capivari, no primeiro Planalto. As mulas desciam o caminho e iam até o Porto de Cacatu. Dali a carga era dispensada em Canoas, que navegavam rio abaixo e penetravam a baia de Antonina, indo descarregar no porto da cidade homônima.
Não era possível chegar à Bairro Alto de Canoas, isso por que o Rio Cachoeira não permitia, aliás, ele não tem este nome à toa. Daí a utilização do Rio Cacatu e Nunes como meios de transporte fluvial. A rodovia PR 340 não existia. Ela só construída na década de 1950, por decorrência da construção da Usina da Cotia, localizado no Bairro Alto.
O projeto desta Usina era bem primitivo para os padrões atuais. O rio Cotia, no canyon entre o Pico Paraná e o Caratuva/Taipa/Ferraria foi represado formando o que hoje se chama de “Piscina dos Elefantes”. Dali saia tubos metálicos levando água que desciam o vale e alimentavam a usina quilômetros abaixo.
Esta primeira usina funcionou por cerca de 15 a 20 anos somente e foi abandonada quando entrou em operação a Usina Parigot de Souza, esta sim um mega projeto de engenharia que impressiona por sua ousadia.
A Usina Parigot utiliza as águas do rio Capivari, represado a 850 metros de altitude no primeiro planalto. Desta represa há uma captação que leva a água por um túnel subterrâneo que percorre 12 km no interior das montanhas. Dentro do Pico Paraná, este túnel sofre uma queda de cerca de 600 metros que alimenta as turbinas da represa na baixada litorânea.
Na construção desta usina, na década de 1960, foi cavado janelas auxiliares, por onde saiam o material detrítico do interior do túnel principal. Hoje estas “janelas” estão abandonadas no meio do mato, que consumiu também a estrada que dá acesso à ela e suas pontes.
Caminhando atualmente pela estrada da Conceição, que utilizou parte da antiga picada do Cristóvão, vemos indícios já “arqueológicos” destas obras recentes, engolidas pelo abandono e pela floresta que cresceu no antigo canteiro de obras.
Os tubos e aquedutos da Usina da Cotia parecem restos de um Eldorado antigo e a estrada e as pontes da usina mais recente também. As épocas se misturam e temos a impressão que aquelas obras seriam da época dos tropeiros que desciam a serra de mula.
Os garimpeiros ainda bateavam no rio Cachoeira, muitos eram escravos e seus senhores eram jesuítas, que ao saber da aproximação de uma expedição de portugueses à procura de seus tesouros, trancaram os escravos em jaulas no meio da floresta e fugiram com todo o ouro. Dizem que até hoje existem trilhas e pontes que levavam até a antiga vila no meio da floresta, da qual restaram apenas os trilhos dos vagonetes utilizados na lavra do metal precioso.
Confuso? Não, basta usar a imaginação.
Veja as fotos da minha ultima pernada pela região, na companhia de Edson “Du Bois”, Miriam Chaudon e Cacá Reis.