Blog do Pedro Hauck: Neblina na Graciosa

13 de outubro de 2011

Neblina na Graciosa

Na Serra do mar paranaense existem alguns passos entre os blocos montanhosos que foram históricamente utilizados como vias de passagem entre o planalto e o litoral. Um dos passos mais famosos é o da Graciosa, que recebe o nome errôneo de “Serra”, mas que na verdade é um passo de montanha: O ponto mais baixo entre dois picos pertencentes à mesma aresta, que no caso aqui é o ponto mais baixo entre duas serras: A Serra do Ibitiraquire e da Farinha Seca.

Por conta de ser um passo, a Graciosa é um dos locais que mais chove na Serra e isso não é difícil de explicar. O ar no planalto é sempre frio, mas no litoral é quase sempre quente e úmido. Esse ar proveniente do oceano invade o continente e o local onde as duas massas se encontram é sempre ali, naquele “buraco” chamado graciosa.

Ontem, feriado em plena quarta feira, não foi diferente e ao chegarmos ao Recanto Engenheiro Lacerda, nas orilhas do Morro do Sete na Estrada da Graciosa, fomos brindados por uma densa neblina e fina chuva.

Logo nossos trajes mateiros chamaram atenção dos vendedores de pastel e caldo de cana, que mostraram grandes conhecedores do mato da região, nos alertando sobre suas “pesquisas” onde falavam de tuneis dos jesuítas e cidades perdidas na Serra. É a imaginação popular se fazendo valer de fatos verídicos, como os túneis da usina Parigot de Souza. Um dos contadores de história foi além e disse que encontrou 600 kg de ouro! Mas foi roubado depois da descoberta e hoje vende cana na beira da estrada, que azar hein?

Deixando as lorotas pra trás, entramos na floresta pelo marco 22 da estrada da Graciosa e logo fomos enxugando com nossas roupas a umidade retida pelas folhas das plantas. É a Floresta Ombrófila Densa Montana, um dos ecossistemas da Mata Atlântica mais exuberante, com diversos andares de arvores e alto estágio de sucessão ecológica. As árvores mais altas, quase todas da família das Lauraceas, atingem facilmente os 40 metros de altura. Abaixo delas, há arvores mais baixas, que vivem à sombra das maiores, Xaxins e Palmitos são os mais comuns, ou pelo menos eram.

O Palmito é extraído violentamente naquela região. Natureza selvagem é apenas aparência, pois os palmiteiros e caçadores já estiveram em todos os lugares e vira e volta encontramos com vestígios de suas atividades, cartuchos de armas, acampamentos abandonados e lixo, que rapidamente são “comidos” pela floresta úmida.

Se por um lado os clandestinos conhecem cada palmo da mata, a ciência ainda sabe pouco sobre o lugar. Ali se desenvolve um tipo de planalto levemente ondulado onde a base dos rios está a mais ou menos 580 metros de altitude e os topos, coalhados de matacões e planos, se desenvolvem a 700 metros, indo perder altura na direção norte, ao sopé da pequena cordilheira dos morros Arapongas, Tangará e Cotoxós.

Descobrir detalhes sobre o relevo e as rochas deste planalto é o objetivo meu, de Edenilson Nascimento e Mikael Arnemann Batista, amigos da montanha e de pesquisas geológicas. Nossas dificuldades esbarram na densa vegetação que encobre afloramentos, nas constantes chuvas e até mesmo na presença dos ilegais, uma vez que não sabemos o que eles podem achar de nossa presença.

Há algum tempo, o Mikael e o Otaviano encontraram um homem armado na trilha, eles se esconderam, mas o encontraram mais tarde. O homem foi gentil, mas achou ruim que “turistas” colocassem fitinhas nas árvores. Eles nada disseram sobre a marcação das trilhas feitas por montanhistas.

Penetrando a densa floresta, fomos observando as rochas e o relevo planáltico, tecendo algumas considerações sobre sua curiosa origem, até que, de repente, a trilha sumiu no meio do mato.

Naveguei por algum tempo apenas com o GPS, que dizia por eu havia passado por lá alguma vez. Na verdade, a última vez que fiz isso foi em 2009, quando junto com o Fiori e o Elcio fizemos a travessia Fazenda da Bolinha x Ciririca x Estrada da Graciosa em dois dias. Naquela oportunidade, a trilha estava aberta, mas agora as taquaras, cipós e samambaias haviam tomado a trilha.

Confiando na margem de erro de nossa tecnológica ferramenta e com o faro na trilha, fomos encontrando o caminho por entre a vegetação e assim conseguimos chegar ao rio Mão Catira. Já era quase uma da tarde e ficaria muito arriscado tentar chegar a nosso destino naquele dia, o enorme dique de diabásio localizado uma hora caminhando por dentro do rio acima.

Deixamos o objetivo para outro dia e retornamos em silencio por entre a escuridão da floresta. No caminho de volta encontramos pegadas de outros visitantes e suas jaquetas penduradas num galho de arvore. O que será faziam ali?

A floresta da Graciosa esconde muito mais do que mitos de tuneis ocultos, ouro de Jesuítas e cidades engolidas pela selva. Esconde também muitos indícios sobre as origens e evolução da serra do mar e será um local onde voltarei muito mais vezes.

 É assim quase o tempo todo!

 Deni e Mikael no marco 22

 O marco e a estrada da Graciosa

 Dentro da floresta

 Matacões de granito





 Dique de diabásio






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